Escolas ocupadas em São Paulo estão protegidas por dois mil guardiões

Projeto da ONG “Minha Sampa” acompanha de perto a truculência da polícia, com a ajuda de voluntários

São Paulo - Ocupação por estudantes da Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, contra a reorganização das instituições de ensino proposta pela Secretaria Estadual de Educação (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Duas mil pessoas já se cadastraram em um sistema criado pela ONG “Minha Sampa” que tem por objetivo ajudar os alunos que participam das ocupações de escolas em São Paulo.

Os voluntários recrutados pela ONG são chamadas de guardiões e, após se cadastrarem, passam a receber mensagens de texto pelo celular com o avisos de casos de “desocupação forçada”, abuso de poder por parte de policias ou a própria reintegração de posse, não autorizada pela Justiça. A missão deles é acompanhar a ação, proteger as escolas e estudantes, além de filmar os atos.

O momento ocupou, até o momento, quase 200 escolas no estado, em protesto contra o projeto de “reorganização” proposto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que acarretará no fechamento de 93 unidades em todo o estado.

Segundo a diretora executiva da ONG, Ana Lívia Arida, o compromisso dos guardiões é acompanhar e auxiliar o diálogo sempre que receberem denúncias de tentativa de invasão da escola pela polícia.

O projeto “De Guarda pelas Escolas” foi pensado para o caso das ocupações em São Paulo por dois motivos, explica Ana Lívia, a ameaça real de reintegração de posse e a postura de colocar a Polícia Militar na porta das escolas.

“Mesmo com a decisão da justiça de não autorizar a reintegração de posse, percebemos que a presença da PM na porta das escolas era muito grande. Temos vídeos deles agredindo os estudantes. Por isso também achamos que seria uma grande contribuição ter uma rede de guardiões que tivéssemos o contato e pudéssemos acionar quando fosse necessário”, justifica.

Ana Lívia diz ainda que  a presença dos guardiões inibi uma possível ação mais violenta por parte dos policiais. “A gente sabe que quando tem mais gente acompanhando as ações da polícia, elas tendem a ser menos traumáticas para os estudantes”, afirma.

Para estar presente nesses momentos de conflito, a ONG acompanha pela justiça todas as decisões de reintegração de posse. Entretanto, em caso de truculência ou ameaça, são os alunos que entram em contato por meio de mensagens de celular e ligações avisando das situações.

Segundo o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), até sexta-feira (27), 193 escolas foram ocupadas no estado.

De acordo com a ONG, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pretende fechar 93 escolas, sem resolver o problema da superlotação que ainda atinge cerca de 15% das salas de aula paulistanas.

ONG Minha Sampa – Em sua descrição, a Rede Minha Sampa se diz formada por “milhares de paulistanos, de certidão e de coração, que acreditam na construção de uma São Paulo mais inclusiva, sustentável, criativa e acessível”.

A iniciativa nasceu há dois anos, no Rio de Janeiro, após o exemplo bem-sucedido do projeto Meu Rio, que possui 140 mil pessoas envolvidas em questões de transparência, participação e formulação de políticas públicas. Logo depois, eles formaram a Rede Minhas Cidades, que leva as ferramentas e metodologias para 20 cidades brasileiras e 10 fora do país.

Denúncia – Se você quer fazer parte do projeto e se tornar um guardião, basta entrar no site (www.deguardapelasescolas.minhasampa.org.br) e se cadastrar.

Por meio do telefone 11-98503-6622, os estudantes que fazem parte da manifestação podem entrar em contato com a ONG para fazer denúncias e pedir ajuda.

Por Danielle Cambraia, da Agência PT de Notícias

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