Dólar mais baixo compromete indústria, apontam economistas

Equipe econômica do golpista Michel Temer (PMDB) está deixando real se valorizar frente ao dólar, o que pode comprometer recuperação das exportações

Foto: Carlos Severo/ Fotos Públicas

A recuperação das exportações e, consequentemente, da indústria, pode estar em risco com a nova onda de valorização do real frente ao dólar. Em 2015, a taxa de câmbio havia encontrado um novo patamar, mais alto (em dezembro, chegou a R$ 3,90), e que permitia que o produto brasileiro ficasse mais competitivo internacionalmente.

Desde o ano passado, o saldo comercial (diferença entre exportações e importações) estava positivo, ou seja: as exportações ultrapassavam as importações. Mas com a valorização recente, a indústria já teme perder essa vantagem competitiva.

“É bastante preocupante. A válvula de escape da crise nos últimos meses tem sido o setor externo”, afirma Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.

Segundo ele, apenas agora a indústria de fato começava a se beneficiar da depreciação do real, já que neste setor, as transformações são mais lentas do que, por exemplo, no setor de commodities (comércio de produtos agrícolas). Mas essa recuperação pode não ocorrer caso a nova valorização se concretize.

Para Cagnin, a desvalorização recente do dólar (que encontra-se em um patamar próximo a R$ 3,30) ocorre por dois motivos principais. Em primeiro lugar, fatores externos, como o Brexit (plebiscito que votou a saída do Reino Unido da União Europeia) mudaram as expectativas no cenário internacional, reduzindo as previsões de um aumento de juros nos Estados Unidos e estimulando o capital a procurar locais com taxas de juros mais altas e rentáveis para os investidores, como o Brasil.

Com mais dólar no mercado, a moeda americana se desvaloriza face à moeda nacional.

O outro fator é a expectativa de pouca interferência no mercado cambial por parte da nova equipe econômica, que tem Ilan Goldfajn à frente do Banco Central. Ou seja, segundo Cagnin, o mercado acredita que o BC deve deixar o câmbio flutuar e valorizar de acordo com os ventos do mercado.

“Para o mercado, o que volta à memória é o recurso de deixar a taxa de câmbio valorizar para controlar a inflação”, afirma o economista.

Isso porque com o dólar mais barato, o produto internacional também barateia, permitindo uma queda dos preços. O problema é que isso acaba por destruir a indústria nacional, já que ela se torna pouco competitiva frente aos produtos estrangeiros.

Em sua página no Facebook, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira afirmou que o Brasil vive um problema crônico de apreciação do real que acaba por comprometer sua atividade industrial e, consequentemente, seu crescimento econômico.

“A minha indignação maior (…) é ver economistas e políticos só falarem em déficit público e política fiscal, quando o grande problema são os déficits em conta-corrente e o real sobreapreciado no longo prazo, que inviabilizam o investimento nos setores tecnologicamente sofisticados da economia brasileira. É ver isto acontecer sem que as elites econômicas e políticas se deem conta do que este é problema fundamental da economia brasileira”, escreveu o economista.

Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias

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