Reginaldo Lopes: A economia de Francisco

Em artigo publicado no jornal O Tempo, deputado federal (PT-MG) faz reflexão sobre o filme Dois Papas a partir dos ideais econômicos progressistas do pontífice argentino

Quem ainda não assistiu, sugiro que veja o filme “Dois Papas”, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e disponível na plataforma Netflix. Fiquei completamente impactado pela obra, que mostra as biografias e o encontro na história entre o papa Francisco e o papa Bento XVI.

Esse enredo serve de metáfora para apresentar dois modelos filosóficos, quase antagônicos, da Igreja Católica que cada um deles representa. O roteiro tem a capacidade de expor os homens atrás do mito e humaniza figuras que são vistas como imagens celestiais, mostrando suas qualidades e defeitos, comuns a qualquer pessoa.

Ali estão o argentino Bergoglio e o alemão Ratzinger. Em tempos de crescimento de outras igrejas, como as pentecostais no Brasil, o filme não deixa de ser uma propaganda para a Igreja Católica. Mas é honesto em apontar erros históricos cometidos por ela, simbolizados pelas condescendências de Bergoglio com a assassina ditadura argentina e de Ratzinger com o crime de pedofilia cometido por padres e religiosos. Fraquezas que fazem os dois se penitenciarem no filme, mostrando profundo arrependimento.

Deslumbrado com a beleza que toma conta do começo ao fim, poderia passar este artigo inteiro destacando maravilhas da produção ítalo-argentina dirigida pelo brasileiro: a fotografia que nos transportou para dentro dos templos de Roma e ao mesmo tempo para a periferia argentina, a interpretação majestosa de Anthony Hopkins como Bento XVI, a trilha sonora com a latinidade de Mercedes Sosa e “Guantanamera”.

Mas o mais importante é a mensagem política que fica, mostrando os motivos que fizeram a Igreja buscar um papa popular e dar a ele a missão de lutar contra a desigualdade social no mundo. Nas palavras de Francisco, “é preciso corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, e equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações vindouras.”

E, para ele, é necessário construir uma “economia diferente, que faz viver, e não mata, inclui, e não exclui, humaniza, e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta”. Imbuído de sua missão, o papa convocou para março de 2020 uma reunião planetária em torno dessa nova economia, chamada simbolicamente de “Economia de Francisco”, numa associação com o que seria a visão de são Francisco de Assis, cuja cidade onde nasceu, na Itália, sediará o encontro que, segundo o papa, deve nos levar a “fazer um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar alma à economia do amanhã”.

Serei um dos representantes do Brasil e levarei propostas contra a desigualdade, que já tenho defendido na Parlamento brasileiro, como a criação da Renda Básica Universal e a taxação de grandes fortunas e lucros exorbitantes. Defenderei a criação de um novo programa econômico a partir do binômio: ousadia na eliminação das desigualdades e produção de novas riquezas. A maior magia da arte é quando ela serve de espelho para ver nosso mundo. O filme que me apresentou os dois papas chamou ainda mais minha atenção para o tema da desigualdade e sobre a missão de cada um no mundo. Ficou claro que a minha é ser discípulo de Francisco na luta por uma sociedade mais justa.

Publicado originalmente no jornal O Tempo

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