Tereza Campello: “A fome voltou por aumento do desemprego e precarização”

Em entrevista ao Correio Braziliense, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome reafirma que o Brasil não voltou ao Mapa da Fome por causa da pandemia

Guilherme Araki/MST

Tereza Campello: “A fome voltou pelo aumento do desemprego e precarização do trabalho”

A má gestão no governo de Bolsonaro foi o empurrão para o Brasil ter voltado ao Mapa da Fome das Nações Unidas. Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, destaca que a fome voltou devido ao aumento do desemprego e precarização do trabalho e não por causa da pandemia da Covid-19.

A entrevista trata do livro Da fome à fome: diálogos com Josué de Castro, organizado por Ana Paula Bortoletto e por Tereza Campello. A obra propõe uma reflexão sobre múltiplos aspectos da insegurança alimentar e as raízes da fome no Brasil.

Para Tereza, assumir a fome como uma questão política não é errado. Ela frisa que o desmonte das políticas públicas no Brasil também contribuiu para que 33 milhões de brasileiros e brasileiras fossem atingidos pela fome e pela insegurança alimentar.

“Errado é fazer o uso dessa tragédia no ponto de vista eleitoral. Se eu pudesse elencar a principal contribuição de Josué de Castro é exatamente esta afirmação: a fome é fruto de decisão política, é reflexo do que você faz ou não faz na economia, nas políticas públicas. De certa forma o que está se trazendo no livro é que não foi a pandemia, foi exatamente a falta da construção de políticas públicas”

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“O país gera fome, obesidade e desmatamento”

A ex-ministra de Combate à Fome no país, entre 2011 e 2016, enfatiza que o Brasil tem um recorde de população em situação de fome, mas também recorde na produção de grãos, recorde de desmatamento e recorde de obesidade. “Parece quatro postos contraditórios, mas que, na verdade, revelam um modelo de país que não consegue alimentar sua população. O país não produz de forma saudável e sustentável: gera fome, obesidade e desmatamento.”

Para ela, o grande dilema é o local da produção alimentar no país. “Quando você fala em fome, as pessoas pensam em produzir comida e quando se fala em falta de acesso pensam em fazer estradas”.

“Na verdade, o ideal seria que a gente pudesse produzir em volta das cidades e não produzindo num lugar distante para ser distribuído, valorizando a cultura local e a agricultura familiar.”

Sobre as consequências da crise socioambiental para a insegurança alimentar no Brasil, Tereza ressaltou o clima, a redução do desmatamento e a preservação do meio ambiente como pontos fundamentais no enfrentamento à crise. “No mundo, a mudança climática e o aquecimento global faz parte de uma agenda central”, aponta a ex-ministra.

“Na maior parte dos países, a poluição é resultado da estrutura de transporte e da forma como se queima energia. No Brasil, 70% das emissões tem a ver com agricultura e a maior parte delas tem a ver com a pecuária. É um debate que não acontece tão fortemente no mundo, mas aqui as mudanças climáticas estão tão vinculadas aos sistemas alimentares.”

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Legado do PT no combate à fome

O combate à fome e à miséria sofre dura regressão desde o golpe contra Dilma Rousseff, em 2016. Graças ao descaso de Temer e Bolsonaro com as áreas sociais, o Brasil foi empurrado de volta ao Mapa da Fome.

Programas sociais dos governos Lula, como o Fome Zero e Bolsa Família, Mais Alimentos e o de Aquisição de Alimentos para a Merenda Escolar são exemplos, inclusive premiados, do legado do PT.

Em 20 de outubro de 2003, o presidente Lula assinava a Medida Provisória nº 132, criando o Bolsa Família. Anos mais tarde, o maior programa de combate à pobreza que já existiu no mundo receberia importantes prêmios internacionais, seria copiado por dezenas de países, incluindo alguns ricos, como a Itália, e, o que é mais importante, ajudaria o Brasil a acabar com a fome.

Hoje, o Bolsa Família não existe mais. Em 9 de agosto de 2021, Jair Bolsonaro cometeu a irresponsabilidade de assinar outra medida provisória, de número 1.061, acabando com o programa. No lugar, colocou uma proposta improvisada chamada Auxílio Brasil.

A dura crise brasileira econômica, social e política diante da pandemia da Covid-19 também trouxe ações do partido como a luta pelo auxílio emergencial e a campanha nacional PT Solidário.

Da Redação, com informações do Correio Braziliense

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