Toyota decide fechar sua primeira fábrica no Brasil, em São Bernardo

Trabalhadores se mobilizam contra decisão, considerada “irresponsável” pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “Governo federal não tem política para indústria”, critica dirigente sindical

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Governo Bolsonaro não tem política industrial

Sessenta anos de história estão prestes a ser descartados pela Toyota do Brasil, que anunciou o encerramento das atividades da unidade fabril de São Bernardo do Campo (SP), a primeira da companhia fora do Japão. Os trabalhadores locais aprovaram a entrega de aviso de greve e estado permanente de mobilização contra o fechamento da fábrica, medida considerada “irresponsável” pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

A Toyota iniciou as atividades em São Bernardo em 1962, fabricando o jipe Bandeirante. Mas a trajetória da companhia japonesa no Brasil começou antes, em 23 de janeiro de 1958, no bairro paulistano do Ipiranga, onde começou a ser montado o Land Cruiser FJ-25, a variante do J20 que gerou o Toyota Bandeirante, hoje um ícone fora de estrada.

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Em 2001, a Toyota transferiu sua sede administrativa de São Bernardo para Sorocaba. Na cidade do ABC a companhia passou a produzir componentes destinados às demais fábricas da empresa no Brasil, Argentina e Estados Unidos, além de peças de reposição para carros fora de linha.

Agora, a linha de montagem será transferida para Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, todas no interior de São Paulo, em uma operação gradual entre dezembro de 2022 e novembro de 2023. A unidade a ser fechada tem 550 funcionários e, segundo a Toyota, “o movimento prevê manutenção de emprego, ou seja, será oferecida oportunidade aos colaboradores que hoje trabalham na operação do ABC paulista”.

Em nota, a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC disse ter recebido com surpresa o anúncio do fechamento. A entidade defende que não há motivos plausíveis para o fechamento da planta industrial.

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“Nos últimos anos, em toda as negociações com o Sindicato, a Toyota vinha insistindo que a planta não fecharia e que havia planos para a unidade e seus trabalhadores. A empresa chegou a comunicar o Sindicato que os produtos atuais garantiriam a permanência da fábrica pelos próximos três anos e afirmava que a unidade era produtiva, competitiva e lucrativa”, afirmam os dirigentes sindicais no documento.

O presidente da entidade, Moisés Selerges, desafiou o presidente da Toyota a sentar para conversar com os trabalhadores e buscar uma alternativa ao encerramento das atividades. “Há muito tempo o sindicato vinha cobrando investimentos na planta em São Bernardo. Espero que a Toyota tenha responsabilidade e venha para a mesa de negociação”, comentou.

“O fechamento não prejudica só os trabalhadores na empresa, mas toda uma rede de fornecedores, milhares de empregos podem ser perdidos” prosseguiu Moisés. “Vivemos em uma conjuntura onde a política industrial é desprezada, tanto pelo governo do estado como pelo governo federal. Vamos iniciar um processo de luta e resistência.”

O economista Marcio Pochmann chamou a atenção para a notícia. “Após a Ford, agora é a planta da Toyota em São Bernardo do Campo que desiste de produzir, deixando 550 pais de famílias no desemprego”, lamentou em postagem no Twitter o presidente da Fundação Perseu Abramo entre 2012 a 2020.

Wellington Damasceno: “Governo federal promove disputa desleal entre estados”

O diretor administrativo do sindicato, Wellington Messias Damasceno, ressaltou que a empresa tem total condição e capacidade de discutir e achar um caminho para a manutenção da planta em São Bernardo. “O sindicato nunca abriu mão dessa discussão. Ao contrário, estamos o tempo todo pautando a empresa sobre a disposição de fazer um acordo de longo prazo e que dê longevidade para esta planta”, afirmou o dirigente, que acompanha as discussões na Toyota.

Wellington contou que a empresa alega otimização, que pretende concentrar a operação em um único lugar e que não está fechando a planta, mas sim “transferindo as operações para Sorocaba”. “Está fechando sim. Com essa decisão a Toyota está desonrando um compromisso, está manchando sua história no Brasil e no mundo. Não está preocupada com os empregos, com as pessoas, com as famílias que construíram seus sonhos aqui na região. Qualquer justificativa não é aceitável”, argumenta.

O dirigente também criticou as posturas do governo estadual e do desgoverno Bolsonaro. “Tentamos o tempo todo emplacar discussões com o governo do estado. Quando falamos da Toyota, eles menosprezaram a importância dos cinco mil empregos. Já o governo federal promove inclusive disputa desleal entre outros estados e não tem política de indução, de crescimento da indústria”, apontou Damasceno, lembrando que outras empresas da base também são motivo de preocupação, pela inexistência de política industrial.

Da Redação

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