“Se buscamos um Mandela no país, é o Lula”, diz Paulo Vannuchi

No aniversário de 100 anos do líder sul-africano, relembre seu legado para um mundo mais justo e pacífico e os paralelos entre ambas as trajetórias

Ricardo Stuckert

Mandela e o ex-presidente Lula na cidade de Maputo, Moçambique, em 2008

Comemorado nesta quarta-feira (18), o aniversário dos 100 anos de Nelson Mandela marca também os 100 dias da aberrante prisão política de Lula. A data é ainda mais importante em um momento tão crítico para a justiça e democracia no País. “Se buscamos um Mandela no Brasil, não há outro nome possível que não seja Lula”, aponta Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos do governo petista.

A trajetória dos dois guarda uma série de semelhanças. Tanto Lula quanto Mandela romperam o destino que parecia reservado a eles, cada um à sua maneira. O sul-africano como líder de uma pequena tribo nos rincões do país. O brasileiro, sobrevivendo à seca, ao coronelismo e à fome no agreste pernambucano.

No poder, ambos promoveram a repactuação entre classes. Primeiro presidente da África do Sul, coube a Mandela, transformar o país em uma democracia multirracial, reconciliando oprimidos e opressores. “Mandela governou muito preocupado em impedir uma ‘inversão’ da dominação. A África era um dos expoentes econômicos da região, e ele não queria que o país mergulhasse em uma guerra duradoura”, lembra o ex-ministro.

Parte desse processo é retratado no filme Invictus (2009), um dos favoritos de Lula. “A história o impressionou muito, sempre falávamos a respeito.”

Outro paralelo foi o reconhecimento de crimes contra a dignidade humana. Lá, a Comissão da Verdade e Reconciliação faz desde os anos 90 um resgate crítico das atrocidades do apartheid. A experiência inspirou a criação da Comissão da Verdade brasileira, iniciada durante o governo Lula e lançada no primeiro mandato do governo Dilma.

Preso com a ajuda da CIA e julgado pelo governo racista local, o líder sul-africano passou 27 anos encarcerado, privado de visitas, do contato com outros presos e informações do mundo exterior. Mas o homem chamado de “terrorista” não se deixou abater e voltou para ser presidente e libertar seu povo, sendo aclamado até mesmo por inimigos.

Já Lula amarga julgamento repleto de arbitrariedades cujo único propósito é apagá-lo da vida pública. Não conseguiram, e o líder mais popular do país é o escolhido do povo, como provam as pesquisas, para voltar à Presidência e, mais uma vez, promover a justiça social no Brasil.

Refundação democrática

Vannuchi preocupa-se com o que chama de “suspensão do Estado Democrático de Direito” desde o golpe de 2016. Da retirada da presidenta democraticamente eleita Dilma até prisão de Lula, cujos direitos são paulatinamente desrespeitados, o ex-ministro enxerga um paralelo com as violações sul-africanas.

Há três anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou as Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros – apelidadas “regras de Mandela” – que garantem direitos fundamentais aos prisioneiros. “Lembro que todos os diplomas da ONU e da OEA não só contra a tortura, mas também contra tratamento cruel, desumano o degradante”, enumera Vannuchi, que por quatro anos foi membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da OEA.

Segundo ele, a Operação Lava Jato desrespeitou esses preceitos em vários momentos. “Não houve tortura física, mas muitos delatores foram submetidos à pressões gravíssimas, ameaças a familiares”.

Ele antecipa que os planos para um próximo governo de Lula trarão uma série de propostas para mitigar o ódio em uma país divido e restaurar a segurança jurídica, propondo uma refundação democrática. Como fez Mandela.

Da Redação Agência PT de Notícias

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