Sindicatos do mundo pregam união para vencer desafios do futuro do trabalho

Seminário internacional debate futuro do trabalho para que os trabalhadores não percam mais direitos; dirigentes sindicais internacionais fizeram coro ao grito por Lula Livre

Roberto Parizotti/CUT

O debate sobre o Sindicalismo do Futuro e os Impactos das Novas Tecnologias no Sul Global deu início nesta segunda-feira (7) aos trabalhos do 13º Congresso Nacional da CUT, que está sendo realizado na Praia Grande, e foi além da discussão sobre novas tecnologias. Para os representantes da África, América Latina e Europa que compuseram a mesa de discussões do 13º Concut, sem democracia, sem a contenção dos avanços da extrema direita no mundo e sem Lula Livre toda a luta dos trabalhadores pode ser comprometida.

Ao dar as boas vindas aos participantes, a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, lembrou que nos últimos anos o mundo vem caminhando para mais retrocessos aos direitos da classe trabalhadora. E que no Brasil, diante dos atos do governo de Jair Bolsonaro (PSL) para destruir o sindicalismo brasileiro e dos ataques aos direitos sociais e trabalhistas, é preciso agradecer a solidariedade internacional que a Central vem recebendo e o apoio por Lula livre.

“Precisamos da amizade que construímos ao longo da história da CUT com as organizações internacionais que compreendem o momento que passamos sob um governo de extrema direita que tira direitos dos trabalhadores, ataca os jovens, as mulheres e os indígenas”, declarou Carmen.

A dirigente, no entanto, avisou que “jamais a classe trabalhadora vai se curvar e a CUT, neste congresso, vai demonstrar uma firme disposição para resistir”.

Para Carmen, a democracia cumpre um papel fundamental na defesa dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, mas não se pode pensar num processo democrático no Brasil, sem Lula livre.

“Lula precisa ser libertado porque é inocente, não cometeu crime algum. Não queremos Lula solto com tornozeleira. Armaram contra ele para impedir que voltasse a governar este país”.

Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT, também agradeceu a solidariedade internacional tanto política como na luta pelos direitos dos trabalhadores e lembrou que a luta dos sindicalistas cutistas é a mesma que a dos companheiros de todo o mundo, em defesa da democracia, do trabalho decente de Lula livre.

“Nossa luta é contra o fascismo e o neoliberalismo e, por isso, o 13º Concut se chama ‘Lula Livre’. Com este Congresso pretendemos que os dirigentes saiam daqui e voltem às suas bases, aos sindicatos e aos seus locais de trabalho com mais informações para lutar contra a avalanche de perdas de direitos”, declarou.

Novas tecnologias

 

O representante da Fundação Friedrich Ebert (FES Brasil), Yesko Quiroga, acrescentou que a discussão sobre as novas tecnologias tem de vir junto com as discussões sobre globalização e o desenvolvimento demográfico que estão modificando as cadeias de trabalho.

“O avanço da direita, do retrocesso, da precarização com mais flexibilização está afastando a representação sindical porque os trabalhadores não se sentem mais como trabalhadores. Foi incutida a ideia de que somos colaboradores das empresas”, criticou o dirigente da FES Brasil.

SegundoYesko, instituições de pesquisa coincidem numa visão pessimista de perda de empregos e precarização dos trabalhos, principalmente na América Latina.

“Para enfrentar os efeitos negativos, para ter trabalho decente precisamos de novas estratégias sindicais. O sistema sindical está debilitado. É preciso ter acesso a um sistema social forte e consistente que defenda os menos favorecidos, mas sem movimento sindical isto não vai acontecer”, declarou Yesko.

O representante da África do Sul, Rasigan Maharajh, do Instituto de Pesquisa Econômica em Inovação (IERI), fez um relato histórico de como as mudanças tecnológicas, desde a revolução industrial até hoje, afetam a vida dos trabalhadores. Segundo ele, desde o século 18 a humanidade tem aumentado sua capacidade de produzir coisas, e em cada uma dessas ondas de produção massiva de riqueza se diminuiu a distribuição e aumentou a concentração de renda.

“Da revolução industrial até hoje produzimos 3 mil vezes mais, mas não há distribuição quantitativa . No mundo somente 42 milhões de pessoas, ou 0,8% do total controlam quase 45% de toda a riqueza produzida. São US$ 143 trilhões nas mãos desta pequena parcela, enquanto 2/3 da população mundial fica com apenas 2% do que é produzido”.

De acordo com Rasigan, uma nova onda tecnológica se aproxima, mas está nas mãos dos que detém o capital, aumentando a exploração e o acúmulo de riqueza.

“A resposta a esses ataques tem de vir dos sindicatos, mesmo vivendo sob um momento que não é exatamente amistoso aos trabalhadores. A tecnologia é resultado da produção humana, mas tem sido expropriada de nós. Isto não é nada diferente do que havia no começo da revolução industrial”.

A liberdade do ex-presidente Lula, mantido preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde abril do ano passado, os novos desafios da classe trabalhadora diante do avanço do neoliberalismo e as novas tecnologias também foram citados pela presidenta da Central Única dos Trabalhadores do Chile, Barbara Figueroa.

Segundo ela, o grande desafio da América Latina é avançar a um sindicalismo que não seja apenas uma política local, mas continental. Por isso, é preciso lutar contra a reforma da Previdência no Brasil, em defesa da aposentadoria e pela democracia.

“Não basta apenas olharmos para as novas tecnologias mas sim, unir a classe trabalhadora do Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Precisamos de Lula Livre para lutarmos pelo fortalecimento de toda a democracia na América Latina . E para isso, é preciso fazer uma greve continental que nos permita mostrar a força dos trabalhadores”, defendeu a chilena.

O dirigente da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB Alemanha), Andreas Botsch, reafirmou a luta dos sindicatos do seu país por Lula Livre.

Já sobre os desafios das novas tecnologias no mundo do trabalho, Botsch disse que o aumento da produtividade está se dando às custas dos salários e da destruição do planeta.

“Estamos passando por mudanças climáticas dramáticas, maior do que pensávamos e quem sofre as primeiras consequências são os povos dos países subdesenvolvidos, mas o sofrimento também vai chegar para os povos dos países mais desenvolvidos”, alerta.

Para ele, o mundo vai enfrentar o “dia do julgamento final” porque o medo sempre foi mau conselheiro.

“As pessoas têm medo do futuro, se terão trabalho. Eu não acho, são os humanos que criam as máquinas e por isso que devemos falar não do trabalho do futuro, mas do futuro do trabalho”.

Para o dirigente, é preciso que a flexibilização do trabalho seja feita de forma que os trabalhadores tenham mais tempo de lazer, de estudo e capacitação e não para exploração da mão de obra.

“É preciso mudar nossa mentalidade para sermos capazes de ser sujeitos desta mudança e não vítimas. Mas, isto não acontece automaticamente. É necessária a promoção de novos empregos e políticas sociais para quem não conseguirá encontrar um novo emprego”, acredita Botsch.

Victor Baez, da Confederação Sindical Internacional (CSI) vê com preocupação o mau uso das novas tecnologias. Ele citou como exemplo, a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República no Brasil.

“A inteligência artificial é uma ferramenta que fez um burro chegar a presidência da República”, disse se referindo a Bolsonaro.

“A inteligência artificial está nos fazendo acreditar que para ser embaixador do Brasil é preciso saber fritar hambúrguer”, disse o dirigente, numa crítica a indicação de Eduardo Bolsonaro, filho zero três do atual presidente , à embaixada brasileira nos Estados Unidos.

O dirigente criticou ainda o uso da tecnologia para que os empresários ganhem ainda mais dinheiro. Citou como exemplo, um taxista que hoje é obrigado a utilizar 2, 3 aplicativos de transporte para conseguir complementar sua renda.

“O trabalhador não tem direitos. Hoje ele trabalha num país, mas quem administra esses aplicativos são chineses, espanhóis, cujas sedes não ficam onde as pessoas trabalham e eles não têm proteção sindical”, criticou.

Por CUT

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