Evento critica papel da Globo e da grande mídia no golpe

Em São Paulo, Paulo Henrique Amorim e Renata Mielli explicam a influência dos monopólios de comunicação em criar condições ao impeachment de Dilma

O jornalista Paulo Henrique Amorim e a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Renata Mielli, dividiram a mesma mesa de debate nesta segunda (9) na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) para discutir a influência dos monopólios de comunicação sobre a sociedade brasileira e como essa visão única da cobertura da grande imprensa pode ser combatida. O Ciclo de Debates Que Brasil é Este? é organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

Para uma plateia que lotou o auditório da FESPSP, Renata explicou como a mídia cria padrões de comportamento e consumo sobre a população e a importância fundamental da democratização da comunicação pública.

“Muitas vezes, as pessoas enxergam a si mesmas pelas lentes dos meios de comunicação de massa. Esses meios, no Brasil,  são um pequeno grupo de empresas capitalistas que determinam o que é notícia e como ela será dada. Na maioria das vezes a mídia não dialoga, mas unidireciona sua mensagem ao espectador”, destacou.

Ela lembrou de uma capa da revista “Veja” que mostrava “o lado ruim” de garantias de direitos trabalhistas a empregadas domésticas. “A empregada passar a ter direitos se tornou um ‘você, homem executivo branco, vai ter de lavar a própria louça’”, criticou.

A coordenadora também destacou as capas do semanário em que mostram Aécio Neves (PSDB-MG) e o juiz Sérgio Moro com aparência de “super-heróis”, enquanto tratam de forma bem mais agressiva figuras ligadas ao PT.

Para ela, o papel dos grandes veículos de comunicação – principalmente a Rede Globo – tornou possível o ressurgimento de discursos fascistas no País.

“Quando vemos os comentários fascistas nas ruas e nas redes, achamos que alguém abriu a caixa de pandora. Mas não, esses fascistas sempre existiram. A diferença que até pouco tempo atrás era algo muito ruim se assumir a favor da ditadura ou da tortura. Só que a mídia influenciou e criou condições para essa gente perder a vergonha de falar o que pensa”.

Renata diz que as novas mídias alternativas mostram uma chance de saída, mas ainda é algo muito pequeno perto do poder das empresas gigantes. De acordo com ela, é fundamental criar alternativas ao discurso único e conservador da Globo.

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“Quando eu digo democratizar a mídia, não digo democratizar a Globo. É que haja outras emissoras, com outros pensamentos e o poder de disputar a atenção das pessoas”.

“O golpe é a Globo”
“O Jornal Nacional orientou o golpe, igual o farol orientava os piratas”, afirmou Paulo Henrique Amorim, em relação a cobertura política feita pela emissora carioca.

Ele criticou Dilma Rousseff em relação uma suposta passividade da presidenta aos ataques midiáticos que vem sofrendo, principalmente após 2014. “Quando mais apanhava, (a presidenta) menos reagia, mais mostrava fragilidade. Eles viram que ela não reagia e continuavam”.

“A Dilma descreve o crime do golpe, mas não diz quem é o criminoso. É a Globo, Dilma!”, destacou.

De acordo com Amorim, a Itália e os Estados Unidos estão entre os poucos países desenvolvidos do mundo que não têm emissora de TV estatal forte. “Silvio Berlusconi e Donald Trump são grandes responsáveis por isso”.

Para ele, não haver uma TV pública com grande audiência no Brasil é um dos responsáveis pelo risco de o golpe se consumar contra Dilma.

Sobre o possível impeachment da presidenta, o jornalista destacou que o eventual governo do vice Michel Temersinalizou claramente que vai mexer nos direitos da imensa maioria da população.

“Esse golpe é para entregar a Petrobras, mexer no salário mínimo, nos direitos trabalhistas, na Previdência. As vísceras do projeto golpista estão à vista de todos. Eles acham que o povo não está prestando atenção? Que ligam no ‘Bom Dia Brasil’ e falam ‘olha, que coisa, temos um novo presidente’? Será árduo, mas vai ter luta, e o pau vai comer”.

A reação popular contra o governo ilegítimo pode mostrar, de acordo com Amorim, uma faceta ainda mais autoritária do próximo governo. “E se o pau comer e o Temer baixar um estado de sítio? É algo possível”.

Uma senhora na plateia, com olhar assustado, interrompeu a fala do jornalista e perguntou: “O que podemos fazer para barrar tudo isso?”. Um espectador respondeu por Amorim: “Luta. Só luta”.

Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias

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