Extermínio: com Covid-19, 2021 pode ser o ano mais letal da história

País terá 1 milhão de mortes naturais até julho, 83% do esperado em 2021, alerta Miguel Nicolelis. Ele participou de artigo na ‘Scientific’ Reports’, que analisa números macabros da gestão de Bolsonaro

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Artigo publicado na 'Scientific Reports' recupera, desde março de 2020, plano de Bolsonaro para disseminar o vírus da Covid-19 no país

A gestão negligente e irresponsável de Jair Bolsonaro da pandemia não apenas resultou na maior tragédia humanitária de todos os tempos no Brasil. Pesquisadores de diversas áreas ainda irão debruçar-se por anos a fio para entender como a morte de centenas de milhares de pessoas irá impactar o país nas próximas décadas. Por enquanto, um novo artigo, publicado na revista Scientific Reports, ajuda a jogar luz sobre como o plano pensado e executado por Bolsonaro fez de 2020 o ano mais mortal da história. E, pelo andar da carruagem, 2021 pode superar o ano passado.

O país deve ultrapassar um milhão de mortes por todas as causas até julho, segundo o Registro Civil, alerta o neurocientista Miguel Nicolelis, um dos coordenadores do artigo, em entrevista ao El País. O número representa 83% dos óbitos esperados para 2021 – cerca de 1,2 milhão de perdas -, antecipando um ano que pode ser ainda mais letal que o de 2020. O estudo, que recupera dados da pandemia desde março de 2020, data do registro da primeira morte no país, foi elaborado coletivamente com os pesquisadores Rafael L. G. Raimundo, Pedro S. Peixoto e Cecilia S. Andreazzi.

Em 2020, o número de pessoas que morreram por causas naturais no Brasil foi o maior da história, graças aos milhares de óbitos registrados devido à pandemia de Covid-19. Pelo registro de Estatísticas Vitais de óbitos do Registro Civil, mais de 1,4 milhão de brasileiros faleceram no ano passado, um crescimento de 8,6% em relação ao ano anterior, que teve uma média anual de aumento de mortes de 1,9%. As mortes em domicílio aumentaram 22,2%. No centro dos números explosivos, as infecções por Covid-19.

De acordo com Nicolelis, as mortes incluem pacientes internados que não fizeram testes para Covid ou mesmo os que não tiveram chance de ser atendidos em meio ao colapso da rede hospitalar. Para o cientista, os registros dão “uma visão mais completa da tragédia”, claramente maior do que os números oficiais apontam.

Segundo Nicolelis, o prognóstico para os próximos meses é igualmente trágico e sombrio, infelizmente. “Estamos fazendo tudo exatamente igual, cometendo os mesmos erros na terceira onda de contágios”, constatou o cientista, comparando com a catástrofe de 2020.

Desastre começou em março de 2020

O artigo dos cientistas revela e analisa as decisões e estratégias – ou falta delas – que levaram ao desastre brasileiro. As omissões tiveram início logo após o governo ser alertado sobre os riscos de uma onda de contaminações pelo coronavírus, a partir do registro do primeiro caso no país, no final de fevereiro. 

“O erro primordial foi não ter fechado o espaço aéreo, nossa principal porta de entrada. Depois, não ter feito um lockdown sério em São Paulo. Nós também não fizemos barreiras nas 26 principais rodovias federais”, analisa Nicolelis, apontando que São Paulo causou 85% da disseminação da doença nas três primeiras semanas da pandemia.

O estudo também destaca o papel das capitais nos três primeiros meses da pandemia, com 17 delas concentrando a quase totalidade da disseminação, entre 98% e 99% das contaminações por Covid-19. Rodovias também tiveram grande impacto, respondendo por cerca de 30% das infecções.

“A pandemia escancarou o despreparo da classe política brasileira para lidar com as crises do século XXI″, lamentou Nicolelis. O trabalho do cientista mostra que ele deveria ser mais ouvido pelas autoridades brasileiras. Nicolelis acertou em cheio nas previsões, feitas em março, sobre a triste marca de meio milhão de mortos, superada no último sábado (19).

Da Redação, com El País e Correio Braziliense

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