Pnad Contínua: renda desaba e precarização avança

Rendimento médio caiu 10,7% e informalização chegou a 40,7% dos trabalhadores em atividade. Brasil ainda não recuperou patamar de emprego de antes da pandemia

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Queda na renda e informalidade, as marcas de Guedes e Bolsonaro

O Brasil sob Jair Bolsonaro fechou 2021 novamente com mais desempregados que antes da pandemia, enquanto a renda média dos que ainda conseguem ocupação caiu ao menor nível da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012. Os números anunciados nesta quinta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também consolidam o avanço da precarização dos empregos, iniciada com a “reforma trabalhista” de Michel Temer.

A renda média do brasileiro no último trimestre de 2021 (R$ 2.447) caiu 10,7% em comparação com o ano anterior. Também recuou 3,6% em relação ao terceiro trimestre de 2021. A média anual do ano passado foi de R$ 2.587, ou R$ 195 a menos em relação a 2020. A massa de rendimento real habitual somou R$ 229,4 bilhões. A média anual (R$ 230,6 bilhões) registrada em 2021 é 2,4% (R$ 5,6 bilhões) menor que a de 2020.

Entre o primeiro ano do mandato de Bolsonaro e 2020, a renda média dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros já havia caído de R$ 2.292 para R$ 2.213 (menos 3,4%). Até então, era o menor patamar desde 2012 (R$ 2.250), descontada a inflação do período.

A taxa média de desocupação recuou para 13,2% no último trimestre de 2021, ainda acima da fase pré-pandemia (12%). O número médio de desocupados foi estimado pelo IBGE em 13,9 milhões, quantia 59% maior que a registrada em 2015.

Já o número de pessoas ocupadas no período chegou a 95,7 milhões – alta de 9,8% em comparação a 2020. O nível de ocupação (ocupados na população em idade de trabalhar) chegou a 55,6%. O resultado de 2020 (51,2%) era o menor da série histórica, enquanto o melhor momento foi entre 2013 e 2014 (58,1%).

O crescimento do número de pessoas ocupadas no ano passado foi potencializado principalmente pelo trabalho informal. Enquanto os empregos com carteira assinada subiram 9,2% em 2021 (de 31,6 milhões para 34,5 milhões), postos de trabalho sem garantias legais tiveram alta de 18,3% (de 10,5 milhões para 12,4 milhões).

O número de trabalhadores por conta própria atingiu 25,9 milhões de pessoas, com crescimento de 13,1% em relação a 2020. A alta corresponde a 3 milhões de pessoas no ano. A quantidade de trabalhadores domésticos aumentou 22,1% no ano passado e atingiu 5,7 milhões (1 milhão a mais do que em 2020). Segundo o IBGE, a taxa de informalidade foi de 40,7% da população ocupada, o que corresponde a 38,9 milhões de pessoas. O percentual era de 39% em 2020.

Ainda conforme a Pnad Contínua, a taxa de subutilização em 2021 foi a 27,2%, abaixo apenas de 2020 (28,2%). A população subutilizada, pessoas que gostariam de trabalhar mais, foi estimada em 31,3 milhões, queda de 1,2% em relação ao ano anterior. Já os desalentados, que desistiram de buscar oportunidades, somaram 5,3 milhões, pouco menos do que o recorde de 2020 (5,5 milhões). O percentual de desalentados na força de trabalho caiu de 5,4% para 4,3%.

Perdas, inflação descontrolada e juros altos

A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, explica que a taxa média de desocupação de 13,2%, a segunda maior da série, reflete a situação do mercado de trabalho no momento em que a ocupação volta a crescer após um ano de perdas intensas.

“Muitas pessoas ao longo dos dois anos perderam suas ocupações e várias delas interromperam a busca por trabalho no início de 2020 por causa da pandemia”, enumera a pesquisadora. “Depois houve uma retomada dessa busca, ainda que o panorama econômico estivesse bastante desfavorável, ou seja, não havia uma resposta elevada na geração de ocupação.”

Ainda segundo Adriana, em 2021, com o avanço da vacinação, houve crescimento do número de trabalhadores no mercado. “Mas ainda persiste um elevado contingente de pessoas em busca de ocupação”, ressalta.

Ouvido pela Folha de São Paulo, o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, disse que o rendimento menor reflete a escalada da inflação no Brasil. “A inflação bateu de maneira pesada em itens básicos para o consumo da população. Entre ficar sem receber ou ganhar menos, parte das pessoas está se inserindo no mercado com uma renda menor. Elas precisam pagar suas contas no curto prazo.”

O professor de economia do Insper Sergio Firpo aponta outro fator: o retorno dos trabalhadores informais ao mercado. “No começo da pandemia, quem mais sofreu foram os trabalhadores de menor qualificação. Agora, eles voltam ao mercado, mas os salários estão menores. Isso puxa a renda média para baixo”, conclui o professor.

Imaizumi e Firpo avaliam que a reação do mercado de trabalho em 2022 é ameaçada pelo cenário de baixo desempenho da economia como um todo. Economistas e instituições financeiras projetam variação do Produto Interno Bruto (PIB) próxima de 0% neste ano, sob efeito da inflação persistente, dos juros mais altos e do absoluto vácuo de propostas da equipe econômica do desgoverno Bolsonaro.

Da Redação, com Imprensa IBGE

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