Wanderson Pimenta: Novos modelos organizativos e o partido “pedagógico”

É muito comum a esquerda reivindicar um programa socialista, mesmo que a definição do termo seja sempre deixada para depois. A tentativa de esmiuçar o socialismo que pregamos me parece…

É muito comum a esquerda reivindicar um programa socialista, mesmo que a definição do termo seja sempre deixada para depois. A tentativa de esmiuçar o socialismo que pregamos me parece bastante acertada, sobretudo, quando buscamos desenvolver o conceito. Em um esforço moderado de análise, o socialismo seria um modelo político que acabaria com as desigualdades sociais, primeiro.

Segundo, os direitos humanos, nas suas mais variadas vertentes, seriam respeitados de modo absoluto. Em terceiro lugar, não existe socialismo sem a luta ecológica e nem existe organização política que esteja sintonizada com os desafios presentes e futuros que não priorize um programa radicalmente ambientalista. A atenção especial  aos movimentos que representam as demandas dos novos atores e atrizes do cenário: os movimentos feminista, negro, LGBT, pessoas com deficiência, quilombolas etc, seria um quarto ponto. Quinto, atenção especial aos novos modelos organizativos, apresentado a seguir. E, por fim, o partido “pedagógico”, outro aspecto a requerer um parágrafo em separado.

Dos pontos elencados acima gostaria de considerar nesse momento dois: os novos modelos organizativos e o partido “pedagógico” como questões que devem ser bem analisadas pela esquerda socialista e pelo PT.

Do ponto de vista dos “novos” modelos organizativos, cito as experiências grega e, principalmente, espanhola. Syriza e Podemos, respectivamente. A frente política que levou um partido de esquerda tido como radical ao Governo da Grécia há poucos meses chamou a atenção da esquerda no mundo todo. Syriza, na Europa, tem algumas semelhanças com o PT no Brasil e está agora diante do dilema que o PT enfrentou no Brasil nesses últimos 12 anos: gerir o Estado capitalista a partir de uma perspectiva de esquerda é possível? São possíveis mudanças estruturais sem rupturas? O Syriza grego parece agregar setores atingidos pela crise econômica na Europa que são, principalmente, os jovens e a classe média que titubeia a cada eleição, pendendo em um momento para um lado e depois para outro.

Já o Podemos é a grande experiência organizativa dos novos tempos. Constituído há pouco tempo a partir de espaços participativos de elaboração coletiva se considera um partido-movimento. Sua base social parece ser parte da juventude que sofre na pele a crise, a intelectualidade progressista, setores médios urbanos etc. O Podemos apresenta um programa de natureza socialdemocrata, mas que se considera capaz de propor rupturas com os modelos arcaicos vigentes. Nos últimos meses se constituiu numa força eleitoral sem precedentes na Espanha.

Aponto esses novos partidos da esquerda europeia que emergiram em um cenário em que a política foi completamente sequestrada pelo capital e a luta parlamentar foi completamente fragilizada como modelos a serem estudados pela esquerda, sobretudo aquela que atua dentro do PT. Imerso na maior crise política da sua história, a perda de vitalidade parece ser um dos nós a ser desatado pelo partido, quando o mesmo se torna prisioneiro de sua própria estrutura.

O PT precisa se preparar para os novos e os velhos desafios, portanto, precisa rever o seu modelo organizativo. De repente, o PT deveria abrir o seu espaço interno para além dos filiados; a partir de critérios democráticos, o PT deveria permitir que a eleição das suas instâncias fosse amplamente democratizada, a partir da participação de simpatizantes no processo e, de uma vez por todas, eliminar as práticas burocráticas que esterilizaram o PT. As etapas livres do Congresso do PT me pareceram iniciativas a serem estimuladas.

Um Partido “Pedagógico”
Nós, da esquerda, temos uma prática “professoral”. Conhecemos de certo modo “o caminho, a verdade e a vida”. De certa forma, a nossa pregação anticapitalista parece ser um programa a ser seguido por outrem e não por nós mesmos. Por exemplo, o “consumismo” que é um dos aspectos mais nefastos do atual modelo, enraizado a partir da criação diária de “necessidades” não necessárias, estimulando a compra desenfreada de bens, objetos etc, absolutamente supérfluos deve ser, aqui, analisado por nós de modo diferenciado.

O que temos feito do ponto de vista pedagógico, na acepção ampla do termo, para que possamos dar o exemplo de que um modelo político e econômico alternativo seja possível? Nesse sentido, Jose Mujica, ex-Presidente do Uruguai, é um personagem não apenas “franciscano” de que é possível fazer política com viabilidade eleitoral sem abrir de princípios e que isso não envolve nenhum sacrifício, guardadas as devidas proporções entre Uruguai e Brasil. Sendo assim, é absolutamente condenável a prática de muitos dos nossos dirigentes políticos, parlamentares e membros dos Governos que passaram a ser os “novos ricos”. Em nossa avaliação, o PT deve dar exemplo e os seus membros, estejam em governos, mandatos etc ou não, não podem levar uma vida diferenciada da maioria do nosso povo. Portanto, é preciso combater práticas do atual modelo econômico dentro do próprio partido, enraizadas a partir da chegada aos governos.

Em apertada síntese o PT precisa adotar um novo modelo organizativo que retire o peso da burocracia na sua vida interna, um partido-movimento, pois o PT precisa de vitalidade para sobreviver; os petistas precisam resgatar as práticas que caracterizaram a esquerda no mundo, ou seja, o combate ao que há de errado lá fora, mas também aqui dentro. O PT deve ser um partido pedagógico.

Wanderson Pimenta é advogado, membro da Direção Estadual do PT – Bahia e da Direção da Militância Socialista

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