Semana do Orgulho LGBT: 50 anos de resistência em cenário atual de perda de direitos

Para a secretária Nacional LGBT do PT, a semana neste 2019 tem uma simbologia ainda mais relevante, tanto pelo contexto político de retirada de direitos, quanto por completar 50 anos da Revolta de Stonewall

Nesta semana do Orgulho LGBT, o Brasil e o mundo debatem direitos, conquistas e discutem como a população LGBT pode vencer preconceito, ódio e governos de ultradireita. Por isso, durante estes dias – e todos os outros do ano – a cidadania e o respeito são pautas essenciais não só da comunidade, mas sim de todos que defendem a equidade social, econômica e política de todas as pessoas.

Em São Paulo, uma das capitais referência do país durante esta semana, debates, paradas e marchas marcam os próximos quatro dias. Com eventos que celebram a diversidade, a resistência e o orgulho LGBT, São Paulo terá uma série de eventos que trazem à tona o debate sobre o combate à LGBTIfobia. A programação tem início nesta quinta-feira (20) e encerra no domingo (23).

Eventos como a Feira Cultural LGBT, a Marcha do Orgulho Trans, Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais e a Parada do Orgulho LGBT, que contará com o Bloco Lula Livre, fazem parte da programação.

50 anos de Stonewall

A Secretária Nacional LGBT do PT, Janaína Oliveira, explicou que neste ano a semana do Orgulho LGBT tem uma simbologia ainda mais especial porque neste mês completa-se 50 anos da Revolta de Stonewall. “Esse movimento fez nos organizarmos em várias vertentes, tivemos a revista O Lampião da Esquina que foi a primeira a falar sobre nós LGBTs, mas que tinha maior ênfase nos gays, aí então surgiu o jornal Xana Com Xana que trazia o debate das mulheres lésbicas”.

O jornal Xana Com Xana e a revista O Lampião da Esquina surgiram como veículos da imprensa alternativa durante a década de 1970 no Brasil, durante a Ditadura Militar, ambos questionavam a sociedade e reivindicavam os direitos da população LGBT.

Balanço de 2019

Questionada sobre a atual situação da população LGBTI no país, Janaína lamenta a retirada de direitos promovida pelo desgoverno de Jair Bolsonaro (PSL), mas destaca algumas vitórias que serão incluídas nas comemorações da Semana do Orgulho LGBT, como a decisão do o Supremo Tribunal Federal (STF) de equivaler LGBTIfobia a crime de racismo.

Apesar da vitória, Janaína explicou que existe o perigo de extinção do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT. “A Câmara voltou a questionar as resoluções do Conselho, como a que estabelece o uso do nome social, que muitas universidades usaram como base, por isso também essa semana é importante porque vamos fazer esse debate na Câmara”.

O Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT é um órgão colegiado, faz parte da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e atualmente corre o risco de sofrer desmontes pela Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que já expôs diversas vezes não se importar com as pautas da população LGBT.

Homenagem ao ex-presidente Lula

Janaína afirmou também que na segunda-feira (24) e na terça-feira (25) serão realizadas atividades em Brasília com homenagens a Lula. “Faremos homenagens a ativistas, imprensa, figuras que atuaram em defesa da luta da população LGBT, inclusive o Lula é um dos homenageados e a sua filha Lurian irá receber a homenagem no nome dele, e no dia seguinte iremos na Câmara debater a memória, verdade e justiça através do nosso olhar”.

A escolha do ex-presidente Lula como uma das pessoas que mais contribuiu para a causa LGBT foi feita através de voto popular.

Em 2003, uma de suas primeiras medidas no governo foi transformar a Secretaria de Direitos Humanos em Ministério, o que colocou os Direitos Humanos no mesmo patamar das outras áreas do Executivo. Isso pôde abrir espaço para a defesa dos direitos dos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais no país.

Outra ação muito importante para a comunidade LGBTI foi a realização da 1ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos LGBT, em 2008, considerada um marco histórico. Convocada por decreto presidencial, foi a primeira a ouvir em âmbito nacional as demandas da população LGBTI. O encontro mobilizou governos estaduais, Ministério Público, representantes dos poderes legislativo e judiciário e a sociedade civil organizada.

Revolta de Stonewall

Até o ano de 1962 era crime ser LGBT nos Estados Unidos. Ao longo da década era raro bares e estabelecimentos que recebiam pessoas da comunidade LGBT, mas existia um bar: o Stonewall Inn, que era frequentado por gays, lésbicas, transexuais, bissexuais, travestis e drag queens. Ele frequentemente recebia “batidas policiais” que humilhavam, batiam e prendiam funcionários e clientes, além de fechar o local. Então, em 28 de junho de 1969, a comunidade LGBT cansada desse tratamento se rebelou.

Quando a polícia chegava ao bar as luzes eram acesas, a música desligada e as saídas fechadas, os clientes eram colocados em fila para conferirem seus documentos e separar os que usavam trajes considerados femininos para que policiais mulheres verificassem o gênero. Mas nesse dia os clientes se recusaram a se identificar, foi então que a revolta começou. O primeiro grito de “Poder Gay” veio seguido do coro da canção “We Shall Overcome” (Nós vamos vencer) e logo uma multidão se juntou e resistiu aos abusos da polícia.

A partir daí, ao longo dos dias, multidões cada vez maiores se reuniam durante as noites para resistir contra as leis e a violência LGBTIfóbica do estado americano. Esse movimento deu início a criação de marchas por todo o mundo.

Janaína explicou que “existe uma narrativa de que somente os gays foram atores desse processo, mas na verdade quando fazemos um estudo mais aprofundado vemos que o movimento das travestis e drag queens era o mais forte, e o mais atacado porque usavam vestimentas que não eram permitidas”.

Confira a programação completa da Semana LGBT em São Paulo

20 de junho – Cãominhada da Diversidade, na Praça da República, de 10h às 15h30 – recomendado levar 1kg de alimento

Feira Cultura LGBT, Praça da República, 10h às 22h

Bate-papo sobre literatura LGBT, Praça da República, 10h às 22h

21 de junho – Marcha do Orgulho Trans, Largo do Arouche, 12h às 21h

Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT, Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694), 19h às 20h30

22 de junho – Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais, Masp, 14h às 21h

23 de junho – Parada LGBT,  Avenida Paulista (concentração no vão do MASP), 10h às 18h

Da Redação da Agência PT de Notícias

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