Bolsonaro quer a volta de tratamentos com eletrochoques na Saúde

Ex-ministro da Saúde, o deputado Alexandra Padilha condenou os retrocessos nas políticas do ministério na questão da saúde mental

Jair Bolsonaro (PSL) vem anunciando retrocessos desde o primeiro dia de mandato. Redução do salário mínimo, subserviência na política externa, educação para poucos e a retirada da população LGBT da Política de Direitos Humanos são só alguns dos absurdos do primeiro mês do desgoverno, sem contar os escândalos de corrupção. E como o que é ruim pode piorar, foi anunciada uma política pública na área da saúde que leva o Brasil com uma passagem só de ida para a Idade Média.

Um documento oficial do Ministério da Saúde, publicado esta semana, libera a compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia, os famosos eletrochoques, e reforça a possibilidade da internação de crianças em hospitais psiquiátricos. O texto traz ainda mudanças na política de saúde mental, álcool e outros tipos de drogas e ainda tira o peso do processo de redução de danos, adotado no Brasil há três décadas.

Em reportagem publicara no Estadão nesta sexta-feira (8), a professora da Universidade de Brasília (UnB), Andrea Galassi, define a prática. “Trata-se de retrocesso sem precedentes e uma amostra da preferência por intervenções autoritárias nessa área”. Ex-ministro da Saúde, o deputado federal Alexandre Padilha define a prática de eletrochoques como “muito grave”.

Para Padilha, a decisão do desgoverno Bolsonaro é totalmente retrógrada. “Tem duas grandes questões em jogo. Primeiro é em questão aos valores, visões de mundo. Tem gente que acha que loucura tem que ser presa, loucura tem que ser torturada, que quem sofre de transtorno mental tem que ser desrespeitado. É a reedição dos tempos bíblicos, dos necrosários, da exclusão de quem era necroso no seio da sociedade, é a reedição dos tempos da ditadura, dos manicômios que eram entulhos de pessoas”, criticou.

Ainda segundo o deputado, o modelo defendido por Bolsonaro só agrava a situação de pessoas com doenças mentais. “Nós temos que reafirmar que loucura não se prende, que a liberdade faz parte da terapia de quem sofre o transtorno mental. A prisão, a exclusão da família, a retirada da identidade enquanto pessoa é uma das piores coisas que pode acontecer para quem tem transtorno mental.”

Cópia da ditadura

Curiosamente, a opção de Bolsonaro por uma política medieval coincide com a visão que os militares tinham na ditadura. “Tem uma outra questão em jogo também, que é o interesse financeiro e econômico. Durante a ditadura, os manicômios foram um grande mercado de ganho de dinheiro para donos de hospitais manicomiais, porque era uma internação de baixo custo exatamente porque se tratava muito mal as pessoas, de longa duração e de alto retorno financeiro para quem era dono do hospital. Fazia com que os recursos públicos do ministério da Saúde e do Inamps fossem drenados para os donos desses hospitais”, explicou o ex-ministro.

O petista, por sua vez, lembrou dos avanços dos governos do PT e a valorização de um tratamento humanizado. “Com o movimento que nós fizemos nos governos Lula e Dilma, fizemos uma inversão desses dados. Só para se ter uma ideia, em 2003, quando o Lula assume 80% dos recursos que saíam do ministério da Saúde para o tratamento do transtorno mental eram direcionados para hospitais psiquiátricos e 20% para serviços fora do ambiente hospitalar, quando terminou a minha gestão no ministério da Saúde, em 2014, isso já teria se invertido”, destacou.

Da Redação da Agência PT de Notícias com informações do Estadão

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