Covarde, Bolsonaro tenta culpar estados e municípios por 102 mil mortes
Em nova série de ataques a governadores e prefeitos, Planalto distribuiu a partidos da base aliada uma lista de estados e municípios com altos índices de casos e mortes por Covid-19, numa tentativa de associar os dados a adversários. “Será que Bolsonaro assumirá seus erros ou só jogará tudo na conta dos governos estaduais que têm tentando combater a pandemia com as ferramentas que possuem, sem nenhuma ajuda do governo federal?”, questiona o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). Mais de 60 parlamentares, representantes de institutos de pesquisa, professores universitários britânicos, entre outras personalidades, assinaram manifesto denunciando Bolsonaro pela negligência no combate à pandemia no Brasil
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Maior fomentador de fake news do país, o presidente Jair Bolsonaro intensificou a estratégia de sabotagem ao combate à pandemia do coronavírus. Em uma nova série de ataques a governadores e prefeitos, Bolsonaro tenta livrar-se de sua responsabilidade pelo desastre que gerou 102 mil mortes e 3,06 milhões de casos da doença no Brasil, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Na segunda-feira (10), o Planalto distribuiu a partidos da base aliada uma lista de estados e municípios com altos índices de casos e mortes pela doença, numa tentativa de associar os dados a adversários políticos. O documento traz um “top 5” dos piores quadros da Covid-19 em estados e municípios, acompanhado do nome do gestor.
Oficialmente, a Secretaria de Governo justificou a produção do documento para monitorar a propagação da Covid-19 pelos estados a fim “contribuir” nas estratégias de enfrentamento do surto. “O documento em questão foi criado para contribuir internamente na gestão de curto prazo de como a pandemia está se comportando nos estados e municípios”, diz nota da Secretaria. “Os dados apresentados são todos públicos e retirados do site do Ministério da Saúde”, afirma o texto.
Não demorou para o próprio Bolsonaro jogar por terra a justificativa oficial da nota ao divulgar, nesta terça-feira (11), um vídeo do comentarista Milton Cardoso. Nele, o articulista da Band qual faz um virulento ataque a governadores ao mesmo tempo em que faz uma defesa apaixonada de Bolsonaro. Nas contas do ‘Twitter’ e ‘Facebook’ do presidente, o vídeo foi postado com a legenda: “assista com atenção. Vamos salvar vidas”. No vídeo, Cardoso afirma que o Supremo Tribunal Federal tirou os poderes do “chefe da nação” e que transformaram a pandemia “em uma experiência inédita em politicagem”.
“O preço está aí: desemprego, miséria, suicídio, empresas e comércios fechando as portas, violência doméstica, pedofilia, presos sendo libertados, tudo em nome do coronavírus, com o clichê para salvar vidas”, delira o comentarista, lembrando ainda que Bolsonaro sempre defendeu o chamado isolamento vertical. “A vontade do presidente foi ignorada por decisão do STF, com apoio da rede Goebbels, repassada para prefeitos, governadores com decisões incoerentes e absurdas”, insiste Cardoso, comparando a rede ‘Globo’ com o ministro da propaganda nazista.
A manobra política de Bolsonaro provocou reações da oposição no Congresso. “Esse homem nunca apoiou o isolamento social, queria deixar tudo como estava para não prejudicar a economia, deu mal exemplo para as pessoas saindo sem máscara por Brasília”, critica a presidenta do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann. “E a culpa é dos governadores? Se não fossem as medidas de isolamento dos governos estaduais, o número de mortes hoje seria muito maior”, afirma Gleisi.
“Será que Bolsonaro assumirá seus erros ou só jogará tudo na conta dos governos estaduais que têm tentando combater a pandemia com as ferramentas que possuem, sem nenhuma ajuda do governo federal?”, questionou o deputado federal e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP). Para o deputado, Bolsonaro quer fugir da responsabilidade pela situação da calamidade pela qual passa o país.
Manipulação de dados
Em outra frente, o governo usa dados sobre a pandemia para alegar que o Brasil possui “um dos menores índices de mortes por milhão de habitantes entre as grandes nações”. Mas a mais nova fake news produzida pelo Ministério da Saúde também não resiste a uma simples consulta ao mapa da Covid-19 no mundo. Em um ranking de 167 nações, o país ocupa a 11ª posição em mortes por milhão de habitantes, à frente da Alemanha, Argentina, França e México.
No sábado (8), mesmo dia em que Bolsonaro celebrou o campeonato paulista, o governo comemorou as “quase 3 milhões de vidas salvas ou em recuperação” esquecendo-se de mencionar que o país está atrás apenas dos EUA em número total de óbitos há mais de dois meses. Em anotações diárias de mortes, o Brasil também manteve-se entre os cinco países com mais óbitos a cada 24 horas. Há semanas, o país está estacionado em um macabro platô de mais de mil mortes diárias por Covid-19 em média.
“A falta de transparência do governo Bolsonaro é a utilização da vida de pessoas e de dados que poderiam auxiliar no combate à covid-19 como forma política”, denuncia Alexandre Padilha. “Ao controlar os dados, o presidente tenta se blindar às custas de famílias que tiveram seus familiares mortos”, lamenta o deputado.
Denúncia internacional
Ao contrário do que faz parecer a propaganda governista, Bolsonaro é considerado internacionalmente como a pior liderança mundial no combate à pandemia. Na segunda-feira, mais de 60 parlamentares, representantes de institutos de pesquisa, professores universitários britânicos, entre outras personalidades, assinaram um manifesto redigido pelos trabalhistas alertando o mundo sobre o risco de vida pelo qual passa a população brasileira com Bolsonaro no comando do país.
Segundo a carta, publicada na revista ‘Tribune’, “o presidente de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, rejeitou sistematicamente o coronavírus como ‘apenas uma fantasia’ e ‘histeria da mídia’. O documento afirma que Bolsonaro “tem se recusado, imprudentemente, a colocar as pessoas e a saúde em primeiro lugar”.
Como resultado, observa o manifesto, “o Brasil agora tem o segundo maior número de casos e mortes no mundo e está crescendo”. O manifesto ainda chama a atenção para a rápida disseminação da Covid-19 na Amazônia, citando alerta da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) sobre a gravidade da crise na Região.
O manifesto, que continua a angariar apoio no Reino Unido, conclui: “expressamos nossa solidariedade ao povo brasileiro em sua luta contra o Bolsonaro e a ameaça que ele representa para a segurança pública. A luta deles é nossa luta”.
Da Redação, com agências e informações de ‘Tribune’