Sem comando, e agindo com má vontade, governo ameaça o país

“O governo fica falando em bilhões e a população fica achando que aquilo já aconteceu”, alerta o governador Wellington Dias (PT), do Piauí. Ele denuncia que o governo pratica “economia irresponsável” na crise

Havolene Valinhos

Desorganização no abastecimento nacional de gás de cozinha

Disputas e rompimento com governadores que até então eram aliados, críticas de ministros do STF, conflitos com parlamentares de sua própria base e a fritura explícita de ministros nas redes sociais. Assim vem se comportando “institucionalmente” o governo federal na condução da crise do coronavírus.

Acusando o governo federal de praticar “economia irresponsável” na crise da Covid-19, o governador Wellington Dias (PT), do Piaui, adverte que falta comando unificado. “O governo fica falando em bilhões e a população fica achando que aquilo já aconteceu”, alerta o governador  em matéria do UOL. Mas nos estados e municípios, diz ele, “isso não se efetivou, causando um problema muito sério”.

No campo pessoal, o presidente Jair Bolsonaro vai na contramão da ciência e do bom senso e critica o isolamento, classifica a doença como “gripezinha” e estimula a desobediência civil contra as orientações de autoridades estaduais e municipais, contradizendo não só a OMS mas também o próprio ministro da Saúde, constantemente ameaçado de demissão.

A atuação errática do governo levou Bolsonaro a ser considerado o “líder mundial mais ineficiente no combate ao coronavírus” por Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia, um dos porta-vozes do mercado financeiro. Prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz resumiu assim a situação brasileira: “Nos EUA não temos liderança, e no Brasil vocês têm uma ainda pior”.

A lentidão executiva do governo, ineficiente em reorganizar a vida em um país onde passam de 12 mil os casos confirmados de covid-19, com 566 mortes, isola ainda mais Jair Bolsonaro e explicita seu despreparo.

 

Falta de clareza

Felipe Salto, diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, diz que a falta de clareza e de concretude dos anúncios do governo tem tornado mais difícil a tarefa de medir e analisar o pacote de medidas relacionadas à pandemia. “Meu alerta é: essa demora é alarmante. Nós estamos falando de pessoas que estão precisando de dinheiro para comer. De várias Santas Casas de diversos municípios que não têm UTI. Está faltando uma coordenação central”, alertou em entrevista ao UOL.

Também ao UOL, o economista Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper, critica a lentidão. “Realmente a gente ainda não viu nenhuma medida na área social para tentar os efeitos da crise. Então estamos esperando alguma medida para tentar salvar as pessoas, principalmente as que estão no trabalho informal e por conta própria, e que vão ficar sem ter receita”.

A principal medida no campo social, a Renda Básica Emergencial (RBE), aprovada pelo Congresso no último dia 30, foi publicada como a Lei 13.982/2020 só em 2 de abril, com veto à ampliação do BPC a idosos e deficientes carentes.

Após ser alvo de uma onda de críticas de especialistas à fala do ministro da Economia Paulo Guedes, de que o auxílio emergencial de R$ 600 só poderia ser liberado após a aprovação de uma emenda constitucional, apenas nesta terça-feira, 7 de abril, o governo anunciou um site e um aplicativo de celular para cadastrar os trabalhadores autônomos, informais e microempreendedores individuais com direito ao auxílio.

 

Desabastecimento

Enquanto isso, a população começa a sentir os efeitos do desabastecimento de gás em seu cotidiano. Levantamento feito por um grupo integrado por sindicatos de empresas distribuidoras de gás de todo o país aponta que as unidades federativas que se encontram em situação mais crítica são Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Distrito Federal.

As dificuldades para abastecimento foram confirmadas pelo presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de Gás (Sindvargas), Sérgio Costa. Segundo ele, “os caminhões de revendedores ficam na fila em frente às distribuidoras engarrafadoras até cinco dias esperando o produto para carregar”.

A Petrobras, que por meio de sua subsidiária integral, Transpetro, opera os terminais e transporta o gás por todo o País, afirmou que, com relação ao gás, não há falta do produto, mesmo com a população tendo aumentado o consumo, por medo de desabastecimento. O hábito de transferir responsabilidades está se generalizando.

 

Da Redação, com UOL

 

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