Bolsonaro não sabe, mas o MST é o maior produtor de orgânicos do Brasil

Mesmo sob ameaça do presidente eleito, trabalhadores rurais se destacam pelos produtos livres de agrotóxicos. Movimento é o maior produtor de arroz orgânico da AL

Ricardo Stuckert

Visita ao viveiro de mudas do MST em Periquito (MG)

Poucos dias após ser eleito, Jair Bolsonaro mais uma vez resolveu debochar e fazer ameaças criminosas aos movimentos sociais, em especial o MST. “A hora de vocês vai chegar. A atividade de vocês é terrorista!”, esbravejou. A declaração do militar, mais do que irresponsável, escancara a falta de informação do futuro presidente eleito sobre o premiadíssimo movimento rural e hoje maior produtor de orgânicos do país.

Atacar o MST, portanto, é como atirar pedras na principal vitrine brasileira quando o assunto é alimentos livres de agrotóxicos.  Mas para chegar ao topo não foi da noite para o dia. Embora desde a sua origem o movimento tenha se engajado na excelência agroecológica, foi a partir de 2014 que a prática ganhou o reforço de conceitos teóricos que passaram a direcionar toda a atuação dos agricultores.

Decisão que,  na visão do professor do departamento de Ciência Florestais da Esalq-USP, Marcos Sorrentino,“tem um poder simbólico muito grande, capaz de conseguir a adesão de muitos agricultores”, conforme relatou em entrevista ao Nexo em agosto.

Hoje, com estrutura organizada em cem cooperativas, 96 agroindústrias e 1,9 mil associações, o MST tem chamado a atenção do mundo.  Ao lado dos agricultores familiares, os assentados respondem por ao menos 8 em cada 10 alimentos orgânicos produzidos em terras brasileiras, o que os torna os grandes protagonistas do crescimento vertiginoso do setor nos últimos anos. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no ano passado foram registradas 15,7 mil unidades com plantio orgânico no país, mais do que o dobro das 6,7 mil computadas em 2013.

Além disso, o grupo ainda tem conseguido levar sua matéria-prima para diversos países da América Latina, América do Norte, Europa e Oceania – ao menos 30% da safra atende ao mercado internacional.  Ao todo, o movimento abrange mais de 350 mil famílias assentadas, distribuídas em aproximadamente 700 municípios brasileiros.

Produção de arroz orgânico do MST em Viamão (RS)

Arroz de primeira

A aposta em produtos mais saudáveis, saborosos e sustentáveis também transformou o MST no maior produtor de arroz orgânico da América Latina, com quase trinta mil toneladas na safra de 2017. O produto é o resultado do trabalho de 501 famílias do MST  que vivem em 21 assentamentos de 16 municípios gaúchos.

De acordo com o próprio movimento, a produção, industrialização e comercialização do arroz são planejadas e executadas pelos próprios camponeses. O grão, que é certificado como orgânico, chega às feiras e ao mercado por meio da marca ‘Terra Livre’. Mas a maior parte é comercializada via iniciativas institucionais, como o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE).

Criado em 1997, O PNAE renasceu durante o governo Lula a partir da Lei da Merenda Escolar de 2009 que obriga que as escolas municipais ofereçam ao menos 30% de suas refeições da agricultura familiar.

Da Redação da Agência PT de Notícias

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast