Trabalhadores discutem a reindustrialização do Brasil

Industriários abrem série de debates sobre o setor e apresentam documento com diretrizes para próximo governo. “Esse país precisa se reindustrializar”, defende Lula

Foto: Carolina Lima

O seminário Futuro da Indústria: Desafios da Política Industrial foi realizado na última quinta-feira (18) (Foto: Carolina Lima)

Trabalhadores de diversos setores industriais resolveram assumir o protagonismo do debate sobre a reindustrialização do Brasil, após os retrocessos ocorridos desde o golpe de 2016. O seminário Futuro da Indústria: Desafios da Política Industrial, realizado na última quinta-feira (18), no auditório do Sindipolo, em Porto Alegre, foi o primeiro de uma série de 11 encontros setoriais e um internacional que discutirão o tema.

Lançada em novembro de 2020 pela CUT e Força Sindical, a IndustriALL Brasil promove os encontros em parceria com a SASK (Suomen Ammattiliittojen Solidaarisuuskeskus) e a IndustriALL Global Union. “Precisamos pensar a indústria a partir do que ela serve”, disse o presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo da Silva, na abertura do evento.

Durante o evento foi apresentado o ‘Plano Indústria 10+’. O documento reúne um conjunto de diretrizes proposto pelo movimento sindical para orientar o próximo governo sobre a elaboração de políticas, programas e ações para o desenvolvimento produtivo e tecnológico do país.

Entre as diretrizes do documento estão: criação e articulação da demanda social; fortalecimento produtivo, inovação e modernização tecnológica; política tributária, macroeconômica, de financiamento e de comércio exterior; gestão e controle social.

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“A indústria é matriz econômica, tecnológica e social. Os trabalhadores precisam se apropriar desse debate e discutir o futuro da indústria no país”, defende o líder da IndustriALL Brasil. Para ele, é importante aglutinar as ações para avançar mais e melhor, pois o Brasil vive uma política, bem pensando, de antiindústria.

“Vamos buscar na convergência o caminho para manter o setor forte, moderno e preparado para as transformações tecnológicas e levando em conta a questão ambiental”, enfatizou Aroaldo. “Só assim iremos garantir os empregos e a qualidade de vida dos brasileiros.”

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Ainda na abertura, o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), Loricardo de Oliveira, destacou que o seminário seria modelo para outros estados. “É uma grande rodada que termina em setembro num encontro internacional. Por isso, é fundamental debatermos a indústria que queremos”.

Recortes regionais e disposição ao diálogo

Os seminários analisarão os problemas da indústria brasileira a partir de recortes regionais. Técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Douglas Ferreira apresentou o panorama da indústria no Brasil e no Rio Grande do Sul. “Nos últimos anos, 17 empresas são fechadas por dia”, destacou o economista, ressaltando que o setor ainda mantém sua importância.

A indústria corresponde a 22% do PIB do país, 21,2% do emprego formal e 20,3% da massa salarial do Brasil, empregando 7,1 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. O Rio Grande do Sul ocupa o 5º lugar no PIB industrial do país e o 4º de modo geral. A participação do setor no emprego no estado é de 22%. Douglas apontou ainda o efeito multiplicador do setor, afirmando que “a cada R$ 1,00 investido, o retorno é de R$ 2,63”.

Coordenador do Macrossetor da Indústria da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Claudir Nespolo também apresentou um diagnóstico da indústria no estado. Para ele, “indústria não são somente os industriais”. “A indústria são as máquinas, os equipamentos, a tecnologia, os industriais e os trabalhadores. Nós também somos indústria. Por isso, estamos aprofundando o debate sobre o futuro da indústria.”

“Nós queremos uma indústria com emprego decente, financiamento, mas discutindo com os trabalhadores. e que ajude a responde as demandas do povo brasileiro”, salientou Claudir, também secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS. “Temos que ter uma política industrial para atender as necessidades da população.”

Destacando a importância da unificação da classe trabalhadora, o presidente do Sindicatos dos Químicos do ABC e secretário geral da IndustriALL, Raimundo Suzart, afirmou que as entidades patronais sempre querem dividir a classe trabalhadora. “Juntos somos fortes e os patrões sabem disso”, acredita.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sitracom), Adriana Machado, defendeu a necessidade de valorizar a mulher dentro da indústria. “Nós sempre ganhamos menos e somos as primeiras a ser demitidas”, destacou a dirigente.

Tesoureiro da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (FTM-RS), Milton Viário lembrou que pensar a indústria é pensar o Brasil. “Temos de debater com os capitalistas e ter clareza que não tem como avançar na indústria se não tiver a presença no estado.”

Após o Rio Grande do Sul, o Seminário Futuro da Indústria – Desafios da Política Industrial terá encontros em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará, Manaus, Goiás e São Paulo. Ao final, o resultado dos debates será apresentado no encontro internacional.

Lula, na Fiesp: Estado deve atuar como agente do desenvolvimento

A criação de políticas que estimulem a reindustrialização do Brasil foi defendida por Luiz Inácio Lula da Silva e seu candidato a vice, Geraldo Alckmin, durante encontro com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no último dia 9. “Nosso programa de governo passa por compreender que esse país precisa se reindustrializar”, destacou Lula.

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Ao lado de Josué Gomes, presidente da Fiesp e filho de José Alencar, que foi seu vice nos dois mandatos, Lula ressaltou a importância de o Estado atuar como agente do desenvolvimento. Ele afirmou ainda que a sociedade precisa discutir que tipo de emprego o país vai criar no contexto de indústria digital – item presente nas diretrizes do programa de governo do Movimento Vamos Juntos pelo Brasil.

“Vou repetir três palavras que fazem parte do meu dicionário: credibilidade, estabilidade e previsibilidade. Qualquer governante, se não tiver essas três palavras permeando o comportamento dele, o governo não dará certo”, prosseguiu Lula. Sobre a atual situação do Brasil, que ele considera pior hoje do que em 2003, quando iniciou o primeiro mandato, Lula disse ser preciso voltar à normalidade, com cada uma das instituições atuando na esfera que lhe cabe.

“Ninguém quer desmontar o que está dando certo. O que a gente quer é fazer com que as coisas que não estão certas fiquem certas”, ponderou. O ex-presidente lembrou que ouvia governadores, prefeitos e empresários, além de movimentos sociais e entidades sindicais, na definição das políticas em seus governos, como fará num eventual novo mandato, e disse ter orgulho do que fez em suas gestões. Somadas, disse ele, as políticas públicas de seus governos deram vultoso investimento ao país.

Lula destacou políticas de seu governo, como a criação do maior programa de infraestrutura da história, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e ressaltou também a necessidade de o desenvolvimento respeitar a questão ambiental.

“Nós fizemos aquilo que a sociedade nos incentivou a fazer. Muitas das políticas públicas foram deliberadas no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Todas as políticas foram tiradas de 74 conferências nacionais. É por isso que o país deu certo”, finalizou.

Da Redação, com informações da CUT

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