Carestia de Bolsonaro e Guedes corrói salários

Proporção de reajustes abaixo da inflação em fevereiro foi de 55,7%, aponta Salariômetro da Fipe. “Traz de volta o Lula e manda embora o Bolsonaro”, pede Gleisi Hoffmann

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A inflação de Bolsonaro e Guedes achatou poder de compra dos trabalhadores

“Será um ano lamentável para os trabalhadores”, lamenta o coordenador do Salariômetro, Helio Zylberstajn. O levantamento mais recente da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que a inflação prevista para os próximos meses não deixará espaço para ganhos reais em negociações salariais – e que a maioria dos acordos não vem sequer repondo as perdas com a carestia de Bolsonaro e Guedes.

No serviço de notícias Valor Investe, Zylberstajn revelou que a proporção de reajustes abaixo da inflação em fevereiro foi de 55,7%. No ano (janeiro e fevereiro), o índice é de 49,2%. “Isso significa que a perda, em fevereiro, foi muito maior”, explica o economista. Em janeiro, 36,3% dos reajustes tinham sido inferiores à inflação.

O levantamento da Fipe aponta que apenas 15,1% dos salários igualaram o patamar do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), e 29,2% ficaram acima do indicador utilizado nas negociações. O piso salarial médio em fevereiro foi de R$ 1.444. No ano, é menor: R$ 1.408. Com um reajuste mediano negociado de 10,2%, mas um INPC acumulado em 12 meses de 10,6%, houve perda salarial real de 0,4 % em fevereiro.

“Os empregadores, em razão dos problemas na economia, não conseguem repor a inflação na hora de reajustar os salários”, afirma Zylberstajn. E num quadro em que o Banco Central (BC) “independente” joga a toalha e admite que fracassará, pelo segundo ano consecutivo, em atingir a meta inflacionária, o horizonte é desolador.

“A inflação continua no mesmo patamar e a atividade econômica não recupera. É um cenário que continua sendo muito ruim para os trabalhadores”, diz o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-SUP).

Nesta quinta-feira (24), o BC “independente” reconheceu oficialmente a alta probabilidade de descumprimento da meta de inflação em 2022. Nos dois cenários traçados pela autoridade monetária, o índice de preços deverá ter alta de 6,3% ou 7,1% neste ano. Os percentuais ficam fora do intervalo permitido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que definiu a meta em 3,5%, com teto de 5%.

“Efeito Bolsonaro e incompetência de Guedes fazem inflação fugir do controle e Banco Central quase dobra a projeção pra 2022. No cenário mais otimista ela ainda fica acima da meta. Tá tudo caro! Traz de volta o Lula e manda embora o Bolsonaro”, pediu a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), em postagem no Twitter.

Patrões deixam de parcelar e rebaixam o teto nas negociações

O coordenador do Salariômetro citou projeções de bancos que sugerem um INPC perto de 11% até maio. O mês, lembra Zylberstajn, é o mais importante para os trabalhadores, pois concentra o maior número de negociações coletivas e de categorias de peso. “O que é mais preocupante é que essas projeções já estão olhando para o fim do ano, começo de 2023, com um INPC na faixa de 6%. É mais do que se esperava um mês atrás.”

O boletim da Fipe também destaca que, nas negociações de fevereiro, 42,4% abordaram reajustes salariais, mas apenas 1,7% continha propostas de pagamentos escalonados. Nos últimos 12 meses, a média foi de 10%. Também só 3,8% propunham um teto salarial para aplicação do reajuste, com valor mediano de R$ 3.501. Novamente abaixo da medida em 12 meses: 15,3%, com teto mediano de R$ 7.000. “As empresas, em vez de parcelar, resolveram aplicar tetos baixos”, comenta o professor.

Caíram ainda as contribuições sindicais – de um valor anual médio de R$ 1.460 em 12 meses para R$ 515 em fevereiro. “Se você juntar todos esses valores e mais a aplicação do teto, fevereiro foi um mês de categorias com salários muito baixos. Por isso que não se parcela muito, mas o teto, quando é aplicado, é baixo também”, finaliza Zylberstajn.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse) observou queda ainda mais acentuada em seu boletim, De Olho nas Negociações. Na data-base fevereiro, 60,5% dos 119 reajustes analisados pela instituição até 9 de março ficaram abaixo da variação do INPC.

A variação real média, equivalente à média dos reajustes após desconto da inflação, manteve-se negativa em fevereiro (-0,98%). No acumulado do ano (jan-fev/22), 37% dos reajustes ficaram abaixo da inflação, 32% ficaram acima e 31% em valor igual. A variação real média até o momento é de -0,48%.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada, também revelou que os rendimentos reais do trabalho, já descontada a inflação, estão no menor nível da série histórica, iniciada em 2012. Em um ano, despencaram 10,1%.

“Reforma trabalhista” de Temer cavou o abismo salarial

O impacto maior da aceleração inflacionária, segundo economistas do Itaú, está nos preços dos produtos comercializáveis, que não foi acompanhado pelo crescimento nominal dos salários. “A diminuição do rendimento real pesa sobre o consumo das famílias”, apontam em relatório.

O banco Inter destaca que o aumento de trabalhadores por conta própria também fez pressão sobre o rendimento, já que esse grupo tem renda média menor. O número de trabalhadores na categoria chegou a 25,9 milhões no fim de 2021, 13% acima do mesmo período e também o maior da série histórica da Pnad Contínua.

“A população teve uma redução de renda média em conjunto com o aumento da desigualdade regional, com piora do mercado de trabalho, principalmente no Nordeste, região com maior taxa de subutilização, piora mais acentuada nas taxas de desemprego frente ao quarto trimestre de 2019 e menor número de empregados com carteira assinada”, aponta relatório do Inter. O número maior de pessoas subocupadas, que trabalham menos horas do que gostariam, também pressiona rendimentos para baixo.

O quadro desolador é resultado direto do desmantelamento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) promovido pelos governos do golpe. Enquanto o usurpador Michel Temer chegou a alterar ou extinguir 200 pontos da legislação, Jair Bolsonaro jamais reajustou o piso nacional conforme a Política de Valorização do Salário Mínimo criada pelos Governos do PT, que gerou ganhos reais de 77,43% sobre a inflação.

A criação de modalidades de contratação que promoveram flexibilização aguda dos direitos trabalhistas, salários menores e pouca margem para negociação foi outro foco dos governos do golpe. Para enfraquecer os sindicatos, foi atacada sua fonte de financiamento com o fim da contribuição obrigatória, gerando uma queda brutal da arrecadação. E para privilegiar ainda mais o mercado em prejuízo do trabalhador, as negociações salariais passaram a poder ser feitas individualmente pelo assalariado. Desde então, todos os anos são lamentáveis para os trabalhadores.

Da Redação

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