Ilegal, nova corrida do ouro cresce na Amazônia, denuncia ‘Financial Times’

Bíblia do liberalismo britânico detalha em ampla reportagem como omissão do governo federal permitiu aumento do garimpo na região, com florestas sendo devastadas por criminosos para a instalação de máquinas de extração do metal. “Agências de proteção ambiental do Brasil – historicamente um baluarte contra a destruição da maior floresta tropical do mundo – estão sem financiamento e sem pessoal desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência”, relata o ‘Financial Times’

Uma nova e ilegal corrida do ouro na Amazônia é tema de extensa reportagem do jornal britânico ‘Financial Times’, publicada nesta semana. O diário denuncia como a omissão do governo Jair Bolsonaro permitiu a criação de um esquema sofisticado de extração do metal, com a destruição de áreas como a Reserva Biológica Maicuru, no Pará, para a instalação de equipamentos para a operação. A negligência abriu o caminho para o fortalecimento do crime organizado internacional e representa uma ameaça à vida das comunidades locais, sobretudo dos povos indígenas.

A reportagem, assinada por Bryan Harris, Sam Cowie e Gideon Long, revela que o esquema foi descoberto em outubro, quando helicópteros militares brasileiros sobrevoaram a região e depararam-se com a operação de mineração ilegal “que surpreendeu por sua sofisticação”.   

“Havia um sistema de motores para retirar ouro de cavernas profundas e pistas de pouso abertas em volta da floresta tropical para levar a carga embora’’. Segundo um agente da Polícia Federal declarou ao jornal, a construção de pistas de pouso exigem um investimento em larga escala.

O jornal relembra a cultura de enriquecimento rápido que a corrida do ouro provocou nos anos 80, quando “cenas medievais de brutalidade da mineração selvagem e da destruição desenfreada deixada em seu rastro chocaram o mundo em um momento em que o destino da floresta amazônica estava se tornando uma preocupação em escala global”.

Alta do preço do ouro

Agora, a extração ilegal voltou a ser intensificada, sobretudo em função da disparada do preço do ouro neste cenário de crise. Segundo o ‘FT’, boa parte do metal é exportado para países como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.

Na última década, bancos centrais das nações mais poderosas passaram a acumular reversas em ouro, comprando mais do que vendendo, segundo dados da publicação ‘Forbes’. Entre elas estão os EUA, que ocupam o primeiro lugar entre os países com a maior reserva de ouro, a Russia e a China.

Já a Venezuela, objeto do apetite americano por suas riquezas naturais, principalmente petróleo, é um dos maiores vendedores do planeta.  Em junho deste ano, a Venezuela esteve no centro de uma disputa legal com o Reino Unido, que recusou-se a devolver mais de 30 toneladas do metal ao povo venezuelano por “não reconhecer” o governo de Nicolás Maduro.

Devastação e ameaça aos indígenas

A reportagem do ‘FT’ apurou que uma área de floresta equivalente ao tamanho de mais de 10 mil campos de futebol foi destruída por garimpeiros ilegais no ano passado, de acordo com o Ibama. A devastação sofreu um aumento de 23% em relação a 2018. Como se sabe o órgão tem sofrido sucessivos ataques por causa da política de desmonte promovida por Bolsonaro aos órgãos de proteção  ambiental. “Isso é parte de um surto mais amplo no desmatamento na região amazônica”, denuncia o ‘Times’.

Além disso, aponta o jornal, para processar o ouro, os mineiros usam mercúrio, que se espalha pelo ar e pelos rios, contaminando a produção local e afetando as comunidades locais. “Com a mineração ilegal também vem a violência”, observa o ‘FT’. “Várias tribos indígenas na Amazônia brasileira, incluindo os Munduruku e Yanomami, estão sob constante ameaça de mineiros que muitas vezes estão armados e trabalhando para quadrilhas do crime organizado”. A polícia reconhece que assassinatos “são comuns”.

Ascensão do crime organizado

“O risco do ouro ilegal é que os lucros possam ser usados para promover mais ilegalidades, incluindo tráfico de drogas e armas e até terrorismo”, alerta o diretor da Agência Nacional de Mineração, Eduaro Leão, em depoimento ao diário. “Se não resolvermos esse problema, perderemos essa guerra ”, adverte.

Segundo afirmou ao jornal o procurador da República em Santarém, Paulo de Tarso, a falta de regulamentação e aplicação da lei prejudica o trabalho de investigações da Polícia Federal. “Nosso trabalho é como tentar impedir que o gelo derreta.”

“A capacidade de fiscalização dos poucos policiais locais desaparecem no terreno vasto e inóspito, enquanto as agências de proteção ambiental do Brasil –historicamente um baluarte contra a destruição da maior floresta tropical do mundo – estão sem financiamento e sem pessoal desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência no ano passado”, relata o jornal.

Da Redação, com informações de ‘FT’, ‘BBC’ e ‘Forbes’

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