Chacina no RJ: Benedita denuncia operação desastrosa do governador Cláudio Castro

“Aos meus 83 anos de idade, eu continuo sofrendo pelo meu povo. Não moro mais no morro, mas eu sinto a dor. Eu saí da favela, mas ela não saiu de mim. Eu conheço a dor daquela gente”

(Tomaz Silva/Agência Brasil)

Ação letal do governo do Rio de Janeiro mata mais de 130 pessoas.

O dia 28 de outubro de 2025 entra para a história do Rio de Janeiro como mais um sangrento episódio da cidade que é cartão postal do Brasil. A megaoperação organizada pelo governador Cláudio Castro (PL-RJ) já é a mais letal e a contabilização dos corpos ainda não finalizou. Mas já são pelo menos 136 corpos encontrados, segundo agências de notícias.

Em emocionante discurso na tribuna da Câmara dos Deputados, na noite de ontem (28), a parlamentar Benedita da Silva (PT-RJ) lamentou a operação. “O meu discurso é de quem morou 57 anos na favela e conhece a dor e o desespero dos moradores quando ocorre uma operação policial desastrosa e a maldade e a perversidade de quem não sabe governar”.

A decana alerta para a naturalização da tragédia que vitima pessoas inocentes, trabalhadores, mulheres e crianças que moram em áreas mais vulneráveis da cidade. “Não pode ser natural você ir para um território onde há milhares de pessoas e querer fazer uma operação a céu aberto, colocando as famílias em pânico, colocando as crianças fora da escola, colocando as pessoas fora do trabalho!”

As vítimas da necropolítica

Emocionada, a deputada denunciou: “Dói o meu coração ouvir que aquelas pessoas são todas bandidas, aquelas pessoas que suam, que vão vender seus caixotes, que vão vender a sua bebida na rua, que vão pegar cafezinho de madrugada, servindo no ônibus, lá no ponto de ônibus. Essas são as pessoas consideradas marginais por esta Casa”.

A parlamentar aproveitou para relatar como as operações ocorrem dentro das periferias. “Sabem como chegam? Não pedem licença. Não procuram a carteira de trabalho de ninguém. Não perguntam para o homem da padaria. Não perguntam para a mercearia. Não falam com a farmácia. Não discutem com a escola. Não, faz-se a operação, e todas essas pessoas são bandidas”!

Em seu discurso, Benedita lembrou que morreram “policiais, agentes de segurança pública, pessoas inocentes”. Ela se diz envergonhada: “aos meus 83 anos de idade, eu continuo sofrendo pelo meu povo. Não moro mais no morro, mas eu sinto a dor. Eu saí da favela, mas ela não saiu de mim. Eu conheço a dor daquela gente”, frisou a petista.

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O saldo negativo

Benedita questiona o Parlamento sobre os resultados efetivos dessa ação. “Acabaram com os ladrões? Acabaram com os milicianos? Acabaram com aqueles que estão no morro vendendo gás a preço dobrado e são milicianos?”

Para a deputada é inconcebível festejar tal operação que vitimou servidores policiais, dentre eles dois militares e dois da polícia civil. “Eles têm família, e nós protegemos a família deles”, defendeu Benedita.

Governo estadual sanguinário

A megaoperação foi encabeçada pelo governador sem que ele informasse o Governo Federal. Diante dessa independência inconsequente a deputada questionou: “Por que vocês não acreditam que existam pessoas inocentes? Se há alguém que não é inocente no Estado do Rio de Janeiro — do crime organizado, das milícias — é o Governador do Estado!”, disse Benedita. Ela explicou ainda que Cláudio Castro se nega a receber o Governo Federal para dialogar e juntos buscarem uma solução.

“São mentirosos esses que aqui estão dizendo que o Governo Federal não deu ajuda. São mentirosos e eu digo que são, porque eu sou do Estado do Rio de Janeiro e eu sou uma militante. Eu ando pelo meu estado inteiro. O governador se recusa até a receber o Presidente Lula. Quem recebe o Presidente Lula no estado, mesmo o Governo Federal mandando tudo o que é preciso para o estado, é o prefeito da cidade do Rio de Janeiro”, afirmou a parlamentar.

Esquerda governa pela vida

Sob forte emoção Benedita confessou que “é de doer ouvir esta Casa dizer que nós, a esquerda, protegemos bandido. Nós protegemos as famílias decentes que vão limpar as casas dos senhores e das senhoras, que cuidam dos seus cachorros e dos seus filhos. São essas pessoas que nós defendemos. E elas moram lá porque não podem morar no palácio onde nós moramos, não podem morar nos apartamentos e nem nas mansões. Ninguém escolhe morar numa favela”.

Benedita da Silva cobrou dos parlamentares de direita e extrema-direita: “alguns de nós, que temos a nossa casa, o nosso carro, uma segurança passando todos os dias pela nossa porta, ousamos dizer aqui que aquilo foi uma grande, uma megaoperação. Além disso, nós da esquerda vamos continuar sendo na boca de Vossas Excelências aqueles que protegem bandidos. A nossa consciência é a consciência de quem protege o pobre, miserável, oprimido, trabalhador, as crianças. São esses que nós protegemos”, finalizou.

Do site do PT na Câmara

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