Famílias de trabalhadores participam de ato contra fechamento da Toyota

Fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo, nesta semana, afeta 580 trabalhadores e suas famílias, além de impactar na cadeia produtiva da região

Adonis Guerra

Moyses Seleges, presidente do SMABC

‘Tocar o coração’ da direção da Toyota para que, ao menos, os dirigentes da multinacional sentem-se à mesa de negociação para tratar de alternativas para o futuro dos 580 trabalhadores e suas famílias ameaçados com o fechamento da unidade em São Bernardo do Campo. Este foi o propósito de um ato realizado na manhã desta sexta-feira (8) em frente à fábrica que, além dos trabalhadores da montadora, reuniu esposas, esposos, filhos e filhas.

Leia mais: Toyota decide fechar sua primeira fábrica no Brasil, em São Bernardo

Sem diálogo prévio com a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), a Toyota anunciou, na terça-feira (5), o encerramento das atividades da unidade e a transferência da produção para as outras plantas, em diferentes cidades do interior paulista. Sem garantias suficientes de estrutura para os trabalhadores nem de manutenção do emprego, a fábrica chegou a oferecer a transferência dos trabalhadores para as outras unidades.

Dirigentes do SMABC explicam que a direção não garantiu por exemplo, recursos para que os trabalhadores mudem de cidade. E argumentam que é penoso para uma família mudar radicalmente de vida, de uma hora para outra, em função de uma decisão assim, e sem quaisquer perspectivas de estabilidade.

Eles explicam também que outras soluções são possíveis para que a empresa continue operando na cidade, mantenha os empregos, continue sendo lucrativa e cumprindo com seu papel econômico e social na região.

“Vamos fazer tudo pra reverter essa decisão”, disse o presidente SMABC, Moysés Selerges. Durante o ato, em diálogo com as dezenas de famílias que serão impactadas com a decisão da montadora, o dirigente falou sobre os ‘sonhos’ dos trabalhadores.

“Nós do sindicato sempre falamos em projeto, que temos um projeto, mas o que isso significa? Nosso projeto é que a gente possa ter um emprego, dinheiro no fim do mês, comida para a família, uma casa para morar, um carrinho para passear no fim de semana, que a gente possa dar estudo aos filhos […] nosso projeto é ser feliz”, disse Moysés.

E este sentimento faz parte da vida de todos aqueles que reservaram a manhã desta sexta para participar desta luta. A direção da empresa tem se mostrado intransigente em relação à decisão e o sindicato tem cobrado um posicionamento ‘mais humano’.

Ainda na manhã da quinta-feira (7), os trabalhadores participaram de uma assembleia em frente à sede do SMABC sair em caminhada pela principal rua de comércio de São Bernardo e, reunir as famílias nesta manhã.

“Fizemos um debate propositivo em que ficou clara a sensação de indignação, mas não fomos agressivos e fizemos a passeata […], mas mesmo assim a empresa foi à Justiça pedindo um julgamento do nosso movimento como abusivo”, disse Wellington Damasceno, diretor administrativo do sindicato.

De acordo com o dirigente, uma reunião de mediação no Ministério do Trabalho foi marcada para a tarde desta sexta-feira, em que os dirigentes irão expor os motivos da manifestação contra o fechamento.

“Não estamos pedindo nada demais além conversar”, pontuou o presidente do sindicato, Moysés Selerges, em sua fala aos presentes.

Trabalhadores da Toyota e seus familiares durante ato nesta sexta – Foto: Adonis Guerra

As famílias

O fechamento da Toyota em São Bernardo do Campo, a exemplo de outros casos como o da Ford, no ano passado, é resultado do que as montadoras chamam de reestruturação, um processo característico do capital para reduzir custos com impacto direto na força de trabalho, ou seja, demitindo trabalhadores, sem avaliar alternativas viáveis para manter a produção – e o emprego – eles lucram mais.

Damasceno citou casos da própria montadora em que fábricas da Venezuela e Argentina, reaproveitou a mão de obra para fazer outros produtos (como mesas a partir de material sobressalente de outras unidades e pick-ups de modelos mais simples) e, desta forma, tanto os trabalhadores foram protegidos como a empresa manteve seus lucros.

Mas, para além disso, ele ressaltou, há a questão da responsabilidade social e econômica da cidade, já que o fechamento da fábrica significa mais desemprego, menos famílias consumindo e menos arrecadação para o município, dinheiro que, via de regra, é revertido à própria população em áreas como saúde e educação, por exemplo.

Mais ainda, afeta a cadeia produtiva. Outras indústrias também sentirão o impacto já que fornecem peças e matéria prima para a produção nessas montadoras.

“Este ato é uma demonstração de que não é um debate sobre a vida do trabalhador dentro da fábrica mas que qualquer decisão assim afeta toda a sociedade. Afeta principalmente as famílias desses trabalhadores”, afirmou Aroaldo Oliveira Silva, dirigente do SMABC e presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC.

“Triste é que o cenário do desmonte de uma indústria da região e o impacto que isso tem em toda sociedade e a gente precisa mostrar o isso significa. Por mais que venha algo no lugar, como um centro de logística, vai ter meia dúzia de trabalhadores com salários de um terço do valor atual”, disse o dirigente, reforçando que uma negociação pode chegar em soluções mais justas.

Não é só o risco do emprego, mas também a sobrevivência da economia de todo o ABC e a Toyota tem que cumprir com sua responsabilidade social”, disse Aroaldo citando, inclusive, que a empresa se beneficiou de isenção fiscal para se estabelecer no município. Além disso, ele complementou, foi a força dos trabalhadores que ajudou construir a evolução da montadora na cidade, ao longo dos anos.

A unidade de São Bernardo foi fundada em 1962 produzindo as clássicas peruas Toyota Bandeirante. Após encerrar a produção do modelo, em 2001, a fábrica passou a produzir somente peças utilizadas em outros modelos fabricados nas unidades de Porto Feliz, Itu e Indaiatuba, todas no interior de São Paulo.

Portal da CUT

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