Bolsonaro sabota Ministério da Saúde para tentar impor política genocida
Para o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, “com método e paciência, Bolsonaro vai destruindo o Brasil e semeando a morte e o descrédito”
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A demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, na sexta-feira (15) escancarou a irresponsabilidade do governo federal na condução da pandemia que já acumula quase 15 mil mortos. É o segundo ministro da Saúde afastado pela pressão de Bolsonaro para tentar impor o fim do isolamento social e o uso da cloroquina, sem comprovação médica. A postura autoritária de Bolsonaro contraria sua máxima de campanha, que “nenhum Presidente é maior que o seu Ministério, tem tudo para não dar certo”. As atitudes de Bolsonaro ante o avanço do coronavirus “podem levar o país a um genocídio”, alertou o ex-presidente Lula, em entrevista á Agência Frances Press.
A reação da sociedade e das instituições ao afastamento de mais um ministro da Saúde em menos de um mês foi imediata. “Com método e paciência, Bolsonaro vai destruindo o Brasil e semeando a morte e o descrédito”, afirmou presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. “Mudanças constantes no Ministério da Saúde comprometem o enfrentamento a pandemia do Covid-19”, advertiu o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo. “O Brasil não merece essa situação”, disse o presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Jonas Donizette (PSB), de Campinas.
O afastamento do segundo ministro da Saúde também provocou forte reação dos governadores que, na ausência do governo federal, enfrentam a pandemia no país. “O país exige respeito à vida, à medicina e à ciência”, reagiu o governador da Bahia, Rui Costa (PT). “É inaceitável que, em plena pandemia, dois ministros da Saúde sejam demitidos por não aceitarem seguir as orientações médicas de um presidente que nada entende de Saúde”, afirmou em suas redes sociais. “É inadmissível que, diante da gravíssima crise sanitária que vivemos, o foco do governo federal continue sendo discussões políticas e ideológicas”, disse Camilo Santana (PT), do Ceará, um dos estados mais atingidos pela crise sanitária.
A demissão de Nelson Teich, menos de um mês após a saída de Luiz Mandetta, é mais um ato para sabotar o combate à pandemia. Desde o início da crise, o governo federal abriu mão de seu papel de dotar os estados com os equipamentos para atender as vítimas da Covid-19. A negligência do governo está levando as pessoas a morrer em hospitais por falta de leitos de UTI e respiradores. Médicos e enfermeiros se desdobram heroicamente pela vida sem os equipamentos necessários, o que já levou muitos deles à morte. Para agravar a situação, o governo atrasa o pagamento do auxilio emergencial, empurrando as pessoas para arriscadas aglomerações e filas.
O afastamento de mais um ministro já não esconde o objetivo de Bolsonaro em destruir o Ministério da Saúde para impor sua política negacionista. No final da semana passada, retomou o discurso da “inevitável” contaminação de 70% da população, que pode resultar na morte de 1,7 milhão de brasileiros. Na sexta-feira (15), determinou por decreto o uso indiscriminado da cloroquina, contrariando a opinião do Conselho Nacional de Medicina. Na terça-feira, ele radicalizou os ataques aos governadores e prefeitos, acusando-os de “desobediência civil” por defender o isolamento social., alinhados às orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), seguidas pelo Ministério da Saúde.
“Não adianta trocar de ministro se não trocar de presidente”, disse a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendendo o afastamento do presidente. “Bolsonaro é o maior responsável pela crise e está se lixando para a saúde do povo”, disse. “Quem será o próximo ministro da Saúde? Tanto faz, enquanto Bolsonaro estiver presidente”, questionou Fernando Haddad em sua conta de Twitter. Em várias cidades do pais, ocorreram panelaços de repúdio a Bolsonaro, que incluíram gritos de “assassino”, “genocida” e “Fora Bolsonaro”.
A segunda demissão de um ministro da Saúde durante a pandemia também aumentou a preocupação de governos do mundo inteiro com a situação do Brasil. A mídia internacional destacou a demissão de Teich com coberturas ao vivo, aumentando o desgaste do governo Bolsonaro. Em seu blog, a jornalista Miriam Leitão disse que vários e importantes países passaram a orientar seus diplomatas a reduzir o efetivo de funcionários em suas embaixadas e, mesmo, a retirar pessoal do país. Logo após o anúncio, a demissão subiu para os trending topics do Twitter.
“O Brasil espera que o novo ministro demitido conte as reais razões pelas quais deixa o cargo menos de um mês depois de ter assumido’, cobrou o senador Humberto Costa (PE), ex-ministro da Saúde no governo Lula. “Os brasileiros precisam saber em que, desta vez, Jair Bolsonaro tentou criminosamente interferir. É mais um para o rol de crimes de que é acusado”, afirmou.