O que acontece quando os corpos trans adentram a política institucional
No Fórum Elas Por Elas LBT, vereadoras trans do PT debatem a importância da reconfiguração do imaginário social quando corpos trans ocupam espaços de poder
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Ana Clara, Elas Por Elas
O PT deu o maior salto da própria história na eleição de candidates LGBT. Saiu de três para vinte mandatos em 2020, um desempenho que foi resultado de mobilização, organização e estratégia dos projetos Elas Por Elas e Nossas Cores. O impacto desses corpos em estruturas que foram pensadas e historicamente ocupadas apenas por homens, brancos, heterossexuais e cisgêneros ainda está em andamento.
Na terceira transmissão do Fórum Elas Por Elas LBT, Symmy Larrat, do Coletivo Nacional LGBT do PT, mediou o debate com as vereadoras trans Isabelly Carvalho, Limeira-SP; Filipa Brunelli, de Araraquara-SP; e a doutora e professora da UFPR, Megg Rayara.
“Limeira é uma cidade ultraconservadora. Tivemos a oportunidade de oferecer a cidade uma outra perspectiva, quebramos um tabu, um paradigma, ao reconfigurar o imaginário social das pessoas LGBT. Hoje, nós temos na cidade pessoas trans em espaços de poder que nunca foi pensado para nós “, aponta a vereadora Isabelly.
Em sua reflexão, ela reforça que, além da questão dos corpos, ainda se trata da ocupação de pessoas que vem do movimento social, na luta por direitos e garantias fundamentais. Portanto, um espaço que sempre excluiu, agora precisa lidar com essa ocupação.
A leitura da ocupação de mulheres trans no espaço político, apesar de ser um fenômeno relativamente recente, já revela o quão importante e transformadora foi a última eleição e os possíveis abalos na estrutura normativa do sistema. A vereadora Filipa Brunelli, de Araraquara, interior de São Paulo, enfatizou o enorme significado da entrada desses corpos na ‘institucionalidade’:
“Eu vejo muito isso, no espaço da institucionalidade, quando nossos corpos entram nas Câmaras, no plenário. Quando a gente tem o tempo de fala do expediente, quando nossos corpos tem o poder de vetar e aprovar um projeto. Nós que estivemos sempre à margem da sociedade é de um prazer enorme, no sentido de orgulho”, Brunelli.
Ter pessoas trans ocupando cargos eletivos não é um fenômeno aleatório, trata-se de resultado de uma luta histórica dentro e fora do partido. No caso das mulheres trans, explica Megg Rayara, professora e doutora na UFPR, os desafios são ainda maiores.
“Temos que provar que somos melhores em tudo e que as nossas demandas também vão além da comunidade da qual fazemos parte. A nossa luta é intrincada com a pauta de mulheres negras, por exemplo, e precisamos pautar isso dentro do movimento negro o tempo todo”, salienta Rayara.
A professora reforça que uma vez eleita, não basta assumir o cargo. É preciso ter estratégia de permanência nos espaços, principalmente para enfrentar a violência de todos os tipos:
“A vigilância sobre os nossos corpos é potencializado, qualquer atitude é potencializada e ganha uma dimensão além da média, quando se compara com uma atitude similar adotada por um homem branco, cisgênero e heterossexual”, denuncia.
Para avançar nos desafios, superar as adversidades e seguir no projeto de ocupação do espaço político por mulheres trans, Janaína Oliveira, secretária nacional LGBT do PT, ressaltou a importância da parceria entre o projeto Elas Por Elas e o Nossas Cores.
“Essa parceria é um marco na inclusão das LBTs no projeto Elas Por Elas. Por isso, contamos com quadros políticos que colocam seus corpos e corações na disputa. Esse primeiro passo foi fundamental”, finalizou Janaína.
O Fórum Elas Por Elas LBT é uma iniciativa da Secretaria Nacional de Mulheres do PT e da Secretaria Nacional LGBT do PT, o objetivo é a troca de experiências e vivências das mulheres LBT nesse cenário conservador, fascista e neoliberal.