Elas Por Elas TVPT | Violência política e desafios culturais foram temas da live sobre direitos ameaçados no Congresso

Votação em lista, segurança nos espaços políticos e melhores condições foram algumas alternativas apontadas pelas convidadas

Da Redação, Agência Todas

Nesta quinta-feira, 02, o programa Elas Por Elas da TVPT recebeu Bárbara Libório, da Revista Azmina, responsável pelo levantamento que trouxe um dado alarmante: 1 em cada 4 projetos apresentado no Congresso sobre a temática de direitos femininos foi desfavorável às mulheres. 

Para aprofundar nesse fenômeno e começar a delinear causas e alternativas, o programa contou também com a participação de Teresa Sacchet, feminista, doutora em Ciência Política e professora da UFBA; Carmela Zigoni, assessora política do INESC; e Maria do Rosário, deputada federal pelo PT; com a condução de Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT. 

Bárbara sintetizou os dados da pesquisa Elas no Congresso trazendo que  60% das mulheres parlamentares produziram projetos com temática de gênero, contra apenas 30% dos homens.

“Ou seja, se a gente quiser que nossos temas sejam pautados, ‘a gente que lute’. Eleger mais mulheres significa retirar homens, porque o número de cadeiras não vai ampliar para que possamos entrar. Então não é do interesse deles que tenhamos mais espaço”, resumiu a integrante da Revista Azmina. 

Ao longo da pesquisa, Bárbara observou que as dificuldades não começam no Congresso, mas sim dentro dos partidos. Elas identificaram que é muito difícil para as mulheres entrar no mundo da política, ganhar espaços de liderança dentro do partido até conseguir ter um espaço para se candidatar. 

 

Partido das Trabalhadoras

Atualmente, a bancada de mulheres na Câmara Federal conta com dez deputadas, o maior número da história do PT. Maria do Rosário destacou que esse marco não foi aleatório, mas fruto de uma política interna estruturada e consolidada, para além da questão da paridade. Historicamente, o PT sempre foi vanguarda na participação política feminina com a constituição da cota de 30% de mulheres na instituição. No último Congresso, o PT foi além e conquistou 50% de paridade interna. 

“As principais funções partidárias hoje são ocupada por mulheres. Temos na presidência e em setores chaves como organização e finanças”, pontuou Maria do Rosário.  

Além do esforço interno, a deputada também salientou a importância do financiamento público que traz novas condições para a candidatura de mulheres. 

 

Mais mulheres. E mulheres conservadoras. E agora?

Maria do Rosário destacou que a luta por mais mulheres na política, seja pela participação do fundo partidário e do fundo eleitoral, tem sido uma batalha de toda a esquerda brasileira. E, de fato, há mais mulheres ocupando espaços. Mas quando abrimos a urna, percebemos que há mais mulheres conservadoras, ou seja, que atuam contra os direitos das trabalhadoras. 

“Esse fenômeno é parte do amadurecimento político do processo brasileiro. É bom que tenhamos rostos de mulheres de diversas matizes políticas e ideológicas. É mais difícil para as feministas fazerem o embate. Mas é importante para a experiência política brasileira”, afirmou Rosário, reforçando que cabe à esquerda e ao movimento feminista trazer essas mulheres para as pautas progressistas e defesa de direitos. 

 

Queremos mais.

 Dentre as alternativas apresentadas pelas convidadas para avançar na participação feminina na política, a votação em lista foi a que mais desencadeou debate.  Teresa Sacchet destacou a necessidade de criar condições objetivas para ampliar a representatividade de mulheres nos parlamentos — como a lista fechada com voto na legenda — no conjunto de candidatos e candidatas — e não personalista. Ela reforçou que além da desigualdade de gênero, o voto no indivíduo também cria desigualdades de renda na disputa, dando mais oportunidade a candidatos que tem financiamento próprio ou são financiados por quem tem muito dinheiro. 

“Temos sérias questões de engenharia eleitoral que precisa ser mudado para criar um campo de disputa igualitário entre homens e mulheres, negros e brancos etc”, Teresa Sacchet, doutora em Ciência Política e professora da UFBA. 

 

Violência política

Dentre os desafios para aumentar a representatividade de mulheres, a violência política foi uma das principais dificuldades apontadas. Rosário e Bárbara ressaltaram que, quando a mulher entra na política, ela encontra um espaço de muita hostilidade fruto da cultura misógina, patriarcal e machista da sociedade brasileira. 

“Temos a missão de, além de oferecermos o espaço político para elas ocuparem, é necessário garantir que seja um espaço seguro, respeitoso e democrático para as mulheres”, afirmou a deputada. 

Carmela Zigoni, assessora política do INESC, acrescentou outra pauta relevante que empurra as mulheres para fora da política e será necessário estar vigilante para isso. Em situação de isolamento social, já é mais difícil para as mulheres participarem da vida política, porque as tarefas de cuidado continuam sobre as costas delas “e o fato delas serem parlamentares ou dirigentes partidárias não muda esse fardo”, complementa. 

“Com a pandemia, os partidos tendem a criar mais desculpas e justificativas para a falta de mulheres, dizendo que elas não querem ou não se apresentam; mas sequer são capazes de oferecer condições objetivas para que elas participem, diante da desigualdade posta na sociedade”, diz Carmela. 

 

Por fim, o resumo é que as mulheres agregam mais qualidade à democracia, principalmente aquelas com um projeto político que transforme esse país em uma sociedade mais justa, humana e diversa. 

“Nem todo mundo quer que as mulheres sejam eleitas, realmente alguém não vai ter que estar naquele espaço. Daí a importância desse projeto político estruturado de formação, organização e preparação das candidatas — é Elas Por Elas”, finalizou Anne Moura. 

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