Desmonte da Petrobras atinge em cheio trabalhadores do setor
Privatizações de subsidiárias geram desemprego e queda da renda entre petroleiros. Venda equivocada cria monopólios privados regionais, acusa coordenador da FUP
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Além dos prejuízos evidentes com a entrega do patrimônio público a interesses privados, como a disparada do preço dos combustíveis, o desmonte do Sistema Petrobras, promovido com intensidade desde Michel Temer, também gera impactos negativos para os trabalhadores do setor. A redução na média de empregos nos três primeiros trimestres de 2021 foi de 2,4%, enquanto o rendimento sofreu queda de 9,5% em comparação ao mesmo período de 2020.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles foram analisados por Rafael Rodrigues da Costa, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), junto com os economistas do Centro de Economia Política do Petróleo (Cepetro) Pedro Gilberto Cavalcante Filho e Claudiane de Jesus.
O resultado, afirmam os pesquisadores, é o contrário do que prometeram governo federal e analistas do mercado financeiro quando se iniciou o fatiamento das subsidiárias da Petrobras para entregá-las em leilões na Bolsa. As estatísticas oficiais revelam que era mera falácia a narrativa de que a política de privatizações de ativos da Petrobras teria impactos positivos sobre emprego e rendimentos.
O levantamento do Ineep aponta que, desde 2015, a Petrobras colocou 378 ativos em desinvestimento, 116 deles (31%) na Bahia. Não à toa, é no estado que se concentram os piores resultados de desemprego e queda de renda, após as vendas dos campos terrestres na bacia do Recôncavo e, mais recentemente, da primeira refinaria brasileira, a Landulpho Alves (Rlam), com toda a logística de terminais e armazenamento.
A média anual de 2021 registra uma retração de postos de trabalho de 28,9% na Bahia em comparação ao mesmo período de 2020. Perda média equivalente a 7.000 empregos (de 25.788, em 2020, para 18.328, em 2021). A queda nos salários chegou a 22,9%, saindo de um patamar médio de R$ 7.180,00, em 2020, para R$ 5.140,00, em 2021.
Ao comparar o estoque de empregos no setor de óleo e gás na Bahia ao programa de desinvestimentos da Petrobras, é possível observar que, no 3º trimestre de 2015, o setor empregava até 37.890 pessoas. Hoje, o setor petrolífero ocupa menos de 8.760 postos de trabalho na região, conforme as estatísticas do terceiro trimestre da Pnad 2021.
Embora a pandemia do coronavírus possa ser considerada também um fator importante para a diminuição nos postos de trabalho, o movimento de queda no mercado de trabalho baiano é um fenômeno que vem ocorrendo simultaneamente ao início do programa de desinvestimentos da Petrobras, destaca Rodrigues da Costa.
Efeitos nefastos da venda equivocada de ativos
Os resultados não surpreendem a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que vem alertando seguidamente para as consequências negativas do desmonte. “Queda do emprego e do salário e aumento nos preços dos produtos ao consumidor são efeitos nefastos de um mesmo fenômeno, que é a criação dos monopólios privados regionais, resultantes da venda equivocada de ativos da Petrobras”, aponta o coordenador-geral da entidade, Deyvid Bacelar, também diretor do Sindipetro-BA.
Levantamento do Observatório Social da Petrobras revela que desde 2015 a empresa se desfez de R$ 243,7 bilhões em bens. Entre os ativos negociados estão a rede de gasodutos do Norte e Nordeste TAG (Transportadora Associada de Gás), a controladora de gasodutos NTS (Nova Transportadora do Sudeste) e a BR Distribuidora.
A empresa quer ficar com apenas cinco das 13 refinarias que possuía no início de 2021. Conforme o plano de negócios para o período 2022/2026, haverá a venda de US$ 15 bilhões a US$ 25 bilhões em bens.
Os dirigentes sindicais alegam que o desmonte do sistema afeta as políticas de energia e petroquímica no país. A Petrobras e os ativos da empresa, afirmam, são parte fundamental dos investimentos e de todo o planejamento das cadeias de combustíveis, energia e petroquímicos no país.
“A venda de ativos acontece depois que a Petrobras correu todos os riscos, de uma estratégia com objetivos que iam além dos interesses apenas de lucro”, critica Vinícius Camargo, diretor do Sindipetro-RJ. “Além disso, é uma venda que ocorre no pior momento do setor, afetado pelo impacto da pandemia nos preços dos ativos.”
“Sem nenhum debate com a sociedade civil, a gente está substituindo monopólio estatal por monopólio privado estrangeiro”, diz Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) e do Observatório Social da Petrobras
Segundo Ildo Sauer, ex-diretor executivo da Petrobras (2003 a 2007), ao concentrar atuação apenas na área de exploração, a empresa perde a proteção contra as variações dos preços no refino ou na exploração e produção. “O que a Petrobras está fazendo é vender um ativo cujo valor presente do dinheiro que ela recebe está vinculado a um dispêndio que ela mesma vai ter nos próximos anos. A empresa está queimando seus ativos para converter em lucros e distribuir aos investidores”, finaliza.
Da Redação, com Imprensa FUP