Pais e professores fazem ato em defesa das escolas privatizadas por Covas

Referência nacional de ensino infantil, a EMEI Gabriel Prestes é um dos 41 terrenos que a Prefeitura de São Paulo pretende desestatizar e ceder à iniciativa privada

No dia 18 de outubro, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei do Executivo que autoriza a venda de 41 terrenos públicos à iniciativa privada. Os vereadores que apoiaram o projeto alegam que as áreas listadas são ociosas. Entretanto, entre os espaços, estão áreas verdes, praças, subprefeituras e até escolas. Uma dessas instituições de ensino é a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEi) Gabriel Prestes, reconhecida nacionalmente por sua excelência.

Uma das responsáveis pelo bom desempenho escolar é a professora Vanessa de Oliveira Santos que no dia 16 de outubro recebeu o prêmio “Professor em Destaque”, entregue pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Dias depois, veio a triste notícia da possibilidade de venderem o terreno da escola. Vanessa faz parte do grupo de pais, alunos, professores e diretores que, desde o dia 18, promovem atos em defesa das escolas e tentam junto ao poder público reverter essa situação.

“Estar aqui é um ato de resistência. Atendemos crianças em situação de vulnerabilidade social, refugiados, de outros países. É importante mostrar que tem criança sim ocupando todo esse espaço. Aqui temos filhos dos zeladores da escola, filhos da classe média que mora na região, é um espaço necessário para que as crianças explorem o mundo a sua volta e tenham relações umas com as outras”, afirmou a professora à Agência PT durante uma manifestação realizada na última terça-feira (29) que pedia que a medida fosse revogada.

Para Vanessa, a justificativa do governo municipal para vender certas áreas públicas é fraca, e suspeita de outros interesses por trás: “A prefeitura colocou o terreno à venda dizendo que o espaço aqui está ocioso. Ou seja, quem colocou à venda nem conhece, nem sabe o que está acontecendo aqui. Queremos saber qual vereador colocou o nome dessa EMEI na lista da segunda votação, quais são os interesses dele ou dela em listar a escola lá”. Vale lembrar que vários terrenos foram adicionados à lista minutos antes da votação em segundo turno do projeto na Câmara e sem qualquer menção ao que funcionava naqueles espaços.

“A escola é um porto seguro”

 

Para muitas crianças, a escola é um espaço que representa muito mais que apenas conhecimento. A instituição de ensino é uma segunda casa para os alunos, é um espaço a ser explorado, onde são desenvolvidas relações que ajudam a formar a visão de mundo de cada um, como conta a professora mencionando um dos exemplos do que acontece na EMEi.

“Nós temos um caso de uma criança que mora em um lugar que não tem água e não tem luz. Não sabemos como a família sobrevive nesse local. Então a criança tem que tomar banho e se alimentar aqui, a escola é essencial, é um porto seguro, se esse espaço deixar de existir, a gente não sabe o que vai acontecer com esse aluno. Já acionamos órgãos públicos para resolver essa situação complexa em que essa família vive”.

Devido à importância desse espaço, os atos de mobilização e resistência já se espalharam. Para Vanessa, os atos mais recentes são diferentes de casos passados: “Nesses momentos de luta e resistência, geralmente somos nós da escola que reunimos o conselho escolar e a comunidade para aderirem ao nosso movimento.  Dessa vez, quem vem organizando os atos são as próprias famílias dos alunos, elas vem articulando o envolvimento de partidos políticos e da mídia para dar visibilidade ao caso”.

“Desmonte de uma proposta curricular”

 

Naime Andrea Silva foi professora da educação infantil durante 30 anos, 10 deles na EMEI Gabriel Prestes. Naime acompanhou tentativas passadas de fechar a escola, hoje referência na cidade de São Paulo: “Essa ameaça de fechar escola não é de hoje e não é única. A própria Gabriel Prestes já foi fechada em 1999, mas com muita luta da comunidade e com a chegada do governo do PT a escola foi reaberta. Desde então, a EMEi já foi premiada, ganhou selo de inovação de qualidade e se tornou um polo de referência e resistência. É burrice vender uma escola que é cartão de visita da cidade”, declarou em entrevista à Agência PT.

Hoje mãe de um dos alunos da escola, Naime demonstra sua preocupação com o futuro das crianças e da educação em São Paulo: “As outras unidades de educação infantil não dariam conta de receber as crianças daqui. Não é só a venda do terreno, é o desmonte de uma proposta curricular do município que vendo sendo construída há 30 anos, desde o governo de Luiza Erundina. Um projeto de educação integral, para não fragmentar o conhecimento, para que as crianças ocupem os espaços públicos da cidade e onde as famílias também participem do ambiente escolar”.

“Não há vontade política de construir escolas”

 

Para Marcia Covelo Harmbach, diretora da EMEI Dona Leopoldina, a venda do atual terreno seria uma perda irreparável: “Não há escola próximas a essa, com a mesma qualidade. Aqui é um lugar único, onde as crianças tem muito espaço e entram em contato com a natureza e com tudo à sua volta”, disse em entrevista à Agência PT.

Assim como a professora Vanessa, Marcia também condena a atitude da Prefeitura, assim como os motivos apresentados: “Os governos argumentam que não é possível construir novas escolas por falta de terrenos, mas hoje é possível observar que há sim espaço, o que não há é vontade política de construir escolas”.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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