Novo presidente de Cabo Verde: “Após Lula, o Brasil se isolou do mundo”

Em entrevista à ‘Folha’, José Maria Neves, que tomou posse na terça-feira (9), exalta política externa ativa e altiva do chanceler Celso Amorim durante governo Lula: “O Brasil tinha uma imagem muito forte”

foto: Ricardo Stuckert

Lula

A política externa de Lula durante sua passagem pela Presidência, capitaneada pelo chanceler Celso Amorim, fez história ao tornar o Brasil protagonista no tabuleiro da geopolítica mundial. A opção por uma abordagem externa “altiva e ativa”, como classificou Amorim, até hoje chama a atenção de lideranças internacionais. Empossado na terça-feira (9) como presidente de Cabo Verde, o líder de centro esquerda José Maria Neves destacou, em entrevista à Folha de S. Paulo, a importância da liderança inédita de Lula no exterior. Para Neves, o Brasil se isolou após o fim da era Lula.

“O Brasil tem uma força extraordinária no mundo, exerce uma atração impressionante”, declarou o integrante do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV). “Quando o presidente Lula esteve no poder, tinha uma perspectiva de promoção do Brasil no mundo”, constatou o presidente eleito de Cabo Verde, considerado um modelo de democracia na África e de exercício de cidadania por seus 590 mil habitantes.

“O Brasil tinha uma imagem muito forte, conseguiu chegar a liderar a OMC [Organização Mundial do Comércio], a FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura], e o presidente [Lula] foi convidado para a cúpula da União Africana”, afirmou Nunes. “Depois esteve aqui em Cabo Verde para uma cúpula com os 15 Estados da Cedeao [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental]. Havia influência do Brasil em vários palcos do mundo”, elogiou.

Rupturas democráticas

Nunes é um observador atento dos processos políticos no Brasil, país onde já fixou residência, de onde pôde acompanhar fatos históricos como o movimento das Diretas. Ele advertiu para o risco de rupturas democráticas no país, patrocinadas por aventureiros como Jair Bolsonaro.

“Nos últimos anos, ficou muito claro que mesmo nos países com instituições sólidas, como os EUA, a democracia pode regredir e pode haver avanços de movimentos populistas e antidemocráticos”. observou.

“O importante, do meu ponto de vista, é continuarmos a investir no reforço das instituições. Se continuarmos investindo numa imprensa livre e numa Justiça independente, resistiremos, e o campo democrático continuará a encontrar antídotos para esses grupos mais extremistas, populistas e demagógicos”, aconselhou o presidente.

Lula e Amorim recuperaram autoestima do Brasil

“A política externa foi ativa porque eu e o presidente Lula acreditávamos que o Brasil deveria ser mais protagonista nas relações com a África e com a América do Sul”, lembrou o chanceler Celso Amorim, em 2018. Ao lado de Lula e à frente do Ministério das Relações Exteriores, Amorim desenhou a estratégia que recuperou a autoestima do país e encheu de orgulho o povo brasileiro.

“E isso com ações concretas de integração, também com os países árabes e depois os Brics. A política foi altiva porque nós identificamos que poderíamos sim resistir às pressões e as agendas que não atendiam os nossos interesses, como a Alca por exemplo”, destacou o ex-ministro de Lula entre 2003 e 2011. Com Lula e Amorim, o Brasil reassumiu sua soberania com uma política externa baseada no diálogo, na igualdade e na solidariedade entre os povos.

Da Redação, com informações de Folha de S. Paulo

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