Queima de US$ 54 bilhões não evita alta do dólar, que vai a R$ 6

Equipe econômica de Paulo Guedes torra parte das reservas cambiais acumuladas por Lula e Dilma – o equivalente a R$ 317,5 bilhões –, mas não impede a fuga de capitais, nem reduz vulnerabilidade do Brasil. Política de Bolsonaro é um buraco para o desenvolvimento

Bruno Caramori

O governo Bolsonaro comete suicídio ao promover a queima de dólares acumulados pelos governos Lula e Dilma, numa queda de braço insana com o mercado financeiro, que vem levando a melhor. Em nove meses, o Banco Central torrou US$ 54 bilhões  –  o equivalente a R$ 317,5 bilhões – dos quase R$ 2 trilhões deixados pelos governos do PT em dólar sob a guarda do Banco Central. Agora, sob o comando de Roberto Campos Neto, um dedicado discípulo do financista Paulo Guedes, o BC gastou essa dinheirama sem que tenha conseguido impedir a desvalorização do real, uma das moedas hoje mais fragilizadas do mundo. O dólar está próximo a R$ 6 e o real acumula desvalorização de 31% desde janeiro.

Em março, Guedes declarou que não se incomodava com a alta da moeda americana. Chegou a afirmar que, apenas se fizesse “muita besteira”, o dólar chegaria a R$ 5. Na época, atribuía a alta aos efeitos do coronavírus, à desaceleração econômica e ao “choque” entre o Congresso e o Palácio do Planalto. A moeda americana estava então em R$ 4,66. Nesta terça-feira (12), o dólar está cotado a R$ 5,81 e há quem aposte no mercado futuro que chegará a furar o teto de R$ 8 em dezembro de 2020. As reservas internacionais estavam em 8 de maio em US$ 343,7 bilhões, de acordo com o BC. Antes de Dilma deixar o governo, em 12 de maio de 2016, as resevas somavam US$ 372 bilhões.

A disparada do dólar no Brasil ocorre em um ritmo muito mais intenso que em outros mercados emergentes. O Rand sul-africano e o Peso mexicano, que também estão no ranking dos piores desempenhos no ano, registram quedas menos intensas, de 24% e 21%, respectivamente. A queda de braço entre o BC e o mercado deveria acender um sinal vermelho no painel de controle do governo. Mas ninguém parece muito preocupado. Pelo contrário. O presidente do BC chegou a dizer em março que o Brasil deveria aproveitar o momento para usar as reservas cambiais, transferindo recursos do povo brasileiro para o mercado.

O próprio Guedes disse em abril que tem a intenção clara de usar as reservas no período da pandemia. De maneira desavergonhada, Guedes sugeriu que cogita lançar mão das reservas para abater a dívida pública – ou seja, transferir dinheiro público para os bancos. Ou seja, nem o propalado esforço dito de conter a alta do dólar, a desvalorização do real e evitar a fuga de capitais são o verdadeiro motivo para a queima de dólares. Tanto que, nos últimos nove meses, a fuga de recursos do país ultrapassa US$ 57 bilhões.

As reservas cambiais brasileiras, que em 2002, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o Palácio do Planalto, não chegavam a US$ 38 bilhões, são a prova de que o país manteve durante os 14 anos do governo do PT um colchão de dinheiro que permitiu atravessar tormentas. São um atestado de competência que desmente a mentira amplamente difundida pela mídia hegemônica, durante os governos Lula e Dilma, e mais os conservadores, que o PT havia quebrado o país. “Quem está quebrando o país é Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes”, critica a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta nacional da legenda.

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