Conexão e solidariedade: confira os aprendizados do II Festival Elas Por Elas

Evento online durou quatro dias e mobilizou mulheres do país inteiro. Música, poesia, arte e culinária renovaram as nossas formas de se conectar em rede

II Festival Elas Por Elas.

Da Redação, Agência Todas

 

Essa sexta-feira foi o último dia do II Festival Elas Por Elas, realizado por meio de transmissão ao vivo. O evento aconteceu nos dias 16, 17, 23 e 24 de abril, levando muita cultura e energia de diversas regiões do país para dentro das casas das pessoas. 

A tarde de sexta começou arrebentando com o som de Haysha Saywe, direto de Minas Gerais.  A dupla Pretta Soul, do Rio Grande Norte, recheou a sala com o legítimo rap nordestino de muita resistência e combate ao racismo. Da pontinha do mapa brasileiro, adentramos o interior do continente e fomos parar em Mato Grosso do Sul, com a voz encantadora de Ana Cabral ao violão. O ritmo do sertão acalmou os corações para a chegada de Luciana Sérvulo, que ensinou técnicas de contemplação para lidar com a ansiedade e melhorar a saúde mental, diante de tantas reviravoltas — ainda mais com o noticiário caliente da saída de Sergio Moro e a transmissão ao vivo do presidente. A paraense Mana Josy declamou poesias para acalentar a alma, encerrando com a pernambucana Joanah Flor, trazendo luminosidade e muita força para um dia difícil na política. 

Todas as transmissões trouxeram aprendizados sobre as diversas formas de conexão possíveis em tempos de distanciamento e isolamento social. Diante de uma internet disputando a atenção das pessoas por lives intermináveis, o II Festival Elas Por Elas, realizado online, mostrou que um cantinho de casa, um talento e disposição de luta são a fórmula ideal para trocar experiências e aprendizados entre as companheiras. 

A tarde de ontem, quinta-feira, também foi um exemplo disso. A tarde estreou com as mulheres do grupo amazonense In Rima, direto do Norte do país. O Amazonas é o primeiro estado a ter o sistema de saúde colapsado diante dos casos de Coronavírus. A apresentação denunciou a situação das mulheres que sofrem diuturnamente com a violência e a opressão e estão ainda mais expostas por conta do isolamento. 

As artistas mandaram o som do hiphop e falaram sobre a luta diária pela sobrevivência no estado. “Estamos ajudando as pessoas com alimentos e materiais de higiene.. Aqui no Amazonas, estamos fazendo a nossa parte, junto com Partido dos Trabalhadores e outros coletivos que não são de partido”, explicou as cantoras. 

Elas ainda enviaram um alerta a todo o país sobre as consequências da pandemia e pediram para que as pessoas permaneçam em casa. “É importantíssimo manter o isolamento. Vamos nos cuidar. Não é uma gripezinha, é sério. Se cuidem”, relataram. 

E para quem é de Axé, muitas mulheres cantaram músicas em homenagem a Ogum, orixá da Umbanda; e São Jorge, santo católico. Dia 23 de abril é considerado o dia de São Jorge, padroeiro do Rio de Janeiro, tanto que é considerado feriado carioca. 

A mãe de santo Joelfa de Xangô brindou a todos com cantos, bençãos e declamações de poesia, em plenas terras piauienses.  Ela também abordou a violência doméstica em tempos de pandemia e divulgou o projeto “Ei, Mermã”, que visa auxiliar mulheres em situação de violência. 

Em seguida, a carioca Simone Faitú abriu sua apresentação com o clássico “pois eu estou vestido com  as roupas e as armas de Jorge”, e lançou músicas de própria autoria. Da cidade maravilhosa, fomos as terras do Rio Grande do Sul com Lila Borges cantando clássicos de diversos estilos, até Ivan Lins. Ela convidou a Lu Fagundes para entrar na live e, veja só, ganhamos até dica de livros:  “A vida quer é coragem”, de Dilma Roussef. 

E então a música parou e deu lugar à mística que reinou na internet enquanto Civone Medeiros declamava poesias e ensinava jovens bruxas a adentrarem o universo do sagrado feminino. Por fim, com aquela fome de fim de tarde batendo no estômago, a cearense Maria Angela ensinou a fazer uma deliciosa receita de bolinho de peixe, clássica do Ceará. 

“A segunda edição do Festival Elas Por Elas superou as expectativas. Estamos muito contentes. Diante de um cenário tão difícil para as mulheres, todas conseguiram doar o melhor de seu tempo para melhorar, nem que seja por alguns minutos, a vida de outras companheiras. Esse é o verdadeiro sentido de compartilhar e se conectar em rede. É assim que queremos seguir e vamos enfrentar esse período: com muita luta política, cultura, união e solidariedade”, finaliza Anne Karolyne. 

 

Confira o poema de Joelfa Farias:

 

Denunciei o Casulo!

No início eu não conseguia romper a casca grossa do casulo da violência, que insistia em não deixar eu virar borboleta e voar, no casulo tinha gritos, tinha dor e tinha medo.

Parei, pensei e me perguntei como vou sair do casulo, pra aonde eu vou?será se eu sei voar?

Espera, espera eu preciso arriscar, não quero mais aqui continuar.

Eu queria ser borboleta e denunciei, denuncie o casulo que me mantinha presa, que roubava meus sorrisos e que calava minha voz.

Queria saber como é ser livre, sem gritos, sem medo, sem prisão, sem brigas e perseguição. queria saber como é dormir sem medo, medo que o Casulo me sufoque, queria ver como eram as outras borboletas.

Rompi, denunciei, tive medo quando vi a luz do sol

Respirei, apreciei e ajeitei minhas asas, abri os olhos e voei, outras já me esperavam e já me ajudavam mais eu dentro do Casulo não conseguia ouvir.

Hoje eu já não tenho mais medo do casulo, e ajudo outras borboletas a serem livres, a bater asas e alcançar longos vôos. 

Denunciei, vivi, sorri, libertei e achei em outras borboletas a força que tanto esperei.

 

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