Médica confirma à CPI de SP que ‘Pentágono Central’ coordenava kit Covid

Carla Morales atribui sua saída da operadora de saúde por ser contrária à recomendação de uso de cloroquina no tratamento para pacientes com Covid-19

Divulgação

CPI da Prevent Senior em São Paulo

A médica infectologista Carla Morales Godoy Guerra confirmou em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Prevent Senior, instalada pela Câmara Municipal de São Paulo, que o chamado “Pentágono Central” era o órgão responsável pela indicação do uso do kit Covid e atribui a sua saída da operadora de saúde à discordância de uso generalizado da cloroquina.

O vereador e presidente da CPI, Antonio Donato (PT), disse que estão claros a cultura organizacional e o processo decisório na Prevent Senior sobre a distribuição dos kits Covid.

Vereador Antonio Donato (PT), presidente da CPI da Prevent Senior em São Paulo. Foto: Divulgação

“Por tudo que nós escutamos, não só aqui nos depoimentos, era padronizado [o kit Covid]. Nós vamos convidar agora a empresa de motoboy que fazia as entregas. Ela vai ter de dizer para gente quantos kits entregou. Nós temos instrumentos para demonstrar que era uma política a entrega de kits e era centralizada. Pela cultura organizacional da empresa, era imposta aos médicos se não de maneira explícita, mas de maneira tácita. Isso está ficando claro, mas nós precisamos provar e estamos trabalhando para isso”, comentou Donato ao término da sessão.

Primeira a ser ouvida pelos vereadores, Carla Morales afirmou que a sua situação na empresa ficou insustentável depois que se manifestou contrária ao uso indiscriminado da cloroquina para pacientes da rede ambulatorial e de telemedicina da operadora de saúde. “Eu não concordava, não achava correto e me afastei”, relatou.

A infectologista disse que a operadora de saúde antes da pandemia tinha uma forma de atuação adequada, situação que mudou após a Covid-19. “Na verdade, eu fiquei decepcionada pelo fato das minhas questões técnicas não terem sido ouvidas e acabei saindo”, afirmou.

Dra Carla Morales. Divulgação

A médica confirmou à CPI que o chamado “Pentágono Central”, grupo da Prevent Senior, era responsável pela indicação de uso do kit Covid e que a cadeia de comando era formada pelos os médicos Rafael de Souza da Silva, Rodrigo Barbosa Esper, Roberto Cunha e Kleber Rocha, que já depuseram à CPI no último dia 11.

Carla Morales é um dos indiciados no relatório da CPI da Covid no Senado. “Eu me sinto extremamente injustiçada, ofendida e magoada pelo fato de justamente a minha história mostrar que eu era não era de acordo com isso tudo. Para mim, é uma vergonha muito grande.”

Sobre a aplicação de remédios experimentais, denunciado por familiares de vítimas da Covid-19 tratados em hospitais da Prevent, afirmou: “Eu não acompanhei o uso de remédios experimentais. Eu não participava da terapêutica. Eu cuidava do ambiente hospitalar, limpeza, organização e infraestrutura. Desconheço e não tive acesso a pesquisa de nanopartículas e células-troncos”.

A médica foi questionada sobre a frase que lhe foi atribuída, segundo a qual “Óbito também é alta”. “Eu não me lembro de ter dito isso. Alta, óbito e transferências são saídas hospitalares. E internação é internação. Mas isso não tem teor pejorativo. Administrativamente, nós tínhamos controle de quantos óbitos e altas tinham todos os dias, mesmo porque alimentávamos um sistema do governo” para o censo da Covid-19.

Médicos da Prevent

Os outros dois depoimentos foram dos médicos da operadora Fernando Oikawa e Saulo Oliveira. Os dois negaram diversas vezes acusações relatada à CPI da Prevent Senior por parentes de vítimas da Covid-19. Em geral, suas respostas tinham como base a prerrogativa de “autonomia médica” como justificativa de indicação de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença. Em razão de um acidente de carro, foi remarcada a oitiva do servidor Osvaldo P. de Oliveira, do Centro de Vigilância Sanitária, da Secretaria Estadual de Saúde.

Da Redação

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