Prisão de Queiroz, amigo de Bolsonaro há 30 anos, é oportunidade para esclarecer suspeitas de corrupção da família presidencial

Petistas avaliam que, um ano e meio depois das denúncias que pesam contra Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, virem à tona, finalmente as suspeitas de esquema de “rachadinha” envolvendo a família do presidente podem ser esclarecidas. “Conta tudo, Queiroz”, cobra Gleisi

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Ligações suspeitas. Investigado pelo Ministério Público do Rio por desvio de recursos e esquema de "rachadinha" na Assembleia do Rio, Queiroz é amigo de Bolsonaro há 30 anos e atuou como assessor do filho do presidente

A prisão do ex-Policial Militar Fabrício Queiroz, amigo de longa data do presidente Jair Bolsonaro, e investigado pelo esquema de “rachadinha” – desvio de salários de servidores – na Assembleia Legislativa do Rio até 2018, pode desvendar eventuais crimes de corrupção envolvendo a família Bolsonaro. Parlamentares do PT, incluindo a presidenta da legenda, cobram investigação rigorosa do caso e comentaram que a prisão de Queiroz, denunciado e investigado há mais de um ano e meio, demorou para acontecer. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou o caso.

A deputada Gleisi Hoffmann (PR) defende que o caso seja acompanhado com lupa para dirimir suspeitas e elucidar crimes  envolvendo Queiroz e familiares do presidente. O ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi preso numa casa em Atibaia, no interior de São Paulo, de propriedade do advogado Frederick Wasseff, que atua na defesa de Bolsonaro e do filho. Gleisi estranha as circunstâncias do desaparecimento do ex-assessor, cujo paradeiro era desconhecido de todos mas, sabe-se agora, o advogado da família tinha amplo conhecimento.

“Flavio, o senador, disse no ano passado que desconhecia o paradeiro de Queiroz! E agora?”, questionou a presidenta do PT. Ela fez um apelo: “Conta tudo, Queiroz”. A deputada lembrou que, há menos de um mês, o filho do presidente, defendeu o ex-assessor e disse que Queiroz era um homem “correto e trabalhador”. No ano passado, o próprio Wasseff, em entrevista à Globonews, disse que não tinha ideia do paradeiro de Queiroz, escondido na sua residência em Atibaia. “Mentira tem perna curta”, comentou Gleisi.

Outra ligação suspeita e nebulosa é a revelação de que o advogado de Fabrício Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, atuou também na defesa do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em fevereiro, em circunstâncias suspeitas. Queiroz e Nóbrega eram amigos e teriam relação com suposto esquema de rachadinha mantido pelo senador Flávio Bolsonaro, quando era deputado estadual na Assembleia Legislativa.

Suspeito de esquema

Queiroz é investigado desde o início de 2018 por suspeita de lavagem de dinheiro, além do esquema de “rachadinha”. Ele atuava como assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Alerj até outubro daquele ano, quando foi demitido do gabinete de Flávio às vésperas das eleições presidenciais e, coincidentemente, pouco antes da operação policial para investigar desvio de recursos na Assembleia ser deflagrada. O advogado Paulo Marinho, que atuou na campanha presidencial de Bolsonaro, disse que a informação da operação policial foi vazada com antecedência para Flávio.

Outro fato nebuloso é que, no mesmo dia em que Queiroz foi demitido do gabinete de Flávio, a filha do ex-assessor – Nathalia Melo de Queiroz – foi dispensada do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. Curiosamente, a filha foi poupada de um pedido de prisão pela Justiça do Rio, mas a mulher do ex-PM, Marcia Oliveira de Aguiar, que também trabalhou no gabinete de Flavio, é alvo de um mandado de prisão. Ela está foragida da Justiça.

No Twitter, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estranhou o fato da agentes das polícias Civil do Rio e de São Paulo terem atuado na prisão do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. “Tem uma dúvida que me inquieta: por que não foi a Polícia Federal que prendeu o Queiroz?”, questionou Lula. “Ele já deveria ter sido preso há muito tempo. Diziam não saber onde ele tava e agora encontraram na casa do advogado do filho do Bolsonaro”.

O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), avalia que as investigações apontam que Fabrício Queiroz era o operador do esquema de corrupção da família Bolsonaro. “Muita coisa ainda precisa ser esclarecida. Por exemplo, por que um advogado, que visitava o presidente, escondia Queiroz em sua casa?”, indaga.

O deputado federal Enio Verri (PT-PR), líder da bancada na Câmara Federal, também fez o mesmo questionamento. “Então, o desaparecido Queiroz estava na casa do advogado de Bolsonaro, que declarou, em 2019, não saber a do paradeiro do ex-assessor do então deputado estadual, Flávio Bolsonaro”. E ironizou: “Senta que lá vem história para desembaraçar esse novelo”.

Outro a usar da ironia no Twitter foi o senador Humberto Costa (PT-PE). “Grande dia para a família Bolsonaro”, disse. “A prisão de Fabrício Queiroz, ex-chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro, joga por terra tudo que o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro vinha dizendo há um ano e meio sobre desconhecer o paradeiro daquele que foi seu braço-direito durante anos”.

Costa lembrou que há uma questão que precisa ser esclarecida e que Queiroz pode jogar luz: a operação de empréstimo do então assessor de Flávio à primeira-dama Michele Bolsonaro. “Será que o Queiroz vai explicar agora o dinheiro que depositou na conta da mulher do presidente Bolsonaro?”, indagou.

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