Veja o que os demitidos por Bolsonaro disseram sobre a cloroquina

A infectologista Luana Araújo é a quarta pessoa dispensada por Bolsonaro após se posicionar ao lado da ciência sobre a cloroquina. Defesa intransigente da droga pelo presidente precisa ser explicada

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No governo Bolsonaro, citar a ciência é motivo de demissão

A obsessão de Jair Bolsonaro pela defesa da hidroxicloroquina e outras drogas que a ciência já demonstrou não serem eficazes contra a Covid-19 é um capítulo da criminosa gestão da pandemia que ainda precisa ser devidamente explicado. É impossível crer que se trate de falta de informação do atual presidente (dados sobre o tema não faltam mais) ou de simples “cegueira ideológica”.

A CPI da Covid, instalada no Senado, pode elucidar essa questão. Por ora, o que se sabe é que o presidente, mesmo com todas as evidências em contrário, segue pregando um inexistente tratamento precoce à base dessas drogas e que não aceita em seu governo, ao menos em cargos importantes da Saúde, pessoas que se manifestem de acordo com o que diz a ciência.

Já são dois ministros (Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich) e uma secretária (a infectologista Luana Araújo) demitidos da pasta da Saúde após simplesmente repetir o que os estudos mais robustos sobre o tema concluíram: que essas drogas não previnem nem tratam a Covid-19. Além disso, uma outra médica, a cardiologista Ludmila Hajjar, foi rejeitada antes mesmo de se tornar ministra. Não passou de uma reunião prévia com Bolsonaro.

Em contrapartida, o general Eduardo Pazuello se tronou o mais longevo ministro de Bolsonaro após aceitar assinar protocolo que recomenda a droga. E Mayra Pinheiro, a Capitã Cloroquina, também segue firme e forte no ministério, desde o começo do governo.

Veja a seguir o que os quatro disseram sobre o uso da cloroquina antes de Bolsonaro afastá-los:

Luiz Henrique Mandetta

“Esse medicamento (hidroxicloroquina), se tomado, pode dar arritmia cardíaca e paralisar a função do fígado, então se sairmos com a caixa na mão e falar ‘pode tomar’, nós podemos ter mais mortes por mau uso de medicamento do que pela própria virose, então não façam isso”

Em 28 de março de 2020, durante entrevista coletiva

“Eu acho que fake news é uma coisa e uso político da informação é outra coisa, porque ela vem com verniz e se capta porta-vozes para isso. Você tem que ter muita resistência. Como foi o episódio cloroquina, a gente vê um estudo in vitro, logicamente não tem aplicabilidade imediata, mas ele se prestou muito para um discurso político.”

Em 16 de abril de 2020, dia em que foi demitido

Nelson Teich

“A cloroquina hoje ainda é uma incerteza. Você teve alguns estudos iniciais que sugeriram benefício, mas existem estudos hoje que falam o contrário. Eu tenho (contato com) uma pessoa, que é o presidente da Novartis, empresa que produz a hidroxicloroquina lá na China. Eles tiveram uma rodem de trabalhar 24 por 7 na produção da hidroxicloroquina, mas isso foi suspendido bruscamente. E, conversando com ele, os dados preliminares que têm na China é que teve uma mortalidade alta e que, certamente, o remédio nnao vai ser um divisor de águas em relação à doença”

Em 29 de abril de 2020, em audiência no Senado

“Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o Termo de Consentimento antes de iniciar o uso da cloroquina.”

Em 12 de maio de 2020, pelo Twitter

Luana Araújo

“Quando você emite uma opinião na ciência é porque está te faltando informação. E, quando te falta uma informação, você faz um estudo para descobrir o que está acontecendo. Então, o que a ciência fala hoje, não é minha opinião, mas o que a ciência mostra hoje: que nenhuma dessas medicações tem qualquer efeito positivo no combate à Covid.”

Durante live na internet

Ludmila Hajjar

“Cloroquina não é vacina. Está sendo vista como salvadora, e não é. Mas se você fala isso, já começa a apanhar porque virou uma questão nacional de pressão. Mas a realidade científica é essa, não tem evidência”

Em 12 de abril de 2020, 11 meses antes de ser cotada para o ministério e poucos dias após integrar uma comitiva de médicos que discutiu o uso da droga com Jair Bolsonaro, em Brasília

“Não podemos tratar as pessoas com base em ideologias. A cloroquina, por exemplo, que foi extremamente ideologizada no início da pandemia, não serve para a Covid-19. Está completamente comprovado cientificamente. É uma medicação excelente para tratar outras doenças, mas os estudos mostraram que, tanto a hidroxicloroquina, quanto a cloroquina, não possuem eficácia na prevenção e no tratamento do coronavírus”

Em 23 de novembro de 2020, durante entrevista para a rádio

Da Redação

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