Inflação e dólar despencam e levam junto desculpa do BC para manter juros abusivos

“Não tem mais como sustentar, Campos Neto”, diz Gleisi Hoffmann. “Se continuar sabotando a economia do país, o próximo a despencar tem que ser o presidente do BC, defende o vice-líder do governo na Câmara, Alencar Santana

(Imagem: Beto Nociti - Site do PT)

O Banco Central nas cordas: argumentos para manter juros na estratosfera não param em pé

Contra fatos não há argumentos, diz o ditado, principalmente se estes forem um amontoado de meias verdades e puro diversionismo. É nisso que aposta o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao tentar distrair a realidade para manter a taxa de juros em 13,75%. Aos fatos: a inflação anual do país ficou abaixo de 5% pela primeira vez em dois anos. Em março, o índice desacelerou para 0,71%, ante os 0,84% de fevereiro, contrariando projeções do mercado financeiro, que indicavam 0,77%, conforme divulgou o IBGE, na terça-feira (11).

No acumulado de 12 meses, a inflação caiu de 5,6% em fevereiro para 4,65% em março. O dólar voltou a romper a barreira dos R$ 5, chegando a ser negociado a R$ 4,95 nesta quarta-feira (12), puxado também por uma queda da inflação nos EUA. Novas projeções indicam que a moeda americana pode seguir caindo para R$ 4,70 em breve. Ou seja, o país se encontra em um ambiente mais do que propício para que o Banco Central inicie uma trajetória de queda dos juros, criando as condições para alavancar o crescimento com geração empregos.

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O que faz Campos Neto, no entanto? Apela a um economês de quinta categoria para explicar o inexplicável. Na manhã desta quarta, o dândi do capital financeiro saiu-se com essa: de fato, a inflação caiu, mas “pressões” permanecem, com um componente de demanda “relativamente forte”. Não convenceu nem quem acredita em Papai Noel.

Argumentos de Campos Neto não se sustentam

“Com inflação em desaceleração, valorização do real e a economia patinando pela falta de crédito e investimentos qual vai ser a desculpa agora do Banco Central pra não baixar os juros?”, questionou a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pelo Twitter. “Não tem mais como sustentar, Campos Neto”,  criticou.

“A inflação despenca, o dólar despenca e até o reino mineral sabe que não existe inflação por demanda no Brasil”, desmentiu o deputado federal e vice-líder do governo Lula na Câmara, Alencar Santana (PT-SP), também pelo Twitter.

“Se continuar sabotando o governo e a economia do país, o próximo a despencar tem que ser o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto”, defendeu o parlamentar, ao comentar uma manchete da editoria de Economia do G1 de terça: “Dólar despenca e vai a R$ 5, com inflação abaixo do esperado no Brasil”.

É preciso subir as metas de inflação

Economistas de formações distintas, inclusive ex-diretores do Banco Central, defendem que é preciso rever as metas de inflação para aliviar a pressão sobre os juros. A meta atual, de 3,25%, com previsão de cair para 3% em 2024, tem sido constantemente perdida pelo Banco Central, razão pela qual a economia do país patina para melhorar sua produtividade, sem geração de empregos, oferta de crédito e atração de investimentos.

“Nossa economia real precisa de oxigênio”, escreveu o economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia, ao analisar os índices de inflação e a queda do dólar, pelo Twitter. “Os fundamentos reforçam espaço cada vez maior para reduzir o aperto monetário”, alertou.

País sem produtividade

“O Brasil foi reduzindo a meta de inflação  ao longo do tempo e, se dependesse do próprio Banco Central, reduziria ainda mais”, relatou o economista, doutor em Economia e coordenador do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Nelson Marconi, em depoimento à Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, na manhã desta quarta.

“Como é que a gente reduz a meta de inflação em um país que não aumenta a produtividade?”, questionou Marconi. “Reduzir a meta de inflação só pode dar certo quando a produtividade está aumentando. País que não cresce a produtividade não aumenta”, ponderou.

“Só vamos ter meta menor depois de fazer a reforma administrativa. Antes disso não dá para ter corte de custos, então não dá para ter inflação tão baixa”, defendeu o ex-diretor de Política Econômica do BC, Sérgio Werlang, logo no início do mandato de Lula, à CNN. “Temos que mexer nisso para não virar uma bola de neve”, advertiu.

Da Redação, UOL

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