Brasil fecha o mês mais letal da pandemia: 66,8 mil mortes

País está “a poucas semanas de um ponto de não retorno da crise da Covid-19”, alerta o neurocientista Miguel Nicolelis. Ele defende lockdown nacional

Consórcio de Veículos de Imprensa

O gráfico da tragédia

O Brasil terminou março com o mês em que mais pessoas morreram desde o início do surto do novo coronavírus. O país perdeu 66.868 brasileiros no período, consolidando-se como epicentro mundial da pandemia. No último dia, mais um recorde de mortes diárias foi batido, com o registro de 3.950 óbitos, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Ainda de acordo com o grupo, a média móvel de óbitos está em 2.971, o mais alto já registrado numa curva ascendente de seis dias seguidos. A variação foi de 42% em comparação à média de duas semanas atrás. Agora, o Brasil acumula 12,7 milhões de casos da doença e 321,8 mil mortes.

Especialistas preveem uma piora do quadro sanitário em abril e maio, dada a falta de sintonia entre estados e municípios e Jair Bolsonaro, que voltou a atacar o uso de medidas mais rígidas – como o lockdown – para frear a escalada do vírus. Para piorar, uma nova variante do coronavírus foi identificada em Sorocaba (SP), semelhante à sul-africana. As variantes do Reino Unido, de Minas Gerais e de Manaus (AM) já tinham sido identificadas na cidade, mas não a da África do Sul.

Além disso, a vacinação caminha lentamente e sem perspectivas de ser ampliada a curto prazo. “A vacina é espetacular, é uma solução, mas a vacina não é milagre”, declarou a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcolmo à Globo News. “A vacina, sozinha, não vai resolver. As pessoas têm que se vacinar e ficarem nas suas casas. Nós pedimos e vou pedir mais uma vez, não pode ter Páscoa, não pode ter festas, não pode ter aglomerações, não pode ter cerimônias de famílias, não pode ter festa de aniversário, não pode ter nada”, advertiu.

“Teremos o abril mais triste de nossas vidas”, lamentou Dalcolmo, repetindo o que ela havia dito há um mês. Ela faz parte de um grande grupo de cientistas e autoridades de saúde que vêm alertando há meses sobre a urgência de o país parar completamente suas atividades a fim de evitar uma catástrofe ainda mais dolorosa.

Cenário de guerra

Do mesmo modo, o neurocientista Miguel Nicolelis alertou, na noite de quarta-feira (31), na estreia do podcast Diário do Front, do El País, que o Brasil está “a poucas semanas de um ponto de não retorno da crise da Covid-19”. Na avaliação do cientista, o país terá um quadro de 4 mil a 5 mil óbitos diários nas próximas semanas e mais de meio milhão de vítimas fatais em julho, se nada for feito. Nicolelis traça um verdadeiro cenário de guerra, com uma completa devastação do país.

“Se o colapso funerário se instalar neste país, começaremos a ver corpos sendo abandonados pelas ruas, em espaços abertos” ressalta. “Teremos que usar o recurso terrível de usar valas comuns para enterrar centenas de pessoas simultaneamente, sem urnas funerárias, só em saco plásticos, o que vai acelerar o processo de contaminação do solo, do lençol freático, dos alimentos, e com isso gerar uma série de outras epidemias bacterianas gravíssimas”, aponta.

Alertas da OMS foram ignorados

Há semanas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem expressando preocupação com o quadro brasileiro e emitindo alertas para que ações coordenadas fossem adotadas a fim de conter a crise. “O número de casos aumenta, o número de mortes aumenta. O Brasil tem de levar isso a sério, seja o governo, seja o povo”, advertiu o diretor-geral da entidade, Tedros Adahon, há cerca de duas semanas.

Ele usou os dados sanitários de 15 de fevereiro a 15 de março, para apontar que as mortes semanais haviam subido de 7 mil para 15 mil óbitos no país. E reforçou a necessidade da adoção de um protocolo de medidas de proteção para todo o país.

“É um esforço conjunto de todos os atores que realmente reverterá essa tendência de crescimento [das mortes], que está muito rápida e se acelerando muito. Mas estamos preocupados, especialmente, com a taxa de mortalidade, que dobrou em apenas um mês”, afirmou à época o diretor, cujos conselhos e advertências têm sido solenemente ignorados por Bolsonaro desde sempre.

Para a tristeza e dor das famílias de 321 mil brasileiros.

Da Redação, com informações de G1, UOL e El País

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