Nicolelis vê 3ª onda de Covid com chegada do “General Inverno”

“Basta lembrar que, no caso da pandemia, foi no ano passado, no começo do inverno, que a explosão da pandemia se deu no Brasil”, alerta o neurocientista. Alta de mortes entre jovens na América Latina preocupa a OMS

Foto: Divulgação

“Olhar para a Índia é ver o que pode acontecer se nós permitirmos que o general mais poderoso da história da humanidade, o General Inverno, chegue também ao Brasil nas próximas semanas”, alerta o neurocientista Miguel Nicolelis

A falta de comando no Brasil diante da guerra mundial contra a Covid-19 está sendo decisiva para a derrota do país para um vírus que já ceifou a vida de mais de 414 mil brasileiros. Sem, governo, sem estratégia e sem comandante na linha de frente da guerra contra o vírus, agora o campo de batalha poderá ser facilmente dominado pelo “General Inverno”, alerta o neurocientista Miguel Nicolelis. O pesquisador traça um importante paralelo entre o papel que a estação ocupou em eventos históricos como a Batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra, e o atual combate à pandemia. Para ele, o cenário que se avizinha é preocupante e pode agravar ainda mais a crise humanitária.

“Basta lembrar que, no caso da pandemia, foi no ano passado, no começo do inverno, que a explosão da pandemia se deu no Brasil”, observou o neurocientista, na última edição do podcast Diário do Front, divulgado pelo El País.

Nicolelis analisa o caos provocado na Índia – com crematórios em colapso e mais de 400 mil casos diários – e não descarta a possibilidade de uma onda semelhante devastar o Brasil. “Olhar para a Índia é ver o que pode acontecer se nós permitirmos que o general mais poderoso da história da humanidade, o General Inverno, chegue também ao Brasil nas próximas semanas”, advertiu o cientista.

Ele alerta que as condições não são as mesmas do último inverno. As contaminações e mortes se encontram em patamares mais elevados –  com subnotificações – o sistema de saúde entrou em colapso, o país tem cerca de 100 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar e a vacinação não avança no ritmo necessário.

“Corremos o risco de sofrer uma terceira onda no começo do inverno”, adverte o pesquisador. “E não precisava ser assim”, lamentou. “Os dados do Reino Unido, por exemplo, mostram que a combinação de um lockdown nacional, rigoroso, com ajuda financeira para a população, aliado a uma campanha de vacinação agressiva, funciona”, observa. Nicolelis lembra que o país saiu do lockdown com apenas quatro mortes e deve zerar os óbitos nas próximas semanas. 

Mortes entre jovens preocupa a OPAS

Apesar de representar 8% da população mundial, a região da América Latina e o Caribe responde por mais de um terço das mortes no planeta na semana passada, informa a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade demonstrou preocupação com o crescente contágio e internações entre jovens.

“Hoje, mais países latino-americanos do que nunca estão notificando mais de mil casos por dia, e nossos hospitais estão mais cheios do que nunca”, advertiu a diretora Carissa Etienne, apontando para as infecções entre pessoas com menos de 40 anos.

“No Brasil, as taxas de mortalidade dobraram entre os menores de 39 anos”, afirmou Etienne. “Quadruplicou entre os de 40 anos e triplicou entre os de 50 anos entre dezembro de 2020 e março de 2021”, acrescentou. “Isso é trágico e as consequências são terríveis para nossas famílias, nossas sociedades e nosso futuro”.

A Fiocruz confirma os temores da entidade. De acordo com o último boletim do Observatório Covid-19, o índice de infecções e óbitos entre pessoas de 30 e 39 anos cresceu 565,08% e 223,10%, respectivamente, nos primeiros meses deste anos.

Mesmo com uma lenta vacinação, as mortes entre pessoas com mais de 60 anos estão caindo. Atualmente, mais de um terço das mortes por covid-19 no Brasil é de pacientes com menos de 59 anos.

Da Redação, com El País, The Guardian e BBC

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