Paulo Guedes ataca Argentina para agradar Bolsonaro e bancos

País vizinho é o terceiro parceiro comercial do Brasil, e também o maior mercado para os produtos manufaturados nacionais. No combate à pandemia, o Brasil tem 23 vezes mais mortos pelo Covid-19 do que os argentinos  

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Alberto Fernández, presidente da Argentina

O ministro Paulo Guedes afirmou ontem (26) que “não seremos a Argentina ou a Venezuela”, para defender sua política de continuidade do arrocho fiscal e salarial em favor do sistema financeiro. Para Guedes, ao contrário dos países vizinhos, “estamos em outro caminho, o caminho da prosperidade”. A fala delirante de Guedes retoma ataques anteriores aos dois países. Durante a campanha eleitoral argentina, no ano passado, Bolsonaro acusou a oposição de Alberto Fernández e Cristina Kirchner de colocar a “Argentina no caminho da Venezuela”.

Em relação à Argentina, Guedes tem motivos suficientes para limitar suas observações prejudiciais ao Brasil às reuniões privadas com Bolsonaro. A Argentina é atualmente o terceiro parceiro comercial do Brasil – já foi o segundo antes do derrotado governo neoliberal de Maurício Macri. O país ‘hermano’ é também o principal mercado para as exportações de produtos manufaturados brasileiros. Hoje submetida a um brutal bloqueio econômico por parte dos EUA, a Venezuela também já foi importante parceira comercial do país.

Além do descompromisso com a pauta econômica, o ministro Paulo Guedes expõe o governo brasileiro ao constrangimento da comparação entre os dois países no combate à pandemia. Até a segunda-feira (27), a Argentina registrava 3.892 casos de coronavírus, com 192 mortos, enquanto no Brasil os infectados chegavam a 66.501, com 4.543 óbitos. Ou seja, 23,7 vezes mais do que na Argentina. “Imbécil” (imbecil) é um dos adjetivos usados pela mídia local para se referir ao presidente brasileiro por suas posturas na luta contra o Covid-19.

A diferença, como definiram “memes” que ganharam a internet no Brasil e na Argentina, é que lá “tem presidente” e aqui não. Enquanto Bolsonaro ironizava a pandemia, chamando de “gripezinha”, o presidente Alberto Fernández assumiu o comando da batalha e mobilizou todos os seus ministros. A quarentena argentina inclui patrulhas nas estradas e rastreamento dos movimentos de celulares de motoristas para garantir respeito ao confinamento. O resultado da autoridade governamental se reflete no respeito da população às medidas de confinamento e nos indicadores de contaminação e mortes.

As palavras do ministro Paulo Guedes traduzem o compromisso do governo Bolsonaro às ordens do sistema financeiro, para quem a “crise é passageira” e o governo não pode perder o “foco das reformas”. Diferente disso, na sexta-feira (24), o governo argentino  anunciou decisão de afastar-se de negociações no âmbito do Mercosul para concentrar suas energias na situação interna do país. No domingo (26), o presidente Fernández anunciou que prolongará por mais duas semanas, até o dia 10 de maio, o isolamento social preventivo obrigatório e o fechamento de fronteiras.

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