Educação é o caminho para garantir direitos a população LGBT

Jornalista William De Lucca defende que é preciso tirar do papel o programa de combate a homofobia proposto no governo Dilma, pelo então ministro Fernando Haddad

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Jornalista William De Lucca

Há 29 anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou do seu rol de doenças a homossexualidade, após anos de pressão do movimento LGBT por despatologização e respeito. Hoje, para além de não sermos tratados como doentes, queremos ser tratados como cidadãos, a luta do movimento é por direitos iguais, como a garantia de identidade de gênero, o casamento igualitário e, principalmente, pela criminalização da LGBTfobia.

Neste dia de luta, eu gostaria, entretanto, de voltar alguns passos e pensar que, antes de pensar em criminalizar os crimes de ódio e intolerância contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, precisamos refletir sobre como evitar que nós, desta comunidade, sejamos vítimas destes crimes.

Não vou discutir aqui sobre a óbvia importância de criminalizar os crimes de ódio motivados por intolerância orientação sexual e identidade de gênero. Esta é uma pauta premente, e é preciso pressionar o legislativo e o judiciário para que estes crimes sejam punidos adequadamente. Entretanto, o caminho para retirar o país do obscurantismo que tem tragado nossas parcas conquistas é um só: educação.

A prioridade dos governos progressistas que ainda gerem cidades e estados no Brasil, no que tange os direitos da comunidade LGBT, é implementar programas robustos de combate a homofobia, transfobia e outras discriminações semelhantes.

É preciso que se crie, a partir das escolas, um ambiente de respeito a orientações afetivas e identidades de gênero, desde a primeira infância, para que tenhamos amanhã gerações compreendam que a diversidade é uma pedra fundamental de qualquer sociedade que se propõe democrática e inclusiva.

Temos de tirar do papel o “kit gay”. Não, não o delírio fascista de Jair Bolsonaro durante boa parte de seu último mandato como deputado e em sua campanha, que teria por finalidade “tornar crianças gays”, um descalabro que só faz sentido na cabeça de quem não compreende que orientação sexual e identidade de gênero não se aprende, não se ensina, não se muda.
É preciso tirar do papel o programa de combate a homofobia proposto no governo Dilma, pelo então ministro da Educação, Fernando Haddad, para capacitar professores e educadores a tratar sobre os temas da diversidade dentro da sala de aula. Programa este enterrado, de forma lamentável, pelo governo por pressão destes grupos conservadores que hoje governam o Brasil.

Criminalizar a homofobia desencoraja que intolerantes expressem seu ódio, mas não faz com que o ódio desapareça e que, ocasionalmente, floresça em forma de bullying, assédio, agressão e morte. Temos de impedir que o ódio nasça, e colocar, em seu lugar, hoje, um broto de diversidade para uma sociedade mais justa e democrática amanhã.

William De Lucca é jornalista, ativista LGBT, filiado ao Partido dos Trabalhadores

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