Somados, EUA e Brasil detém quase 40% dos casos de Covid-19 no mundo
Juntas, as duas nações que transformaram-se em epicentro da doença têm 4,1 milhões de infectados e 189,6 mil mortos, cerca de 36,8% da mortalidade pela doença no planeta. Organização Pan-Americana de Saúde prevê saldo de 438 mil mortes na América Latina até outubro, caso países não mantenham medidas de contenção da doença. Brasil registrou 1.272 mortes nas últimas 24 horas e já contabiliza 59.656 óbitos. Número de infectados chega a 1.408.485
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Países com os maiores índices de casos e mortes por Covid-19 no mundo, Brasil e EUA estão pagando um alto preço desde que a pandemia do coronavírus tomou o planeta de assalto, em janeiro. Exemplos mundiais de uma condução catastrófica da crise sanitária, os dois países sofrem as consequências diretas do negacionismo e da imprudência de seus líderes, Jair Bolsonaro e Donald Trump. Somadas, as duas nações transformaram-se em epicentro da doença e respondem por quase 40% do total de casos no mundo, com 4,1 milhões de infectados e 189,6 mil mortos – cerca de 36,8% da mortalidade do planeta.
O caso brasileiro é ainda mais espantoso, dado que o governo teve dois meses de vantagem antes da chegada da tempestade. Alertado desde o início por autoridades mundiais de saúde sobre a letalidade do vírus, Bolsonaro lavou as mãos para a “gripezinha”. O resultado hoje estampa as principais edições dos maiores jornais internacionais: hoje detém, sozinho, 11,5% das vítimas fatais e 13,1% dos casos globais. Um desastre para uma nação que representa apenas 2,7% da população mundial. Nesta terça (30), o consórcio de veículos de imprensa contabilizou 59.656 mortes – 1.272 nas últimas 24 horas – e 1.408.485 contaminados pela doença. Prestes a entrar no quinto mês da pandemia, o Brasil está muito longe de ter o surto sob controle, como indicam análises mais recentes dos dados sobre a disseminação do coronavírus.
Segundo levantamento do Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças, das 33.808 mortes por coronavírus contabilizadas pelo mundo na semana passada, 7.007, ou 20,7%, ocorreram no Brasil. O cálculo foi divulgado pela ‘BBC News’. Pelas projeções, o país ainda pode levar muitas semanas para atingir o pico no número de casos. Até lá, haverá aumento maior de mortes e infecções.
Para o professor associado de epidemiologia e saúde global da Universidade de Michigan, a falta de um discurso uniforme com orientações à população por parte do governo federal prejudicou demais o combate à pandemia no Brasil. “Isso causa confusão na população e faz o respeito às regras ser menor”, afirmou o professor, em depoimento à ‘BBC’.
“Pode ser apontado como a razão pela qual vemos agora particularmente um grande surto como estamos vendo no Brasil, comparável só aos Estados Unidos – e comparável também em uma administração e resposta ruins do governo federal, deixando tudo para os governos e Estados locais”, avaliou Meza. Para piorar, o Brasil irá atravessar o inverno sem ter achatado a curva de contaminações.
A pesquisadora Marília Sá Carvalho, da Fiocruz, concorda. Para ela, faltou articulação entre esferas diferentes. “No início da pandemia o ministro da Saúde teve um conjunto de propostas que teve um impacto, e a epidemia cresceu de forma mais lenta que nos Estados Unidos”, relembrou a pesquisadora, em entrevista à BBC. “A partir de um certo momento, entra outro ministro, e o presidente considera que a covid-19 não é uma doença importante”, observou.
Explosão de casos
A aceleração de casos na América Latina preocupa técnicos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), entidade ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a diretora da entidade, Clarissa Etienne, o Brasil deverá atingir o pico de casos apenas em agosto, assim como outros países vizinhos, como Argentina, Bolívia e Peru. A organização prevê um saldo de 438 mil mortes na região até outubro, caso haja um relaxamento das medidas de isolamento social.
O órgão ligado à OMS defende a manutenção de um conjunto de medidas para a contenção da pandemia, como o uso de máscaras, o confinamento das famílias e a aplicação de testes em massa, a fim de rastrear a evolução da doença. “Devemos estar preparados para ajustar rapidamente o rumo se a situação epidemiológica mudar. Se você está disposto a relaxar as medidas preventivas neste momento, precisará ter a coragem de voltar atrás se as infecções aumentarem”, comentou a diretora da OPAS.
Para Etienne, “[a flexibilização] requer a implementação de um conjunto de medidas de saúde pública [pelos países] para rastrear novos casos e desenvolver capacidade suficiente para detectar e controlar novos surtos”. Ainda sobre os testes em massa, o diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da entidade, Marcos Espinal, criticou o tratamento que o governo brasileiro tem dado ao assunto.
“A OMS constantemente pediu que o Brasil aumentasse a quantidade de teste de coronavírus e que a mensagem seja consistente.” para Espinal, os governadores estão adotando medidas para frear o avanço do vírus mas “falta uma mensagem consistente. Sem isso, a população se confunde”, ressaltou.
Da Redação, com informações de ‘BBC News’ e agências internacionais