Mães feministas

Onde ficam as mulheres mães dentro da luta?

Laurenice Noleto é jornalista e foi a minha primeira referência como feminista, conheci essa grande mulher, que também é escritora, artesão licoreira e ativista dos Direitos Humanos enquanto cursava jornalismo, durante o lançamento do primeiro coletivo feminista da minha universidade.

Me lembro de Nonô Noleto falando sobre sua luta e como sua família fez parte de toda a sua formação e construção política. Como seu marido, filhos e netos sempre foram também companheiros de trincheira. Com a proximidade do dia das mães, conversei com Nonô e duas outras mães feministas sobre como é fazer a luta das mulheres tendo também a responsabilidade de maternar.

“Eu sou de um tempo em que não se falava em feminismo. Porque não se falava nem mesmo nos direitos da mulher em geral. Eu quebrei muitos tabus da minha geração. Principalmente quando se morava no interior do Brasil, numa época sem TV, praticamente sem  anticoncepcional, sem camisinha, quando as mulheres só saiam de casa para as casas de seus maridos – e virgens.  E eu saí de casa pra morar sozinha, com colegas de faculdade, na mesma cidade que meus pais. Eu não me casei virgem. Eu tive filhos mais ou menos  programados. Fiz aborto, com o apoio do meu marido. Fui vanguarda o tempo todo. Depois, descobri que tudo isso era feminismo.  Eu era feminista e não sabia!”, conta Laurenice.

Para Paula Beiro, servidora pública aposentada, as mães têm um papel fundamental dentro da luta feminista. Levar adiante os compromissos éticos e sociais do feminismo, é uma tarefa também para as mulheres mães, considerando que serão as suas filhas e filhos as cidadãs e cidadãos do futuro próximo.

Entre muitas outras lutas dos direitos humanos e específicas da mulher, a feminista que é mãe tem ainda como importante tarefa a educação de filhos e filhas para a liberdade e o respeito à diversidade.

“Mãe feminista tem muita força na interrupção da cultura da misoginia, do machismo, do feminicídio das fobias e preconceitos contra todas as formas não tradicionais de classificação de gêneros, da diversidade sexual, enfim das diferentes formas de amar.”, diz Nonô.

Rose Nascimento, 28 anos, é mãe da Analuz, de 1 ano e 4 meses. Analuz nasceu em dezembro de 2019 e por isso Rose já conheceu a maternidade durante a pandemia.

“Em fevereiro comecei a retornar a vida da universidade e ela sempre ia comigo, em março retomei as reuniões que eram aqui na cidade e já estava programando a primeira viagem de avião para abril, quando veio a pandemia”, conta.

Com a quarentena vigorando em todo o país, Rose precisou reorganizar sua rotina para conseguir fazer todas as suas atividades e aprender como viver agora com uma filha. Ela relata que Analuz não a deixa assistir as aulas da universidade tranquilamente. Mesmo ficando com o pai, ao ouvir a voz da mães ela quer derrubar a porta do quarto e começa a chorar querendo a mãe, mas ela constata:

“O que é não conseguir assistir a uma aula frente a várias mulheres que perderam seus empregos por serem as primeiras no momento do corte de funcionários, por não ter onde/com quem deixar suas crias? Acredito que vamos demorar muito tempo para conseguir absorver novamente essas mulheres no mercado de trabalho, ou mais uma vez serão jogadas para a informalidade e os subempregos”, diz.

Feministas que decidem ser mães conhecem um novo campo de batalha, não apenas por si mesmas, mas pelos direitos e vida de seus filhos e filhas, que também precisam ter espaço dentro da luta das mulheres.

“Eu como feminista e apontada como abortista, dei um grande susto para todos e todas com a notícia da minha gravidez foi um susto pra mim também, mas fui muito bem acolhida e ouvi uma frase que me tranquilizou e me fez ter certeza de que és no lugar e do lado certo, a frase é “É preciso ter uma aldeia para se educar uma criança”, conta Rose.

Paula tem o feminismo como norte, como único caminho possível para as mulheres, mães ou não. Pois, só com a luta construiremos um mundo mais igual e seguro para todas e todos.

“A luta nos dá força, clareza, esperança, conhecimento para enfrentarmos momentos adversos. Sou feminista em luta.”, afirma Paula.

 

Nádia Garcia, Agência Todas.

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