BC reforça chantagem do capital financeiro por cortes em políticas sociais

Divulgada pelo Banco Central nesta terça (12), ata do Comitê de Política Monetária chantageia o governo Lula mais uma vez, ameaçando manter a Selic nas alturas; patamar atual é de 11,25% ao ano

Raphael Ribeiro/BCB

O BC, mais uma vez, escancara o descaso com as condições de vida da população

O Banco Central (BC) divulgou, nesta terça-feira (12), a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) contendo as motivações da decisão da semana passada que elevou a taxa básica de juros (Selic) ao patamar extorsivo de 11,25% ao ano, situando o Brasil como o país com o terceiro maior juro real do mundo. O documento reverbera as ameaças do capital financeiro, endossadas pelo colegiado do BC, liderado pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, e condiciona o recuo da Selic à promoção de cortes em políticas públicas com as quais o governo Lula tem conseguido melhorar as condições de vida de milhões de brasileiros.

No comunicado, o Copom chega ao ponto de tentar enquadrar o governo na agenda neoliberal, exigindo retrocessos em um projeto de país que foi vencedor nas urnas. “Mencionou-se que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode inclusive ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos”, afirma a ata.

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Descaso

O BC, mais uma vez, escancara o descaso com as condições de vida da população, ao apontar avanços como o crescimento dos empregos e da renda das famílias como nocivos à economia. Ao mesmo tempo, omite os impactos nefastos do nível atual da Selic, que obriga o governo a gastar centenas de bilhões de reais com o pagamento dos juros da dívida pública, favorecendo apenas a multiplicação dos lucros da especulação financeira.

“A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada. Em síntese, não se observa alteração relevante no cenário de crescimento prospectivo em relação à reunião anterior”, reconhece.

Prejuízos desnecessários

Em nota divulgada na última quarta-feira (6), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já havia recebido com “indignação” a segunda alta seguida da Selic e ponderou que a inflação segue dentro do limite da meta, mesmo com incidências alheias à política monetária sobre os preços.

“Trata-se de mais uma decisão extremamente conservadora da autoridade monetária. Isso porque o nível em que a Selic se encontrava antes da reunião já era mais que suficiente para manter a inflação sob controle. É importante observar que a inflação tem sido impactada por fatores sobre os quais a política monetária não tem efeito”, condenou a CNI.

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O setor da indústria tem-se notabilizado pela expansão dos empregos nos últimos meses, muito por conta do programa Nova Indústria Brasil (NIB), lançado pelo governo federal em janeiro. São mais de R$ 1,6 trilhão em investimentos públicos e privados até 2029.

“Por isso, a elevação na Selic apenas irá trazer prejuízos desnecessários à atividade econômica, com reflexos negativos em termos de criação de emprego e renda para a população”, conclui a nota.

Fatores alheios à política monetária

Entre alguns dos fatores externos argumentados pelo BC para elevar a Selic, estão a eleição do magnata republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a consequente introdução da nova política econômica, com as prometidas barreiras às importações brasileiras, e a provável desaceleração da economia estadunidense.

O Copom disse ainda que andou analisando “com maior profundidade” o desempenho da China. O governo comunista acaba de anunciar US$ 1,5 trilhão de estímulo à atividade econômica. No entanto, tais medidas poderiam apenas exercer, sustenta o colegiado, “algum suporte ao crescimento de curto prazo, mas permanecem desafios para o crescimento de médio prazo”.

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Da Redação, com informações do Banco Central e da CNI

 

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