Desaprovação de Bolsonaro cresce por má condução na pandemia e economia

Popularidade do presidente despenca, enquanto índices que avaliam a condução da política econômica por Paulo Guedes batem recordes negativos consecutivos. Percepção do governo se deteriora junto à população: o país afunda pela incapacidade do Palácio do Planalto de liderar

Bruno Caramori

Bolsonaro em queda nas pesquisas

O presidente Jair Bolsonaro esgotou a paciência dos brasileiros. A mais recente pesquisa a espelhar a queda de sua popularidade é a da XP Ipespe, divulgada nesta segunda, 4 de maio. A avaliação positiva do governo caiu 4 pontos percentuais, de 31% para 27%, enquanto a avaliação negativa subiu 7 pontos percentuais, de 42% para 49%.

Desde o início da série, em janeiro de 2019, os números não eram tão desalentadores para o presidente da República. Para o restante do mandato, a expectativa negativa passou de 38% para 46%, enquanto a positiva foi de 35% para 30%. No período, caiu também a nota média atribuída a Bolsonaro, que era de 5,1 em 24 de abril e foi a 4,7.

A sondagem detectou desconfiança em relação ao novo ministro da Justiça, André Mendonça. Para 69%, ele terá uma atuação com interferências do presidente, enquanto 19% esperam uma atuação independente. A pesquisa XP/Ipespe ouviu 1.000 eleitores de todas as regiões. As entrevistas foram feitas por telefone entre 28 e 30 de abril.

Economia na berlinda

A deterioração da imagem de Bolsonaro na pesquisa XP/Ipesp também atingiu a política econômica. Além de 52% desaprovarem a condução exercida pelo ministro Paulo Guedes, 62% defendem uma mudança da política atual para outra que priorize investimentos públicos na recuperação da economia no período pós-pandemia

O número dos que acreditam que a economia está no rumo certo caiu de 35% para 32%, enquanto 29% disseram ser favoráveis à manutenção da atual política econômica, com a implantação de reformas, redução dos gastos públicos, perda de direitos trabalhistas, entre outros pontos.

Os maus índices prosseguem com o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI), elaborado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) e divulgado nesta segunda, 4. Em abril, o índice atingiu 57,5%, o menor valor da série histórica iniciada em janeiro de 2001. Nos últimos vinte anos, o setor industrial nunca havia operado com tão baixo nível de produção.

Em um primeiro momento, os segmentos foram impactados de formas diferentes. Os mais afetados são Vestuário, Veículos Automotores e Couros e Calçados, que apresentaram as maiores quedas e os menores níveis no nível de atividade de abril. A diminuição da demanda e a necessidade de fechamento de fábricas fez com que esses segmentos operassem com menos de 25% da sua capacidade total.

“Nesse sentido, podemos inferir que, mesmo no pior momento da crise mais longa das últimas décadas, o nível médio da atividade industrial não foi tão comprometido quanto observamos agora”, avaliou a FGV em nota.

FGV mede incertezas

O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) da FGV segue rumo inverso, mas negativo para o governo. Subiu 43,4 pontos em abril de 2020, resultado que se segue a uma alta de 52,0 pontos em março. Ao registrar 210,5 pontos, o indicador atinge o seu recorde histórico pelo segundo mês consecutivo, agora 73,7 pontos acima do recorde anterior à pandemia de Covid-19, de 136,8 pontos, em setembro de 2015.

“Embora exista algum grau de certeza quanto ao inevitável declínio da atividade durante o período de isolamento social, há enorme incerteza quanto aos efeitos das medidas anunciadas pelo governo para minimizar a crise e quanto à velocidade possível da retomada econômica após o período mais crítico”, avalia Anna Carolina Gouveia, Economista da FGV IBRE.

Outro índice, o de Confiança Empresarial (ICE), caiu 33,7 pontos em abril, para 55,8 pontos. Este é o menor nível da série histórica iniciada em 2001, e se situa 12,2 pontos abaixo do ponto mínimo anterior, registrado em setembro de 2015 (68 pontos).

O ICE consolida os índices de confiança dos quatro setores cobertos pelas Sondagens Empresariais produzidas pela FGV IBRE: Indústria, Serviços, Comércio e Construção. Neste mês, todos os segmentos da Indústria e Construção recuaram, se juntando ao Comércio e aos Serviços, que já apresentavam queda de 100% dos segmentos em março. Em todos os setores houve deterioração da situação atual e das expectativas.

“Chama atenção o fato de as expectativas em relação aos três meses seguintes estarem ainda piores do que as avaliações sobre a situação atual. Enquanto houver esta combinação de nível de atividade extremamente baixo e de elevadas incertezas quanto ao futuro, infelizmente, a confiança empresarial continuará muito baixa”, afirma Aloisio Campelo Jr, Superintendente de Estatísticas Públicas da FGV IBRE.

Focus mostra desalento

Produzido pelo Banco Central (BC) e divulgado todas as segundas-feiras, o Boletim Focus, com projeções de instituições financeiras para os principais indicadores econômicos, revela que a previsão de declínio econômico este ano foi ajustada pelo mercado financeiro pela 12ª semana consecutiva. A projeção de queda do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 3,34% para 3,76%. A previsão do mercado financeiro para o PIB de 2021 é de crescimento de 3,20%. A previsão anterior era 3%.

Com todos esses indicadores negativos, o FGV IBre já projeta que a paralisação da atividade econômica levará a uma contração de até R$ 500 bilhões, ou 8% no consumo das famílias brasileiras, e a uma queda de até 15% na massa salarial dos trabalhadores.

Os números consideram o cenário mais pessimista traçado pela instituição, de uma queda de 7% do PIB. Seria o pior resultado da série histórica do IBGE, com início em 1995. Na melhor hipótese considerada pelo Ibre, o indicador quase repete o desempenho de 2016, quando recuou 3,8%, diante da queda de 3,3% do PIB — projeção cada dia menos factível. A queda na massa de salários é recorde nos dois cenários.

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