Lula defende lei trabalhista modernizada, e que respeite o trabalhador

Segundo o ex-presidente, proposta não é simplesmente revogar reforma trabalhista e “voltar ao passado”. “Queremos reconstruir a relação de trabalho”, disse, em entrevista a rádio de Tocantins

Ricardo Stuckert

Lula: "É preciso ter projeto. E qual é o projeto do atual governo? Não existe"

Lula explicou, nesta terça-feira (19), em entrevista à Rádio Conexão, de Tocantins, o debate que pretende fazer sobre a reforma trabalhista, caso volte a governar o país. Segundo o ex-presidente, que é pré-candidato às eleições deste ano, a proposta que defende não é um simples retorno ao passado, mas a construção de uma legislação moderna e, ao mesmo tempo, justa para os trabalhadores.

“Eu recebi um documento do movimento sindical, todas as centrais sindicais me apoiaram, não para a gente revogar (a reforma trabalhista), porque ninguém quer a volta ao passado. A gente quer reconstruir, (criar) uma relação de trabalho moderna, que leve em conta o mundo do trabalho de hoje, os avanços tecnológicos. Mas os trabalhadores precisam ser tratados com respeito, não podem ficar reféns, sem ter nenhuma seguridade social”, defendeu Lula (assista à íntegra no fim desta matéria).

O ex-presidente destacou que, lamentavelmente, a reforma trabalhista aprovada no governo de Michel Temer apenas se preocupou em retirar direitos e não ajudou o Brasil a gerar empregos. “O que eles fizeram foi a destruição dos direitos conquistados, oferecendo ao trabalhador um nada, um emprego intermitente, a ideia do empreendedorismo como se você entregar comida numa moto ou numa bicicleta ou se você trabalhar no Uber fosse empreendedorismo. Sem que o trabalhador tenha nenhum direito, nenhuma seguridade social, não tenha descanso semanal remunerado, férias, 13º, Natal, ano-novo. Ou seja, nós voltamos quase que a um tratamento do tempo da escravidão”, avaliou.

O correto, afirmou Lula, é rediscutir as relações trabalhistas em uma mesa de negociação envolvendo todos os setores. “O que eu quero fazer? Criar uma mesa de negociação entre governo, empresários e sindicatos, se for necessário chamaremos as universidades, para que a gente construa uma nova relação de trabalho, mas civilizada, mais moderna, mais humanitária do que a que nós temos hoje.” 

Mais investimentos

Não é retirando direitos que se cria mais emprego, garantiu Lula, lembrando que nos governos dele e de Dilma Rousseff foram criados cerca de 20 milhões de vagas sem que os trabalhadores fossem prejudicados. “Não existe saída para o Brasil se ele não voltar a crescer. Para que ele volte a crescer, o governo tem que ter a iniciativa de colocar dinheiro para movimentar a economia. Ou dinheiro através do orçamento, ou dinheiro através dos bancos de desenvolvimento”, argumentou.

“O que não dá é para você ficar paralisado”, completou. “O Brasil tem que ser consertado. E quem vai consertar é um governo que saiba como consertar. É chamar os empresários e discutir um programa de desenvolvimento e de investimento. É ter credibilidade no exterior para convencer os empresários a virem investir em projetos novos, projetos rentáveis, que signifiquem a melhoria da qualidade da infraestrutura deste país. Quando eu era presidente, o Brasil era um dos três países a mais receber investimento direto, porque, quando as coisas estão bem, o mundo inteiro quer investir. Então, é preciso ter projeto. Qual é o projeto que tem o atual governo? Não existe. A única coisa que eles fazem é colocar o patrimônio público, que é do povo, à venda.”

De acordo com Lula, é a falta de projeto e de visão de futuro do governo Bolsonaro que está matando a indústria nacional. “Pra você se transformar num país industrial, é preciso que você tenha competência de fazer investimento em ciência e tecnologia, é preciso que você faça mais universidades, mais escolas técnicas. Quando eu estava na Presidência, o Brasil conquistou o 13º lugar no ranking de artigos científicos nas revistas especializadas, porque fizemos muito investimento em ciência e tecnologia. E isso acabou.” 

Para ele, a participação da indústria no PIB vem caindo porque o Brasil deixou de investir na área. “Não adianta a gente ficar reclamando. Nós precisamos tirar o atraso e fazer investimento, para que a gente possa, daqui a 10, 15 anos, a gente ter uma nova geração de pesquisadores, engenheiros, cientistas, para que a gente possa discutir nichos de indústrias que possam ser competitivos no mercado internacional. O Brasil não quer ficar só sendo exportador de commodities. O Brasil quer produzir também produtos de valor agregado.

Combate à pobreza

Perguntado sobre o que fará a respeito dos programas de combate à pobreza caso seja eleito, Lula lamentou que Jair Bolsonaro tenha acabado com o Bolsa Família para criar um programa eleitoreiro.

“Não vamos comparar o Bolsa Família com o Auxílio Emergencial, porque o Bolsa Família tinha a motivação de fazer as pessoas melhorarem de vida. Uma pessoa para receber o Bolsa Família, primeiro o dinheiro era na mão da mulher. Segundo, ela tinha que colocar os filhos na escola e garantir que estava dando vacina nos filhos. Depois, ela, se estivesse grávida, tinha que fazer todos os exames pré-natais. Era um programa com condicionantes. O que o Bolsonaro está fazendo é um programa de transferência de dinheiro na perspectiva simplesmente eleitoral. Até quando isso vai durar? Até quando acabar as eleições?”, criticou Lula. 

Da Redação

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