Gleisi Hoffmann: é o Foro de São Paulo que defende a democracia

“O governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro mente sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na imprensa”, afirma Gleisi em artigo publicado na Folha de S. Paulo

Karol Santos

Gleisi Hoffmann

Como faz desde 1990, o Partido dos Trabalhadores estará presente à 25ª reunião do Foro de São Paulo, que neste ano se realiza em Caracas. O PT e mais de 120 partidos políticos progressistas e de esquerda de 25 países latino-americanos e caribenhos, além de centenas de observadores de todo o mundo, incluindo 60 representantes de movimentos sociais dos Estados Unidos que pela primeira vez participam do Foro.

Debateremos as opções progressistas e de esquerda na construção de alternativas ao neoliberalismo que devastou a região nas últimas décadas do século 20 e vem se impondo novamente, muitas vezes por meio de governos autoritários e de origem não democrática.

Em nossa concepção, ser de esquerda é defender a igualdade das pessoas em direitos sociais e econômicos e lutar por um Estado que promova o desenvolvimento com inclusão, frente à ferocidade do mercado. É ser contra a fome e a pobreza.

Nesses 29 anos, o Foro de São Paulo vem mantendo o compromisso de sua declaração inaugural “com a vigência dos direitos humanos, com a democracia e a soberania popular”.

Partidos ligados ao Foro chegaram, sempre pelo voto, ao governo de mais de uma dezena de países: Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia, Paraguai, Equador, entre outros. E em todos a opção democrática resultou em redução das desigualdades, mais direitos, crescimento e soberania.

As questões que se colocam hoje para o campo de esquerda e progressista na América Latina e no Caribe ligam-se ao avanço do neoliberalismo e do imperialismo no mundo e na região, com suas trágicas consequências de aumento da pobreza, ameaças à democracia e à paz, tentativas de ingerência econômica, política, social e até mesmo militar. Por isso, o tema central do Foro neste ano é “pela paz, soberania e prosperidade dos povos”.

Ao lado de bandeiras históricas como o fim do criminoso bloqueio econômico dos Estados Unidos contra o povo de Cuba, o PT defenderá no Foro a construção da paz na Venezuela, apoiando os diálogos de negociação promovidos pelo governo da Noruega, e também na Colômbia, onde centenas de lideranças sociais e populares foram mortas desde os acordos de paz de 2016.

Aqui vale lembrar que do Foro participam partidos políticos comprometidos com a via democrática. O ingresso das Farc se deu só após a conversão em partido legal, a Fuerza Alternativa Revolucionaria del Común, no âmbito do acordo de 2016. Também foi depois de depor as armas e atuar como partido que o M-19 colombiano participou, nos anos 1990.

Tratar um fórum político de tais dimensões como se fosse uma organização secreta, uma rede clandestina de seitas terroristas, há muito deixou de ser mera demonstração de ignorância ou preconceito ideológico.

O governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro mente sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na imprensa, na academia e até nos meios diplomáticos. Sua visão autoritária de mundo exclui a existência do outro. Legítimos, para eles, só os fóruns entre seus iguais, como a conferência de partidos conservadores que a família Bolsonaro quer realizar no Brasil, ou o Prosul, criado para atacar a Unasul e os países que ainda exercem sua soberania frente aos Estados Unidos.

Democracia é a palavra-chave na construção de uma sociedade mais justa e é disso que tratamos no Foro. Essa pauta inclui necessariamente a liberdade de todas as lideranças políticas e sociais da região, especialmente a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem o que não se pode falar em respeito aos direitos democráticos no Brasil. Como se vê, é o tão combatido Foro de São Paulo que levanta as bandeiras mais avançadas diante da crise política, social, econômica e de valores civilizatórios que vivemos.

Gleisi Hoffmann é Deputada federal (PT-PR), presidenta nacional do PT, ex-senadora (de fev. a jun.2011 e de fev.2014 a jan.2019) e ex-ministra-chefe da Casa Civil (2011-2014, governo Dilma)

Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo

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