Da Lava Jato à Amazônia: os melhores momentos da entrevista de Lula à BBC

Ao contrário da precária visão de mundo de Jair Bolsonaro, avaliação do ex-presidente sobre o Brasil justifica porque ele segue como maior líder popular da história do país

Já virou hábito: desde 1º de janeiro, sem falhar um único dia sequer, Jair Bolsonaro tem chocado o Brasil e o mundo com preconceito, intolerância, desinformação, subserviência e ataques à soberania nacional e aos direitos do povo. Diante deste show de horrores interminável, ler e ouvir a opinião de Luiz Inácio Lula da Silva sobre o atual cenário político do país é sempre um alento para os olhos e ouvidos.

A nova prova da imensa distância entre o atual e o ex-presidente está na entrevista publicada nesta quinta-feira (29) pela emissora britânica BBC. Por uma hora, Lula discorreu sobre os principais acontecimentos políticos do país sem fugir de nenhuma pergunta – sempre com a cordialidade que cabe a um chefe de estado e a experiência de quem esteve à frente do período mais glorioso do país.

Ao recorrer a dados oficiais e apresentar argumentos para cada uma de suas opiniões, Lula novamente mostrou-se a antítese perfeita de Bolsonaro, que não consegue se explicar nem mesmo quando posta uma foto machista nas redes sociais, muito menos sobre o maior desastre ambiental da história nacional.

“Todos nós brasileiros temos que defender a Amazônia como patrimônio brasileiro. A Amazônia faz parte do orgulho brasileiro. Agora, para ela fazer parte do orgulho brasileiro nós temos que cuidar dela. Cuidar dela não significa transformá-la num santuário da humanidade. Significa criar condições para que os 20 milhões de homens e mulheres que moram lá tenham condições de trabalhar, de sobreviver, de ganhar sua vida, preservando o máximo possível o meio ambiente, levando para lá política de desenvolvimento que possa permitir cuidar da nossa floresta”, declarou o petista.

A seguir, você confere o que pensa Lula sobre a Amazônia, a Operação Lava Jato, Moro, Dallagnol, a desumanidade dos procuradores que zombaram do seu luto, o papel do Brasil como liderança regional e, claro, sobre Jair Bolsonaro, “eleito porque esse que vos fala foi impedido de ser candidato”.

Amazônia

 

“Eu vejo um risco da soberania da Amazônia com o discurso do (presidente Jair) Bolsonaro tentando colocar o filho dele (Eduardo Bolsonaro) de embaixador nos Estados Unidos, quem sabe para permitir que indústrias americanas venham pesquisar a Amazônia. Veja, todos nós brasileiros temos que defender a Amazônia como patrimônio brasileiro. A Amazônia faz parte do orgulho brasileiro”.

“Agora, para ela fazer parte do orgulho brasileiro nós temos que cuidar dela. Cuidar dela não significa transformá-la num santuário da humanidade. Significa criar condições para que os 20 milhões de homens e mulheres que moram lá tenham condições de trabalhar, de sobreviver, de ganhar sua vida, preservando o máximo possível o meio ambiente, levando para lá política de desenvolvimento que possa permitir cuidar da nossa floresta. Até porque a grande riqueza que temos lá ainda quase que inexplorada é a nossa biodiversidade”.

“Então, deixa eu falar, em 2013 nós tivemos na Amazônia 5,8 mil km² (de desmatamento). Em 2012 havia 4,5 mil km². Foi o mais baixo [recorde histórico de baixa]. Se você vai comparar um quilômetro com dois quilômetros e meio, cresceu bastante, mas estamos falando que houve um decréscimo em todo o governo da Dilma [segundo os dados do Inpe, até meados de 2012]. Começou a crescer em 2015, (o desmatamento) foi para 6 mil km². Em 2016, foi para 6,8 mil km². 2017, para 7 mil km². Em 2018, para quase 8 mil km²”.

Jair Bolsonaro

 

“Primeiro, o Bolsonaro foi eleito porque esse que vos fala foi impedido de ser candidato. O grande cabo eleitoral do Bolsonaro foi a minha condenação, e a decisão da Justiça Eleitoral (impedindo a candidatura de Lula por causa da Lei da Ficha Limpa).

Segundo, uma parte dos votos (do Bolsonaro) você sabe que foi à base do fake news , da maior campanha de mentira já conhecida no Brasil. Eu não sei por que (não fez), mas eu acho que o PT deveria ter feito uma briga para exigir uma apuração correta sobre a questão do fake news. O PT aceitou o resultado”.

“Diferentemente do Aécio (Neves, do PSDB), que não aceitou o resultado (da eleição em 2014) da Dilma, numa eleição legal, em que não teve fake news . Então, agora o seu Bolsonaro, ele só tem que governar. Ele ganhou para governar, ele governe.

Eu, como fui Presidente da República, não sou daqueles que fica torcendo para as pessoas que governam dar errado, porque quem paga o pato é o povo. O que eu quero é que ele resolva o problema do povo brasileiro. Porque estamos há um ano só ouvindo falar em corte e ajuste, corte e ajuste, corte e ajuste, e não se ouve falar em desenvolvimento, em emprego, em política industrial. Isso não existe. Então, eu não sei onde vai parar o país.”

Operação Lava Jato e STF

 

“Eu acho que esse pessoal da Lava Jato, essa força-tarefa, eles foram mordidos pela mosca azul. A pior coisa do planeta Terra que foi feito foi o pacto feito pela (Rede) Globo com a Lava Jato. Passem qualquer mentira, não importa, que a gente vai transformar tudo em verdade.

O que eu acho que a Suprema Corte tem que fazer? Tem que se debruçar sobre o processo (os casos da Lava Jato), tudo que foi certo, tudo que foi julgado corretamente, que houve investigação, que houve apuração e que provou que cometeu crime, tem que condenar. Agora, tudo aquilo que a Suprema Corte analisar e descobrir que houve falha (no processo), que a pessoa é inocente, que a pessoa foi acusada equivocadamente, tem que absolver. É só isso”.

“eu acho que a operação Lava Jato tem coisas que foram verdade, tem pessoa que confessou. Se o cara confessou que roubou, o cara é ladrão. E é só pegar os delatores, porque ficou fácil roubar no Brasil. O cara rouba, vem aqui, delata quem roubou, fica com metade e tá livre? Só falta começar a colocar pulseira de ouro no pé das pessoas, pra pessoa colocar no testamento a pulseira de ouro”.

Moro e Dallagnol

 

“E sabe por que que o partido me defende? Porque o partido sabe que sou inocente, porque o partido sabe que o Moro é mentiroso, o partido sabe que o Dallagnol é mentiroso, o partido sabe que o TRF-4 me julgou sem ler o meu processo, o partido sabe que o Superior Tribunal de Justiça me julgou sem ter acesso ao inquérito.

Eu espero que um dia o Moro fale assim, “Ô presidente Lula…”, mesmo que eu já tiver morrido, não tem problema, ele vai dizer “… eu quero pedir desculpas porque eu fui um canalha no voto que eu dei no processo dele. Eu não fui juiz”.

O Dallagnol poderia dizer a mesma coisa: “Presidente Lula, aquele PowerPoint que eu fiz, aquela melancia, que eu apresentei na televisão, eu quero pedir desculpas, eu menti.”

“Houve um momento em que o Moro, o Dallagnol e mais a equipe da força-tarefa pensavam que eram donos do Brasil. Eles ameaçaram a Suprema Corte, eles ameaçaram o nosso ministro da Suprema Corte (Teori Zavascki) que morreu, eles ameaçaram o (ministro do STF Edson) Fachin, eles ameaçaram a Câmara, eles ameaçaram o Senado, eles ameaçaram a Presidência. Eles qualquer coisa ameaçavam fazer greve de fome. Eles se acharam donos do mundo”.

Desumanidade dos procuradores

 

“Eu penso que ela deveria pedir desculpas ao povo brasileiro, pelo mal que eles causaram aos milhões e milhões e milhões de brasileiros que perderam o emprego. Eu sou um homem muito maduro, não guardo mágoas. O fato de ela dizer que está arrependida, é muito bom a pessoa se arrepender. Uma coisa que no Brasil as pessoas perderam. No Brasil, a palavra desculpa parece que tinha desaparecido do dicionário.

Então, quando as pessoas começam a se arrepender das bobagens que fizeram é um bom sinal. Significa que a humanidade ainda tem chance de se recuperar”.

Da Redação  da Agência PT de Notícias com informações da BBC

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