Variante brasileira da Covid-19 se espalha por países vizinhos
Nova cepa acelerou contágio na Argentina, Peru, Paraguai, Bolívia e Colômbia. No Brasil, quadro é de descontrole, com recorde diário de 3.780 mortes
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Os alertas de autoridades de saúde sobre a ameaça do descontrole sanitário brasileiro à América do Sul, agora agravado por uma crise institucional criada por Jair Bolsonaro, foram em vão. A variante P.1., inicialmente identificada em Manaus, está contribuindo para acelerar os contágios em países vizinhos. A nova cepa já foi identificada em Buenos Aires e Córdoba (Argentina), Lima (Peru), inclusive com casos de transmissão comunitária, caso da Argentina, além de regiões do Paraguai, Bolívia e Colômbia.
A explosão de casos levou os governos locais a aumentarem as restrições ao Brasil. No Peru, por exemplo, o governo aponta que 40% dos novos casos em Lima se devem à nova cepa brasileira. No Paraguai, além da P.1, a variante carioca P.2 também circula em várias cidades.
“Temos uma frase que usamos muito em economia, mas também serve para epidemiologia, que é: ‘Quando o Brasil espirra, o Paraguai pega pneumonia’. Isso aconteceu com dengue, influenza e agora com covid”, observa o diretor geral da vigilância sanitária do Paraguai, Guillermo Sequera, em depoimento ao Valor.
“A alta importante que se vê na maior parte dos países da América do Sul, sem dúvida, está sendo impulsionada também pelas novas variantes”, diz o especialista do Colégio Médico do Chile, Cristóbal Cuadrado. “A situação epidemiológica atual é fruto da rápida propagação da P.1 e da débil resposta dos países em manter as fronteiras abertas, mesmo sabendo da circulação dessas cepas”, criticou.
Peru, Paraguai e Uruguai bateram recordes de novas infecções, além de registrarem uma aceleração nas mortes. Argentina e Chile também entraram em um pico de novos contágios.
Descontrole e recordes de mortes
Enquanto isso, o Brasil segue no ritmo intenso de descontrole das contaminações e caos nos hospitais, com pacientes morrendo diariamente à espera de um leito de UTI. Nas últimas 24 horas, o país bateu 3.780 óbitos, consolidando um quadro de desastre contrário à direção do mundo.
O país lidera o ranking de óbitos mundiais. Mas não é só. O número de mortos supera o de 10 países na lista de vítimas fatais que, juntos, somaram 3.742 mortos.
Funerárias apontam 5 mil mortes ao dia
Por causa das subnotificações, em função de registros de pessoas que morreram por complicações respiratórias sem, no entanto, apresentarem testes positivos para Covid-19, estima-se que o patamar de mortos seja maior. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores Funerários (Abredif), Lourival Panhozzi, o país ja ultrapassou a barreira dos 5 mil óbitos no mês de março.
“O número final deve ultrapassar a 5.500 mortes por dia, o que torna a situação ainda mais delicada. O prazo legal para registro de todos os óbitos de março, que ainda nem terminou, só acaba em 15 de abril”, declarou Panhozzi ao jornal O Globo.
Fiocruz: ocupação de leitos segue em alta
Nesta quarta-feira (31), novo boletim da Fiocruz alerta que 17 estados e o DF apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI acima de 90%. “Houve na última semana uma aceleração da transmissão de Covid-19 no Brasil, demonstrado pelo aumento recorde no número de casos e óbitos, além da permanência de valores altos de positividade dos testes”, aponta o boletim extraordinário Observatório Covid-19.
“A sobrecarga dos hospitais, principalmente observável pela ocupação de leitos de UTI, se mantém em níveis críticos”, adverte a entidade. A Fiocruz observa ainda que a desfasagem entre medidas de combate e os números divulgados explica a gravidade do quadro. “É importante lembrar que as medidas de restrição de mobilidade, adotadas nos últimos dias por diversas prefeituras e estados ainda não produziram efeitos significativos sobre as tendências de alta de todos os indicadores que vêm sendo monitorados pelo Observatório Covid-19 da Fiocruz.
Da Redação, com informações de Valor, Estado de Minas e Fiocruz