TVPT Elas Por Elas e Dia do Estudante: Os desafios da nova geração

Quatro jovens do movimento estudantil compartilham as dificuldades de ser mulher e dirigente na luta em defesa da educação

Nessa quinta-feira, 14, o programa Elas Por Elas da TVPT comemorou o Dia do Estudante e trouxe quatro jovens do movimento estudantil para falar sobre os desafios da nova geração. Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT, conduziu a transmissão ao vivo com a participação de Élida Elena, Levante Popular da Juventude, Ingrid Guzeloto, diretora LGBT da UNE, Rozana Barroso, presidenta da UBES, e Elis Regina Gonçalves, da Juventude do PT.

Ao longo dos governos do PT, o investimento na Educação Superior ampliou e democratizou o acesso às universidades em todo país, permitindo a popularização das universidades para a classe trabalhadora. Esse movimento pluralizou o perfil estudantil no Ensino Superior com mais mulheres, mulheres negras, indígenas, trabalhadores e trabalhadoras, abrindo espaço para que a direção entidades estudantis também representasse essa diversidade.

No entanto, as relações dentro e fora das universidades continuam sendo marcadas por machismo, racismo estrutural e o sistema patriarcal. Élida Elena, do Levante, reflete sobre as contradições diárias das mulheres nas entidades estudantis.

“A nossa geração, como o ME passou por esse processo de democratização, há muito mais mulheres nesses espaços do que antes. A gente conseguiu exercitar a pauta do feminismo na sociedade e  fazer uma pressão desse debate dentro das organizações. No entanto, enfrentamos diversas contradições — como esse peso da cobrança que as mulheres introjetam de forma mais acentuada, porque somos mais cobradas, temos que comprovar a todo momento que somos boa e ter capacidade política”, pontua.

A permanência nas universidades também tem sido outro fator que pauta a luta diária em defesa da educação pública de qualidade. Ingrid Guzeloto, da UNE, apontou que conciliar a vida de trabalho e cuidado para seguir estudando só é possível porque, além do acesso, várias políticas públicas foram desenvolvidas para garantir que a estudante permaneça e termine os estudos. O reflexo disso, reforçou Ingrid, é constatar a presença maciça de mulheres em cursos que antes eram predominantemente de homens. E, mesmo assim, a violência ainda é uma questão dentro das universidades, tanto em relação às mulheres quanto em relação à população LGBT. Por isso, manter-se na militância tem sido uma forma de enfrentar essa realidade machista, racista e homofóbica.

” Eu entrei no PT porque eu olhava para o lado e via mulheres que representavam uma história vívida do que eu queria para esse país. E hoje eu olho para as minhas companheiras jovens que estão ao meu lado no dia a dia e tenho a certeza de que estamos no caminho certo”, Ingrid Guzeloto.

Não é só na universidade que o machismo e o racismo imperam. Rozana Barroso, presidenta da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), contou sobre as dificuldades das mulheres negras de se legitimarem enquanto dirigentes dentro e fora do campo progressista. ” Quando se é mulher e negra, as coisas pioram. Hoje, a parte mais difícil é desconstruir nossos próprios companheiros. Muitas vezes, precisamos reforçar que feminismo não é assunto só de mulheres, e eles precisam estudar e aprender para respeitar, não só a gente, mas todas as mulheres com quem se relacionam”, reforçou.

Dos processos externos, Rozana conta que até o tipo de “ataque” contra o jovem dirigente é diferente quando se trata de homem ou mulher.

“O Iago [dirigente estudantil] é muito atacado pelo Weintraub porque ele não se formou, inventaram que ele tinha 34 anos, e ele até postou o histórico escolar com as notas para provar. Mas pra mim e pra outras mulheres, o tipo de ataque é diferente. É do tipo: ‘ouh, você não tem uma louça pra lavar, não?’ Ninguém fala pra gente “ouh, vai terminar de estudar [como diziam para o Iago], eles dizem ‘você está sem louça pra lavar, nenhum homem te quer'”.

Dentre os obstáculos enfrentados pelas mulheres negras, Elis Regina abordou a própria dificuldade de reconhecimento social imediato pelo cargo que ocupa. “Ninguém, nem na reitoria, nem em sindicatos, por exemplo, quando me viam, achavam que eu era a coordenadora do DCE da UFMS”, relatou. Foi na universidade federal que Elis contou ter descoberto o racismo e o machismo operando ao mesmo tempo.

“Várias vezes tive que conversar com reitores e pró-reitores, eu chegava no início pra conversar e o reitor e a pró-reitora passavam por mim, cumprimentavam todo mundo, menos eu. Era como se eu não existia. Até avisarem que eu era a coordenadora esperando pela reunião  e eles, claramente constrangidos, tentavam consertar, porque sequer passava pela cabeça deles que uma pessoa como eu, seria a dirigente do DCE”, contou.

Por fim, Anne Moura compartilhou sua experiência e dificuldades da militância estudantil, quando iniciou sua trajetória política. Apesar das diferenças geracionais e das pautas conjunturais mudarem de acordo com a dinâmica de cada tempo histórico, a luta contra o racismo, o machismo e a homofobia permanecem uma trincheira a ser levantada todos os dias — dentro e fora das organizações.

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