Presidente eleito da CNI pede corte mais acelerado da taxa de juros

Ricardo Alban é mais um representante do setor produtivo a alertar para os efeitos nocivos sobre a economia causados pela política do presidente do Banco Central, o bolsonarista Roberto Campos Neto

Pedro Revillion/Palácio Piratini

Política do bolsonarista Campos Neto funciona como "força recessiva" na economia brasileira, diz ONU

Em mais um apelo do setor produtivo brasileiro pela redução da taxa básica de juros (Selic), mantida em patamares extorsivos pelo Banco Central, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, o presidente eleito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, disse que o setor está na “UTI” e que houve um “exagero” na política monetária.

“Que o Banco Central, seguramente, ao nosso ver, e só o futuro vai dizer isso, exagerou no remédio, exagerou no remédio. Mas, e agora, você exagera no remédio e tira o paciente da UTI da noite para o dia sem remédio, é uma decisão muito arriscada. Então, falando sem nenhum tipo de preconceito, nenhum tipo de ideologia, o que eu tenho certeza é o seguinte: nós precisamos de uma forma mais célere de reduzir a taxa de juros”, afirmou Alban ao site Poder360, em matéria publicada no sábado (21).

Segundo o empresário, foi um exagero o BC iniciar, em março de 2021, o maior ciclo de altas da taxa básica de juros no século 21 – foram 12 aumentos seguidos. Com isso, a Selic passou dos 2% para 13,75%, ao ano em agosto de 2022.

Na visão de Alban, também houve erro da autarquia ao manter o percentual de 13,75% ao longo de um ano inteiro – o BC só voltou a cortar a Selic em agosto de 2023, após um movimento de pressão pela redução taxa, iniciado pelo presidente Lula e ao qual aderiram empresários, parlamentares, representantes da sociedade civil e movimentos sociais. Mesmo assim, o corte nos juros vem sendo feito a conta-gotas, e, hoje, o índice está em 12,75% ao ano.

Inflação sob controle

Ricardo Alban, que assumirá a presidência da CNI em 31 de outubro, tem a mesma compreensão do atual presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, sobre os efeitos nocivos dos juros altos para a indústria e para a economia como um todo. Andrade já declarou, inclusive, que “todos os setores no Brasil veem essa taxa de juros extremamente elevada” e que “não existe no Brasil nenhuma atividade econômica que possa pagar os juros tão elevados como estamos vendo hoje”.

Tanto Alban quanto Andrade também consideram que os juros estão acima do necessário para o controle dos preços, já que o Brasil não enfrenta uma inflação de demanda. Além disso, nesta segunda-feira (23), o mercado financeiro reduziu novamente a estimativa da inflação para 2023, projetando que ela fechará o ano em 4,65%, respeitando a meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) – de 3,25% e intervalo de tolerância que varia de 1,75% a 4,75%.

Forças recessivas

Os principais órgãos de governança global também consideram os juros altos praticados pelo BC como um obstáculo ao desenvolvimento da economia brasileira. Um relatório da Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), divulgado no último dia 5, inclui o patamar elevado da Selic entre as “forças recessivas” que impedem um ritmo maior na retomada do crescimento da economia, iniciada durante o governo do presidente Lula.

Segundo o documento, a taxa de crescimento do PIB brasileiro deve ficar em 3,3% neste ano, acima dos 2,9% de 2022. Já o aumento da economia global é estimado em 2,4%, uma desaceleração em relação aos 3% de 2022.

Da Redação

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