Covid-19, 6 meses depois: 116,9 mil mortes que poderiam ser evitadas

No marco simbólico da tragédia da pandemia no país, presidente Bolsonaro voltou a causar aglomerações, sem máscara, e a colocar em risco a vida de brasileiros. Levantamento feito pela Rede de Pesquisa Solidária aponta que o governo federal deixou de coordenar uma política nacional sobre o uso de máscaras no país, e cuidou de enfraquecer até mesmo medidas que já estavam em curso nos estados. “A falta de fiscalização, de programas e da massificação das ações, além da desinformação, rebaixaram a importância do uso de máscaras e reduziram a capacidade de proteção da população mais vulnerável”, aponta levantamento. Brasil registra 3.683.224 casos da doença e 116.964 mortes

O primeiro caso de coronavírus completa seis meses, dia em que o Brasil registra 3.683.224 casos da doença e 116.964 mortes, segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa. A data representa o marco simbólico de uma catástrofe sem precedentes, cuja real dimensão ainda é desconhecida. Mas, ao invés de um gesto de solidariedade em memória das famílias enlutadas, o que se viu, nesta quarta-feira (26), foi apenas outra demonstração do espírito que personifica a negligência de cunho grotesco no âmago da tragédia. Em mais um dia para não ser esquecido, Jair Bolsonaro voltou a causar aglomerações, sem máscara, e colocar em risco a vida dos próprios apoiadores.

Em Ipatinga (MG), onde foi participar de um evento na Usiminas, o presidente aproximou-se de seguidores, vários deles sem proteção facial, com quem permaneceu por mais de 15 minutos. Lá, tirou fotos, abraçou pessoas e até segurou uma criança no colo, desrespeitando mais uma vez as regras de segurança necessárias para evitar a propagação do vírus.

O ato eleitoreiro de Bolsonaro reafirma o modo sistemático como a estratégia de sabotagem ao combate à pandemia foi colocada em prática desde março. Levantamento feito pela Rede de Pesquisa Solidária aponta que o governo federal deixou de coordenar uma política nacional sobre o uso de máscaras no país, e cuidou de enfraquecer até mesmo medidas que já estavam em curso nos estados.

“A falta de fiscalização, de programas e da massificação das ações, além da desinformação, rebaixaram a importância do uso de máscaras e reduziram a capacidade de proteção da população mais vulnerável”, aponta o boletim de 21 de agosto da Rede de Pesquisa Solidária, que reúne mais de 70 pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e outros institutos de pesquisa.

Procedimento de proteção contra a disseminação do vírus comprovado pela Organização das Nações Unidas (OMS), as máscaras são uma ferramenta poderosa e de baixo custo, se aliadas a medidas rígidas como o isolamento social e o rasteio de casos suspeitos.

Por causa da inércia intencional do governo federal, tiveram seu impacto enormemente reduzido no país. Em julho, Bolsonaro chegou a vetar 25 dispositvos da lei que tornava obrigatório a utilização da proteção facial, considerada eficaz na contenção da doença. “Só em agosto, com a derrubada dos vetos, é que o uso de máscaras tornou-se efetivo, infelizmente, tardiamente”, afirma Pedro Schmalz, um dos pesquisadores da Rede Solidária, em entrevista à ‘Rádio USP’.

O boletim também aponta que a falta de fiscalização do uso de máscaras também reduziu o impacto das medidas, mesmo nos estados que tornaram obrigatório o uso mais cedo. “A implantação [das medidas] foi extremamente fragmentada”, atesta a pesquisadora do grupo, Isabel Costa Rosa Seelaender, na mesma entrevista. Além disso, a fiscalização foi deficiente também em relação a outras medidas, aponta Rosa, como o fechamento de espaços e a proibição de aglomerações. 

Estratégias da OMS

Em junho, a OMS emitiu comunicado sobre a importância do uso de máscaras, mas desde combinadas a outras estratégias de mitigação da doença. ‘As máscaras devem ser usadas como parte de uma estratégia abrangente de medidas para suprimir a transmissão do coronavírus e salvar vidas”, recomenda comunicado da agência.

“O uso somente delas, sem outras ações, é insuficiente para fornecer um nível adequado de proteção contra a COVID-19. Também é importante manter uma distância física mínima de pelo menos 1 metro de outras pessoas, limpar frequentemente as mãos e evitar tocar no rosto e na máscara”, alerta a agência.

25 mil vidas

Segundo estimativas do Institute of Health Metrics Evaluation, ligado à Universidade de Washington (EUA) a utilização constante de máscaras por pelo menos 95% da população poderia salvar cerca de 25 mil pessoas de morte por Covid-19 até 1º de dezembro.

Os pesquisadores cruzaram dados sobre o início da adoção do uso de máscaras nos estados com o momento em que os governos optaram por flexibilizar as medidas de distanciamento social. Adotando como parâmetro o chamado Índice de Rigidez das Políticas de Distanciamento Social (RPDS), foi possível constatar que a implementação do uso de máscaras coincide com uma reabertura das atividades em alguns estados.

Flexibilização

“Dos 24 estados que tinham políticas de fechamento de comércio e adotaram obrigação do uso de máscaras, 16 flexibilizaram as políticas relativas ao comércio”, aponta o boletim. “Na realidade, os estados adotaram o uso das máscaras mais como um fator necessário para a reabertura do comércio”, constatam os pesquisadores.

Ainda segundo a Rede de Pesquisa Solidária, ao justificar a flexibilização das medidas de contenção da pandemia, gestores “procuram transmitir a ideia de que a pandemia está chegando ao fim”. O grupo levou em conta a “ampla desinformação a respeito do uso de máscaras, principalmente pela ausência de programas e campanhas promovidas pelas autoridades”.

Para a Rede, o uso de máscaras deu-se de maneira pulverizada e, por não obedecer a “uma estratégia integrada de combate à pandemia e, dessa forma, teve sua eficácia comprometida”. Missão cumprida para o ocupante do Palácio do Planalto.

Da Redação, com informações do Jornal da USP

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