Trump mentiu sobre gravidade da Covid-19 desde o início, revela ‘Washington Post’
Trechos de livro que traz relatos de conversas entre o jornalista Bob Woodward e Donald Trump mostram que ele sabia da letalidade e da alta transmissibilidade do coronavírus desde o fim de janeiro mas minimizou seus efeitos. Repetindo o gesto do ídolo, Jair Bolsonaro também omitiu-se quanto à gravidade da doença, classificando o vírus de “gripezinha”. Oito meses depois, Brasil e EUA registram, juntos, 324,3 mil mortos e 10,7 milhões de casos
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O presidente americano Donald Trump, um populista falastrão, é famoso por declarações desastrosas contra minorias, mulheres, ou que simplesmente demonstram completo desconhecimento sobre determinado assunto. Desta vez, o mundo confirma que Trump é também um mentiroso nato. Segundo relatos do próprio Trump ao jornalista Bob Woodward, publicados no livro ‘Rage’, ainda a ser lançado, o presidente sabia da letalidade e da alta transmissibilidade do coronavírus desde o fim de janeiro. Mas, com a desculpa de não causar pânico na população, minimizou os efeitos pandemia, afirmando o contrário. O resultado é bastante conhecido: oito meses depois da chegada do vírus, os EUA beiram as 200 mil mortes em decorrência da doença, além de liderar o número de infectados, com 6,5 milhões de contaminações.
Não se sabe se Trump manteve a mentira oficialmente para seu maior fã, o presidente Jair Bolsonaro. No entanto, os dois minimizaram os efeitos da doença desde o anúncio, feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março, de que o mundo enfrentava uma pandemia. Bolsonaro repetiu, desde então, o pensamento de cunho negacionista do norte-americano. Não à toa, a omissão do par brasileiro foi responsável por transformar o Brasil em epicentro da pandemia na América Latina.
Segundo áudio divulgado pelo jornal ‘Washington Post’, em conversa com o repórter, Trump demonstrou conhecimento sobre a gravidade da doença, reconhecendo, em fevereiro, que o coronavírus é “mais mortal inclusive que uma gripe intensa. Isto é algo fatal”, afirmou.
Em março, Trump voltou ao assunto com o repórter, mundialmente conhecido por escrever as reportagens do caso ‘Watergate’ que culminaram na renúncia de Richard Nixon à Presidência dos EUA, em 1974. “Sempre quis minimizar sua importância”, confessou. “Ainda gosto de minimizar porque não quero criar pânico”, relatou Trump a Woodward em uma gravação divulgada pela ‘CNN’.
“Gripe qualquer” ou “resfriadinho”
Dias após a conversa, o presidente disse que tinha planos para reabrir atividades nos EUA no domingo de Páscoa. Segundo reportagem do ‘El País’, Trump vinha insistindo, semanas antes, que o coronavírus não passava de uma gripe qualquer. As declarações foram prontamente adaptadas pelo admirador brasileiro. À época, Bolsonaro referiu-se ao coronavírus como “gripezinha” ou “resfriadinho”.
A menos de dois meses das eleições presidenciais, as revelações do ‘Post’ abalam ainda mais as chances de reeleição de Trump, cuja imagem sofreu enorme desgaste com a crise sanitária. Os trechos divulgados pelo jornal viraram a munição principal do arsenal democrata contra o republicano para derrotá-lo no pleito de 3 de novembro.
Ameaça à segurança nacional
“Donald Trump sabia. Mentiu-nos durante meses. E, embora uma doença mortal tenha arrasado a nossa nação, ele não fez seu trabalho… de propósito. Foi uma traição de vida ou morte ao povo norte-americano”, disse o candidato rival à Presidência, Joe Biden.
O ‘Washington Post’ destaca na reportagem que Trump participou de uma reunião de emergência sobre a pandemia no final de janeiro, de acordo com a história relatada por Woodward no livro. Na ocasião, o presidente fora informado de que o surto atingiria proporções semelhantes à da chamada Gripe Espanhola, de 1918. “Isto será a maior ameaça à segurança nacional que o senhor enfrentará na sua presidência”, alertou o assessor de Segurança Nacional, Robert O’Brien, ainda segundo trechos do livro de Woodward revelados pelo jornal em primeira mão.
Repetição da tragédia no Brasil
Apesar disso, de acordo com a apuração do escritor feita junto às fontes ouvidas para o livro, “Trump nunca pareceu disposto a mobilizar totalmente o governo federal e continuamente parecia empurrar os problemas para os estados”. Em suas investigações, Woodward descobriu que simplesmente “não havia uma teoria de gestão real do caso ou como organizar uma grande empresa para lidar com uma das emergências mais complexas que os Estados Unidos já enfrentaram”.
Similarmente, Bolsonaro repetiu a tragédia americana no Brasil, apesar de ter em mãos pelo menos dois meses a mais, em relação aos americanos, antes que a pandemia irrompesse em solo nacional, no final de fevereiro. Do mesmo modo, o presidente brasileiro fora alertado sobre a gravidade do surto tanto pelo Agência Brasileira de Informação (Abin) quanto pelo corpo técnico do Ministério da Saúde. Mas nada fez. Ao contrário, tratou de demitir dois ministros da pasta e deixou que o vírus circulasse sem nenhuma tentativa de controle federal.
Quase oito meses depois, Brasil e EUA registram, juntos, o catastrófico número de 10,7 milhões de casos da doença e 324,3 mil mortos.
Da Redação, com informações de ‘El País’