Falso relatório do TCU revela como Bolsonaro ataca a democracia por dentro
Autor de estudo fraudulento que diminui número de mortes na pandemia é filho de coronel premiado com cargo na Petrobras. Farsa mostra atuação do bolsonarismo contra as instituições do Estado
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O falso relatório do TCU que questionava o total de mortes na pandemia é muito mais que outra das mentiras contadas por Jair Bolsonaro. O episódio revela, na verdade, a ação de bolsonaristas infiltrados no governo para defender os interesses do atual presidente, nem que para isso tenham de falsificar documentos.
Ao investigar o caso, o Tribunal de Contas da União descobriu que, após ser produzido pelo auditor Alexandre Figueiredo Costa e Silva Marques, o relatório com as informações mentirosas foi enviado a Bolsonaro pelo pai do servidor, um militar amigo do atual presidente, informa Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo. “As famílias de Costa e Silva e de Bolsonaro seriam tão próximas que o auditor chegou a ser indicado para uma diretoria do BNDES em 2019. Sua posse foi barrada pelo próprio TCU por conflito de interesses, já que o tribunal fiscaliza o banco”, escreve a jornalista.
O portal Metrópoles acrescenta que o pai do servidor é Ricardo Silva Marques, coronel que ganhou cargo na Petrobras durante o governo Bolsonaro. “O militar foi nomeado gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras em 2019. Desde então, o coronel já se reuniu três vezes com Bolsonaro, no Palácio do Planalto. Durante a pandemia do novo coronavírus, Ricardo Marques se reuniu com o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB), e com a assessoria dele”, conta o site.
Segundo descobriu o jornalista Vicente Nunes, do Correio Braziliense, o tal relatório é descrito pelos demais auditores do TCU como uma peça política, baseada em uma conta rasa de matemática e sem qualquer fundamento. Após produzi-lo, Marques tentou incluí-lo no 6º Relatório de Monitoramento feito pelo órgão, o que foi barrado pelos colegas de trabalho.
Ataque aos governadores
Assim, restou a Bolsonaro fazer ele mesmo a divulgação dos dados falsos, em uma clara tentativa de se eximir da responsabilidade por quase meio milhão de mortes e, ao mesmo tempo, atacar os governadores. Afinal, acuado pela CPI da Covid, o atual presidente tenta a todo momento empurrar a responsabilidade do desastre sanitário que produziu para os gestores estaduais.
Na maior cara de pau, Bolsonaro insiste na farsa. Nesta quarta-feira (9), voltou a falar do tema em frente ao Palácio da Alvorada. “Alguns governadores, para poder receber mais dinheiro, notificavam mais mortes por Covid”, acusou, sem prova alguma, escancarando de vez sua verdadeira intenção com a farsa.
O bolsonarismo tem usado como uma de suas estratégias de poder a cooptação de simpatizantes — seja dentro das Forças Armadas e das Polícias Militares, seja no interior de órgãos e empresas públicas — dispostos a burlar a lei e produzir fake news para favorecer o atual presidente e prejudicar adversários. Algo totalmente incompatível com a democracia.
Punição necessária
Este novo episódio no TCU lembra o caso do delegado Felipe de Alcântara de Barros Leal, afastado em abril passado após produzir um laudo paralelo que buscava desacreditar a autenticidade das mensagens de celular apreendidas na Operação Spoofing — aquelas que mostraram o conluio entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato para incriminar o presidente Lula.
O mínimo que se espera é que medidas sejam tomadas também agora contra Alexandre Costa e Silva Marques e seu pai. Nesta quarta-feira, o corregedor do TCU, Bruno Dantas, pediu que o auditor fique afastado de suas funções por pelo menos 60 dias e tenha seu login de acesso ao sistema da Corte bloqueado.
Dantas abriu um processo administrativo contra Marques. Segundo ele, se ficar provado que o auditor produziu o estudo paralelo com interesses políticos e ideológicos para favorecer o presidente da República, a situação dele se agravará ainda mais, pois não é permitido que servidores do tribunal usem suas funções de forma política, informa o Correio Braziliense.
Da Redação